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20/08/2006

Conduzindo Arouca

Ricardo Valverde




















Ana Limp/Fiocruz




Geraldo Aleixo abraçado

à estátua de Arouca

Durante três anos ele trabalhou como motorista de um dos mais importantes personagens da saúde pública brasileira. E por conta dessa atuação conviveu com sanitaristas, pesquisadores, políticos e até personalidades internacionais, como o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu e os ex-presidentes François Mitterrand, da França, e Mario Soares, de Portugal - para os quais serviu de motorista nas visitas em que fizeram ao Rio de Janeiro. Hoje aposentado e com 68 anos, Geraldo Aleixo Carvalho, mais conhecido pelo apelido de "Tabaco", lembra com saudade do período (três anos) em que foi o condutor oficial do então presidente da Fiocruz Sergio Arouca. Se fosse vivo, Arouca completaria 65 anos neste domingo (20/08).

Após trabalhar por 26 anos na Fundação, Tabaco se aposentou em 1991. Mineiro de Juiz de Fora, ele veio para o Rio com 29 anos. Em sua cidade natal ele atuou como lavador de carros em uma agência de automóveis, faxineiro, servente, pedreiro e até como formador de meia - aquele profissional que ajusta a meia na fábrica. Com apenas a quarta série primária no currículo, Geraldo decidiu se mudar para o Rio, onde já morava sua irmã. Ele alugou um quartinho na Ladeira do Barroso e foi procurar emprego, recorrendo à grande legião de mineiros que tinha vindo tentar a sorte no Rio na época e que, ao contrário do que dizia o ditado popular, era solidária com os conterrâneos. Por meio de amigos, conseguiu uma indicação para o Instituto Oswaldo Cruz - que anos mais tarde se tornou a Fundação. Ele começou em Manguinhos como lavador de bandeja no refeitório do Instituto. Mas como sabia dirigir e tinha carteira, um tempo depois fez teste e passou a dirigir caminhões, carros, ônibus e até ambulâncias. Mas era uma época bem diferente.


"A instituição não era como hoje. Os salários, por exemplo, às vezes atrasavam até sete meses. Uma caminhonete Rural vinha até Manguinhos nos pagar. Só que o carro quebrava muito e nem sempre chegava... eu e muitos outros vivíamos nas mãos de agiotas para poder ter dinheiro", recorda Tabaco.








Ana Limp/Fiocruz


 


A situação começou a mudar quando, nos anos 70, assumiu a presidência da já então Fundação Oswaldo Cruz o economista Vinicius Fonseca. Ele arrumou a casa, regularizou salários, conseguiu aumentos, trouxe recursos para a pesquisa científica e botou a Fiocruz nos trilhos - e Arouca, depois de Fonseca, fez desse trem novamente em movimento uma potência na área da saúde pública. Foi com a ascensão de Arouca à presidência da Fundação que os caminhos de ambos se encontraram. Indicado pelo diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), Ernani Braga, para quem dirigia, Tabaco se tornou motorista do novo presidente, Sergio Arouca. E se encantou com Arouca.


"Foi o melhor presidente que a Fundação já teve. Era humano, competente e procurava sempre o bem-estar dos servidores. Fiquei tão fã dele que quando soube que o Arouca estava doente me prontifiquei a dirigir para ele sem receber nada", lembra Tabaco, que perdeu a conta de quantas vezes o "chefe" o chamou para tomarem uísque juntos, após longas e exaustivas reuniões nas quais Arouca e outros decidiam os destinos da Reforma Sanitária brasileira. "Arouca era uma pessoa muito simples, que fazia questão de viajar na frente do carro, ao meu lado, e não atrás, como a maioria dos dirigentes", conta Tabaco, que ganhou esse apelido porque era tão sensível aos encantos femininos quanto um personagem de TV famoso na época.


Essa fama, que chegou aos ouvidos da esposa, fazia com que ela, que da mesma forma trabalhava na Fiocruz, exigisse, a cada informação recebida a respeito dos flertes do marido, um novo móvel ou eletrodoméstico para a casa. E assim a mobília da residência do casal era constantemente renovada.


Casado com a também mineira (de Santos Dumont) Therezinha Tostes, Tabaco tem dois filhos e cinco netos. Desde 1992 ele mora em Magé, na Baixada Fluminense. Mas volta e meia aparece em Manguinhos para matar as saudades dos muitos amigos que deixou. Neste 20 de agosto, ele é mais a um prestar homenagem a Sergio Arouca, o sanitarista que revolucionou a Fiocruz.


Leia mais:


Biblioteca Virtual Sergio Arouca (http://bvsarouca.cict.fiocruz.br)

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