Início do conteúdo

17/08/2022

Covid-19: Atenção Primária atenuou desigualdades na vacinação no Brasil

Agência Fiocruz de Notícias (AFN)


Ao analisar dados do início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, em 2021, estudo publicado nesta quarta-feira (17/8) na The Lancet Regional Health - Américas indica que a atenção básica foi determinante para atenuar as desigualdades na cobertura vacinal no país. O trabalho foi liderado por pesquisador da Fiocruz, em colaboração com pesquisadores da PUC-Rio, do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Segundo a pesquisa, municípios com baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tiveram menor cobertura vacinal em relação àqueles com alto IDH, mas que essas iniquidades foram atenuadas por conta da presença da atenção primária. A análise aponta também que quanto mais rápido os municípios imunizaram suas populações, mais rápido controlaram a pandemia, com progressão mais lenta nas taxas de óbitos por doses de imunizantes aplicadas.

Os cientistas descrevem o progresso da campanha nacional de vacinação para Covid-19 e a associação entre o desenvolvimento socioeconômico - utilizando como base o Índice IDH - com a taxa de vacinação da primeira dose, considerando o potencial efeito protetivo da cobertura da atenção primária. O período analisado foi entre 17 de janeiro (início da campanha de vacinação contra a Covid-19) e 31 de agosto (antes da administração da dose de reforço) de 2021, com foco na análise da dinâmica da cobertura vacinal da população adulta nos 5.570 municípios brasileiros. Em cada registro disponível no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), analisados no estudo, há informações sobre a demografia da pessoa (idade, sexo e local de residência), plataforma vacinal, dose, data e local de administração da dose.

Inequidades na vacinação

No período analisado, 200.740.725 doses de vacina contra a Covid-19 - de diferentes plataformas - foram administradas no país. Ao final deste período, 63,8% dos adultos haviam tomado a primeira dose e 31% estavam com as duas, sendo que mais de 90% daqueles com 60 anos ou mais estavam com as duas. Segundo o estudo, a cobertura da primeira dose foi diferente entre os municípios com IDH alto, médio e baixo, com 72, 68 e 63 doses por 100 habitantes, respectivamente.

Ao considerar a cobertura da atenção primária associada à vacinação e ao IDH, os pesquisadores perceberam que este foi um fato determinante: municípios com boa cobertura da atenção básica tiveram melhores índices de imunização. Em consequência, municípios com baixo IDH, mas com boa cobertura da atenção básica, conseguiram reduzir mais rápido as taxas de óbitos por doses aplicadas.

Segundo um dos coordenadores do estudo, o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, o foco principal do trabalho foi avaliar se, no período analisado, populações vulneráveis foram vacinadas na mesma dinâmica e velocidade que as de municípios com IDH alto. “Verificamos que esse processo não se deu da mesma forma. A vacinação começou lenta em todos os municípios, mas, assim que houve uma aceleração do processo, aqueles com IDH altos e baixos se separam, mostrando que a vacinação das populações mais pobres não conseguiu avançar na mesma velocidade que as dos municípios de IDH mais alto”, assinala o pesquisador.

Diante deste cenário, Leonardo Bastos, professor da PUC-Rio e primeiro autor do estudo ressalta a importância da atenção primária, que significa maior capacidade e velocidade de vacinação: “A presença da saúde da família nos municípios de baixo e médio IDH protege as comunidades pobres de terem uma cobertura vacinal baixa. Nas mais ricas, não faz tanta diferença”, diz.

O estudo também analisou o processo de controle da pandemia nos municípios, que envolve indicativos como taxa de óbitos ao longo do tempo. Verificou-se que aqueles que conseguiram vacinar mais rapidamente a sua população conseguiram reduzir mais rapidamente a mortalidade pela doença.

Próximos passos

Este estudo é parte de um trabalho maior chamado Effect Brazil, que analisa a efetividade da vacinação no Brasil, sendo um dos dez projetos financiados pelo Grand Challenges International Covid-19 Data Alliance (Icoda) financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation. Além do financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, a pesquisa contou com apoio do CNPq, Capes, Faperj e Instituto de Salud Carlos III.

Estes e outros resultados serão apresentados, nesta quinta-feira (18/8), no seminário Olhares sobre a Covid em favelas: ciência, participação e saúde pública, como os estudos Vacina Maré, estudos de Covid longa e saúde mental, entre outros. O evento ocorre das 9 às 18h, no campus Manguinhos (no Rio de Janeiro), com transmissão ao vivo pelo canal da Fiocruz no YouTube.

Voltar ao topo Voltar