29/09/2016
Regina Castro (CCS/Fiocruz) e Gardênia Vargas (CDTS/Fiocruz)
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz desenvolveram um dispositivo capaz de interromper lesões cerebrais em recém-nascidos com falta de oxigênio. O problema, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é responsável pela morte de quatro milhões de bebês todos os anos. O invento é uma lâmina que, rapidamente, se torna um capacete flexível, resfriando o local da lesão cerebral, interrompendo o aumento de temperatura local e o progresso de lesões no cérebro de recém-nascidos que têm asfixia. Assim evita processos irreversíveis ou até a morte.
Dispositivo é indicado para resfriar o cérebro de recém-nascido em situação de risco (imagem: Divulgação)
O equipamento armazena um gás que permite ao cérebro continuar funcionando normalmente. O tratamento pode durar até quatro horas, tempo para que a criança possa chegar ao hospital. O dispositivo é indicado para resfriar o cérebro de recém-nascido em situação de risco, contribuindo para evitar mortes por asfixia em crianças nascidas de partos em situação inadequada. Também pode ser um diferencial em regiões com rede de saúde precária.
O resfriamento do cérebro é uma técnica existente no mundo inteiro, informa o pesquisador da Fiocruz Renato Rozental, especialista em neurociências e neurologia do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), que lidera os estudos. A inovação do capacete flexível, esclarece ele, está na facilidade: pequeno e leve, o aparelho pode ser levado para qualquer lugar, e no fato de que independe de energia elétrica, baterias ou água corrente.
“Poderá ser usado até nas maternidades. Hoje o recém-nascido em situação de risco tem o corpo todo submetido a baixas temperaturas, o que pode desencadear arritmias cardíacas e disfunções de coagulação sanguínea. Com o aparelho, o tratamento pode ser localizado apenas na cabeça. No momento, o invento depende de financiamento para chegar ao mercado. Mas, com apoio, teremos esse aparelho à disposição do SUS em dois anos”, afirmou Rozental.
O prêmio
Selecionado entre 750 projetos de 78 países, a iniciativa trouxe para a UFRJ e a Fiocruz o diploma de reconhecimento científico da inovação tecnológica. O dispositivo ganhou o prêmio de voto popular no Saving Lives at Birth: A Grand Challenge for Development, em Washington, do consórcio composto pela Fundação Bill & Melinda Gates, US AID, UK AID, Grand Challenges Canada, Coreia e Banco Mundial.
O concurso seleciona candidatos de diversos países com o objetivo de melhorar as condições de atendimento materno-fetal em regiões desprovidas de assistência médico-hospitalar e recursos básicos de infraestrutura. Este ano, 49 candidatos foram selecionados, de universidades e centros técnicos de renome internacional, como Harvard, Yale, Cornell, Oxford e Massachusetts General Hospital, entre outros. O consórcio estimula o desafio de encontrar ferramentas e abordagens necessárias para apoiar mães e neonatos no momento mais vulnerável dos dois: o trabalho de parto em regiões carentes.