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17/06/2005

Cai infecção dos mosquitos pelo parasita da filariose

Paula Lourenço


O programa para a eliminação da filariose da Prefeitura do Recife está surtindo efeito nos mosquitos transmissores da doença, conhecidos popularmente na capital pernambucana como muriçocas. Estudo do Departamento de Entomologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) - unidade da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco - verificou uma redução de quase dez vezes na taxa de infecção do Culex quinquefasciatus (nome científico do mosquito) pelo parasito Wuchereria bancrofti (causador da filariose), depois que parte da população do bairro de Água Fria foi submetida ao tratamento em massa com o remédio contra a enfermidade, a dietilcarbamazina (DEC).

A queda foi de 2,59% para 0,27% na prevalência dos mosquitos com o parasito, que foram encontrados nas residências. O programa da prefeitura ocorre desde 2003, para atender o objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminar a filariose no planeta até 2020. Além do uso em massa da DEC, os agentes de saúde estão tratando os criadouros dos mosquitos com a aplicação do larvicida biológico (Bacillus sphaericus) e, quando possível, eliminando-os com medidas de saneamento básico.

Os dados preliminares do estudo do CPqAM foram obtidos após a análise genética dos insetos, com a técnica de PCR (Polimerase Chain Reachion - reação em cadeia da polimerase). Os vetores da filariose foram coletados por agentes de saúde da prefeitura do Recife nos bairros que fazem parte do programa. A captura foi realizada durante dez meses. A verificação da taxa de infecção desses insetos integra a monografia de conclusão do curso de especialização em Biologia Molecular de Lílian Vieira de Barros, biomédica e estudante da Universidade de Pernambuco (UPE).

Lílian é orientanda da pesquisadora do Departamento de Entomologia do CPqAM, a bióloga Constância Ayres. O trabalho da estudante faz parte do projeto "Aplicação de ferramentas moleculares para a avaliação do desempenho de um programa de controle da filariose", elaborado pela pesquisadora e contemplado, em maio, na lista adicional do Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Genética

Além de verificar a taxa de infecção dos mosquitos, o projeto pretende analisar a perda da variabilidade genética dos insetos vetores da W. bancrofti e observar a resistência dos Culex quinquefasciatus ao uso de biolarvicida. Embora o financiamento tenha sido aprovado recentemente, o trabalho vem sendo feito desde 2003 por um convênio entre a Prefeitura do Recife e o CPqAM. "Vamos fazer o monitoramento do programa da prefeitura enquanto durar o projeto", disse Constância.

Afora os resultados em relação à infecção, o estudo avançou nos dados sobre a perda da variabilidade genética dos mosquitos. "Chegou-se a 90% o nível de poliformismo genético (a variabilidade do genoma) dos mosquitos coletados antes e durante o tratamento dos criadouros com o biolarvicida", explicou a bióloga. Na quarta coleta dos Culex quinquefasciatus, no oitavo mês após o tratamento, o índice caiu para 73%.

No entanto, em abril passado, quando choveu nos 26 dos 30 dias do mês, essa variabilidade genética voltou a subir, atingindo 100%."O período chuvoso dificulta a ação do Bacillus sphaericus", complementou a bióloga. Essa parte da pesquisa consiste na monografia da aluna de ciências biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marina Cartaxo, que também é orientanda de Constância. Segundo a pesquisadora, o projeto com base em ferramentas genéticas é importante porque possibilita resultados mais precisos para as secretarias de saúde trabalharem no monitoramento da doença.

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