20/08/2006
Ricardo Valverde
"A instituição não era como hoje. Os salários, por exemplo, às vezes atrasavam até sete meses. Uma caminhonete Rural vinha até Manguinhos nos pagar. Só que o carro quebrava muito e nem sempre chegava... eu e muitos outros vivíamos nas mãos de agiotas para poder ter dinheiro", recorda Tabaco.
A situação começou a mudar quando, nos anos 70, assumiu a presidência da já então Fundação Oswaldo Cruz o economista Vinicius Fonseca. Ele arrumou a casa, regularizou salários, conseguiu aumentos, trouxe recursos para a pesquisa científica e botou a Fiocruz nos trilhos - e Arouca, depois de Fonseca, fez desse trem novamente em movimento uma potência na área da saúde pública. Foi com a ascensão de Arouca à presidência da Fundação que os caminhos de ambos se encontraram. Indicado pelo diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), Ernani Braga, para quem dirigia, Tabaco se tornou motorista do novo presidente, Sergio Arouca. E se encantou com Arouca. "Foi o melhor presidente que a Fundação já teve. Era humano, competente e procurava sempre o bem-estar dos servidores. Fiquei tão fã dele que quando soube que o Arouca estava doente me prontifiquei a dirigir para ele sem receber nada", lembra Tabaco, que perdeu a conta de quantas vezes o "chefe" o chamou para tomarem uísque juntos, após longas e exaustivas reuniões nas quais Arouca e outros decidiam os destinos da Reforma Sanitária brasileira. "Arouca era uma pessoa muito simples, que fazia questão de viajar na frente do carro, ao meu lado, e não atrás, como a maioria dos dirigentes", conta Tabaco, que ganhou esse apelido porque era tão sensível aos encantos femininos quanto um personagem de TV famoso na época. Essa fama, que chegou aos ouvidos da esposa, fazia com que ela, que da mesma forma trabalhava na Fiocruz, exigisse, a cada informação recebida a respeito dos flertes do marido, um novo móvel ou eletrodoméstico para a casa. E assim a mobília da residência do casal era constantemente renovada. Casado com a também mineira (de Santos Dumont) Therezinha Tostes, Tabaco tem dois filhos e cinco netos. Desde 1992 ele mora em Magé, na Baixada Fluminense. Mas volta e meia aparece em Manguinhos para matar as saudades dos muitos amigos que deixou. Neste 20 de agosto, ele é mais a um prestar homenagem a Sergio Arouca, o sanitarista que revolucionou a Fiocruz. Leia mais: Biblioteca Virtual Sergio Arouca (http://bvsarouca.cict.fiocruz.br) |