Covid-19: Estudo propõe novos arranjos para atenção a casos graves no RJ

Publicado em - Atualizado em
Icict/Fiocruz
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A concentração do atendimento de casos graves de pacientes com Covid-19 em alguns polos e o deslocamento de grande número de pessoas entre os municípios do Rio, em busca de internação, são alguns problemas graves no enfrentamento à crise sanitária no estado. É o que aponta nota técnica do Programa de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde (Proadess), da Fundação Oswaldo Cruz, divulgada nesta terça-feira (14/7). Analisando diferentes cenários, o estudo aponta para a necessidade de repensar a regionalização da atenção em saúde no território fluminense. Ou seja: aproveitar melhor o potencial de atenção do SUS que já existe em alguns municípios, tornando-os polos para o atendimento a moradores de cidades do entorno.

Para isso, claro, seria imprescindível aumentar o investimento na ampliação da capacidade de atendimento em alguns lugares. “A partir da distribuição de recursos, especialmente de leitos de UTI, a ideia é repensar a regionalização do atendimento em saúde para evitar grande deslocamento de pessoas e grande concentração de demanda pela atenção em alguns municípios, como acontece principalmente no Rio de Janeiro”, explica Ricardo Dantas, coordenador do Proadess e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz.

Segundo a nota técnica, mais de 70% das internações por Covid-19 foram realizadas no município do Rio de Janeiro, expressando a grande concentração da atenção hospitalar na capital. Mesmo com 87,2% das internações sendo de residentes, há um afluxo de municípios da Baixada Fluminense. Nova Iguaçu, por exemplo, responde por 2,4% das internações na capital, porém o número absoluto é semelhante ao que foram internados no próprio município.

Melhores relações entre leitos e população ocorrem em Campos dos Goytacazes, Valença, Vassouras e Itaperuna. A relação entre o total de internações por Covid-19 e os leitos UTI disponíveis ao SUS é importante para considerar a possibilidade de contratação da rede privada em locais onde é baixa a oferta.

O estudo aponta que há cinco municípios nos quais ocorreram internações com diagnóstico confirmado da doença, mas que não possuem leitos de UTI disponíveis ao SUS: Guapimirim, Itaguaí, Magé, Maricá e Mesquita. Angra dos Reis, Duque de Caxias, Itaboraí e Rio de Janeiro são os municípios com maior deficiência de leitos SUS. Em Duque de Caxias, apenas 19,6% são disponíveis ao sistema. E apenas 19 dos 92 municípios do estado dispõem de equipamentos considerados essenciais para a qualidade do cuidado aos casos mais graves de pacientes com Covid-19. 

Disparidade entre vizinhos

Analisando os dados sobre as internações por Covid-19 ocorridas nos últimos meses, os cientistas sugerem que alguns municípios, como Campos dos Goytacazes, Angra dos Reis e Macaé seriam “polos”, por contarem com maior quantidade de recursos de atenção à saúde. Porém, as internações realizadas são praticamente todas de residentes. Por outro lado, municípios como Niterói, Volta Redonda, Nova Iguaçu e Cabo Frio atendem de 30% a 50% de residentes de outros municípios.

O que a nota técnica propõe é um rearranjo dos polos atuais, em função da disponibilidade desses recursos ao SUS e das distâncias e possibilidades de acesso a partir dos municípios que a eles demandariam. Isso iria reduzir a necessidade de fluxos de maiores distâncias, além da pressão sobre os recursos de alguns polos, marcadamente da capital fluminense.

A regionalização voltada à atenção de alta complexidade deve ser “pensada e repensada”, ampliando a capacidade de atendimento de acordo com o momento, afirma Dantas. “Isso vale não apenas para agora, mas daqui para frente, no sentido de distribuir melhor os recursos de alta tecnologia no estado do Rio e em todo o Brasil. Os leitos de UTI não podem estar em todos os municípios, claro, mas não podem estar concentrados em apenas alguns polos, como o Rio de Janeiro. É preciso facilitar o acesso em locais mais próximos, inclusive levando em conta a tendência de interiorização da pandemia, para evitar que o potencial crescimento do número de casos mais graves no interior aumente o deslocamento apenas para a capital”, reforça.

Acesse a nota técnica.