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10/10/2008

Comer peixe sim, mas sem os riscos da exposição ao mercúrio

Fernanda Marques


Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) analisaram a concentração de mercúrio no tecido muscular de duas espécies de peixe: o tubarão azul (Prionace glauca) e o espadarte (Xiphias gladius). Eles analisaram 47 exemplares de P. glauca e 47 de X. gladius. Do total de 95 peixes estudados, 62% apresentavam mais de 0,5 micrograma de mercúrio por grama de carne e, portanto, não estavam próprios para consumo humano, segundo o limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os resultados do estudo estão em um artigo da edição de setembro da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 O tubarão azul e o espadarte (acima) abastecem tanto mercados nacionais quanto internacionais

O tubarão azul e o espadarte (acima) abastecem tanto mercados nacionais quanto internacionais


Contudo, os autores do trabalho lembram que o limite da OMS se aplica para um consumo de até 400 gramas de peixe por semana para um adulto de 60 quilos. Em outras palavras, mesmo que a concentração de mercúrio do peixe esteja dentro do limite da OMS, esse alimento pode oferecer risco ao consumidor, se ele ingerir mais de 400 gramas dessa carne numa semana. Essa é uma questão importante para ser levada em conta, pois o consumo de peixe varia muito de acordo com a região do país, o nível sócio-econômico e os hábitos individuais.


Comunidades litorâneas e ribeirinhas, por exemplo, costumam ter um consumo elevado de peixe e, portanto, a tendência é que elas sejam mais afetadas pela contaminação desse alimento por mercúrio. Uma pesquisa feita com populações ribeirinhas da Amazônia mostrou que cada indivíduo ingeria, em média, 850 gramas por semana, ou seja, mais que o dobro da quantidade usada no cálculo da OMS. Outro estudo revelou que, em épocas de pesca abundante, essa ingestão pode alcançar três quilos semanais.


“Justificam-se, portanto, estratégias de comunicação de risco dirigidas a essas populações para maximizar os numerosos benefícios do consumo de peixe e minimizar os perigos decorrentes da exposição ao mercúrio e a outros poluentes”, recomendam no artigo os biólogos Adriana Dias, Jean Guimarães, Olaf Malm e Paulo Costa. O mercúrio pode, por exemplo, prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso em fetos e recém-nascidos. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 10 mil toneladas dessa substância sejam lançadas anualmente no meio ambiente. A contaminação do ambiente marinho por mercúrio é considerada potencialmente perigosa.


Coletadas no litoral das regiões Sul e Sudeste nos anos de 2001 e 2002, as duas espécies de peixes marinhos estudadas pelos pesquisadores da UFRJ têm valor comercial e ecológico. Comercial porque elas são usadas para consumo humano e abastecem tanto mercados nacionais quanto internacionais. Ecológico porque ambas as espécies são de grande porte, estão no topo da cadeia alimentar marinha e acumulam em seus tecidos todo o mercúrio presente nos peixes menores dos quais elas se alimentam (é por isso que há mais mercúrio nos peixes de grande porte).


Dessa forma, para preservar o bom hábito de comer peixe sem o efeito nocivo do mercúrio, é preciso manter a população sempre informada sobre os níveis do poluente no alimento, possibilitando selecionar as espécies de peixe que, em cada período, apresentam concentrações de mercúrio seguras para consumo humano. Além disso, há indícios de que pessoas com maior ingestão de frutas, como laranja e banana, têm menor carga corporal de mercúrio. “Seria oportuno estudar as frutas mais consumidas em diferentes áreas costeiras do país e seu eventual efeito regulador sobre a exposição ao mercúrio”, ressaltam Adriana e co-autores. “Estimular o consumo de frutas poderia ser um recurso adicional para reduzir a exposição ao mercúrio sem afetar o consumo de peixe”.


Publicado em 10/10/2008.

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