21/09/2012
Marina Lemle
Quase cem cidadãos brasileiros com perfis bem diversificados participaram da edição nacional do Visões Globais sobre Biodiversidade (World Wide Views on Biodiversity), realizado na Fiocruz. O evento ocorreu simultaneamente em 25 países, sendo 19 países em desenvolvimento - seis destes na África, três na América Central e Caribe e dois na América do Sul - além do Brasil, participou a Bolívia. O objetivo é fornecer aos formuladores de políticas públicas informações sobre as opiniões dos cidadãos a respeito de questões sobre biodiversidade, com enfoques global e local. No Brasil, o evento foi promovido pelo Museu da Vida da Fiocruz. Após assistir a vídeos sobre temas específicos, os participantes debatiam as questões em grupos e depois votavam. Todos os países discutiram as mesmas questões, elaboradas pelo Conselho Dinamarquês de Tecnologia. Os votos de todos os países serão contabilizados num único relatório, que será entregue aos tomadores de decisões da 11ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP 11), em outubro, na Índia.
|
De aproximadamente de 650 pessoas contactadas, cerca de 550 se registraram e preencheram um formulário online para participar do evento. Destas, pouco mais de 90 foram escolhidas (Foto: Peter Ilicciev) |
Na abertura do evento, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, disse que a iniciativa inova na forma de promover a consulta pública à população, pois abre espaço para diferentes opiniões em relação a temas contemporâneos centrais. “A diversidade social, étnica, de visões do campo, religiosas e do processo de educação formal dos convidados representa uma amostra da sociedade”, disse. Ele ressaltou também a importância do tema – a biodiversidade no futuro da humanidade. “Para nós, da saúde, este debate tem uma relevância enorme, mas muitas vezes essa conexão biodiversidade-saúde, tão evidente para nós, não está clara para o conjunto da população e nem para os gestores que lidam com áreas centrais nessa interface. A relação é de primeira importância, porque hoje a melhor forma de controle de doenças é a manutenção da biodiversidade”, atestou. De acordo com Gadelha, a malária, a leishmaniose e outras doenças emergentes aparecem em humanos porque os patógenos já não têm mais por onde circular. “A rarificação dos vetores e dos hospedeiros faz com que eles entrem em contato e tenham a população humana como uma das suas únicas possibilidades de perpetuação, provocando novas doenças que antes estavam restritas a um ecossistema mais rico em biodiversidade”, explicou.
Segundo o presidente da Fiocruz, a redução da biodiversidade também impacta negativamente o potencial viável, promissor e rico de identificação de princípios ativos, desenvolvimento de produtos farmacêuticos e utilização de produtos naturais no tratamento de doenças. “A biodiversidade está em tudo no campo da saúde e muitas vezes essa percepção não é clara nem para a população nem para os próprios agentes de saúde. Então começamos aqui um processo de conscientização e um experimento que deve ser replicado para termos no país uma maior aproximação entre a definição de políticas públicas e a participação da sociedade”, disse.
Também presente ao evento, o senador Rodrigo Rollemberg (PSOL-AP), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, afirmou que o Brasil, detentor de 13% da biodiversidade do planeta, com cerca de 100 milhões de espécies, tem uma responsabilidade cada vez maior de proteger os recursos naturais e usá-los de forma sustentável e inteligente. “É uma questão de sobrevivência e um compromisso com as próximas gerações”, completou. Segundo Rollemberg, o bioma do Cerrado é um exemplo, já que concentra 5% da biodiversidade do mundo, mas 50% dele já foi desmatado. “O Cerrado é um laboratório de genes de plantas muito adaptáveis às mudanças climáticas e ao aquecimento global e que só existem nesse bioma. É também um grande centro de produção de alimentos para o mundo, com grande importância para a sustentabilidade da agricultura tropical”, enfatizou. O senador colocou a Comissão de Meio Ambiente do Senado à disposição para o debate e disse que a contribuição da sociedade civil será levada à Conferência COP 11.
Para a coordenadora do Museu da Vida, Luisa Massarani, o fato de o Senado ser um parceiro na iniciativa é simbólico, porque mostra que não se trata de um mero exercício de cidadania, sem impacto na tomada de decisão. “A Comissão do Meio Ambiente do Senado está ouvindo a voz do cidadão brasileiro”, ressaltou. Luisa explicou que, para selecionar os participantes, foi feita uma chamada entre atores-chave para identificar pessoas de perfis variados que pudessem representar a diversidade do Brasil. De aproximadamente de 650 pessoas contactadas, cerca de 550 se registraram e preencheram um formulário online. Destas, pouco mais de 90 foram escolhidas. “Tem gente que viajou mais de 12 horas para estar aqui. São pessoas que estão realmente a fim de contribuir”, contou.
Publicado em 18/9/2012.