18/06/2020
Em meio a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2, causador da Covid-19), muitas famílias estão preocupadas e com dúvidas a respeito dos cuidados necessários que devem ter com as pessoas com Síndrome de Down, distúrbio genético que causa atrasos de desenvolvimento e intelectuais. De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 45 milhões de pessoas possuem alguma deficiência física ou mental no Brasil. Destas, estima-se que 300 mil tenham a condição, que ocorre, em média, com uma prevalência de 1 para cada 600 nascimentos.
Referência para o Sistema Único de Saúde (SUS), fomentando a assistência, pesquisa e ensino, o Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) coordena também o Centro de Osteogênese Imperfeita e o Centro de Doenças Raras, sendo o primeiro e único Centro de Referência de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras do Estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, com o intuito de orientar os cuidadores sobre o tema Síndrome de Down e Covid-19, a médica geneticista e coordenadora clínica do Centro de Genética Médica do IFF/Fiocruz, Dafne Horovitz, esclarece abaixo as questões.
IFF/Fiocruz: As pessoas com Síndrome de Down fazem parte do grupo de risco para a Covid-19?
Dafne Horovitz: A Síndrome de Down em si não enquadra a pessoa como grupo de risco. A grande questão são as comorbidades que podem estar associadas à Síndrome de Down, pois as pessoas podem ter uma tendência maior a terem algumas questões médicas. Por exemplo, as crianças, principalmente, têm mais problemas imunológicos, então são mais suscetíveis às infecções respiratórias e podem ter refluxo. Tem pessoas que possuem alterações cardiológicas, que passaram por cirurgias cardíacas e, por isso, também têm um risco maior. Já nos adultos com Síndrome de Down, a obesidade é muito mais frequente e está cada vez mais sendo vista como fator de risco e agravante para as infecções pelo coronavírus.
IFF/Fiocruz: Quem possui a síndrome está mais vulnerável às infecções pela Covid-19?
Dafne Horovitz: Algumas pessoas com a condição têm tendência a ter baixa imunidade, o sistema imunológico mais frágil, e isso as famílias vão saber, pois são pessoas que costumam a ter infecção de repetição. Devido a isso, podem estar mais suscetíveis às infecções pelo coronavírus.
IFF/Fiocruz: Como as famílias podem atuar na prevenção?
Dafne Horovitz: As recomendações são as mesmas do restante da população, como usar máscara, higienizar bem as mãos, evitar sair de casa, a não que seja necessário, e seguir as orientações das autoridades. Se algumas dessas pessoas estiverem no grupo mais vulnerável, ou seja, se além da Síndrome de Down possuírem alguma doença cardíaca, como hipertensão, diabetes, obesidade ou alteração imunológica, precisam intensificar os cuidados.
IFF/Fiocruz: Se infectados, a doença pode se desenvolver de forma mais agressiva nas pessoas com Síndrome de Down?
Dafne Horovitz: Ainda sabemos muito pouco sobre essa infecção, é muito nova, mas já temos relatos de infecções em pessoas com Síndrome de Down que evoluíram dentro do esperado para a população. Aqui no Brasil já ocorreram óbitos, mas precisamos lembrar que a síndrome é uma condição frequente, não se enquadra nem como uma doença rara. Pode ser que esses óbitos tenham sido dentro da população geral ou de pessoas com Síndrome de Down mais vulneráveis, com doenças pré-existentes ou complicações, então a infecção deve ser tratada com as mesmas medidas.