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07/02/2008

Da EAD para o SUS

Catarina Chagas e Fernanda Marques


No setor saúde são grandes os desafios de formação de recursos humanos, dados o contingente de pessoal empregado nessa área e a necessidade de que o atendimento em saúde ocorra onde as pessoas estão. Só no Programa Saúde da Família, atualmente, trabalham quase 80 mil médicos, enfermeiros e dentistas e mais de 220 mil agentes comunitários da saúde, distribuídos pelo território nacional, do Oiapoque ao Chuí. “Estes números enormes dão uma dimensão da necessidade de se utilizar mecanismos do tipo EAD para processar programas de educação continuada dentro do setor saúde”, pondera a vice-presidente da Fiocruz Maria do Carmo Leal.


De acordo com a coordenadora da EAD/Ensp, o modelo de aprendizagem é revisto diariamente para acompanhar as novas necessidades do SUS, que exige trabalhadores cada vez mais criativos e capazes de tomar decisões. “A formação dos profissionais de saúde é integrada à sua prática de trabalho e visa consolidar o SUS com mais eficiência e eqüidade”, explica Lúcia Dupret.


O curso de gestão de projetos de investimentos em saúde, por exemplo, busca capacitar profissionais quanto à priorização, elaboração, execução e avaliação de projetos de investimentos integradores, sustentáveis e relevantes para os sistemas de saúde. Inicialmente voltado a técnicos das secretarias estaduais e municipais de Saúde, com o objetivo de organizá-los em núcleos regionais de gestão de investimentos, o curso acabou atraindo também o oncologista e mestre em saúde pública Ronaldo Corrêa Ferreira da Silva, da Divisão de Atenção Oncológica do Instituto Nacional de Câncer (Inca).


Analista técnico de programas nacionais de controle de câncer, Ronaldo já teve a oportunidade de aplicar, na prática, o que aprendeu no curso: elaborou um projeto de investimento para garantia de qualidade em mamografia. O plano, apresentado a uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), foi selecionado e recebeu dela 50% dos recursos do projeto (os 50% restantes foram do Ministério da Saúde). “Um dos diferenciais do nosso projeto veio justamente do conteúdo do curso da EAD/Ensp”, revela. “Nele aprendemos que não basta comprar um equipamento que vai melhorar nosso trabalho, mas é preciso também prever os custos de sua operação e manutenção”.


Mesmo trabalhando no Rio, cidade sede da Ensp, o médico decidiu fazer um curso da Escola a distância. “O material é ótimo e bem prático, de modo que, no futuro, se eu esquecer alguma coisa, posso consultar o CD-ROM a qualquer hora”, elogia. Mais de cem projetos de investimentos para diversos municípios do país foram elaborados a partir desse curso da EAD/Ensp, entre eles o de um centro de atenção psicossocial em Cruz Alta (RS) e o de uma policlínica regional em Chapecó (SC).


No caso de Chapecó, foi o próprio secretário de Saúde, Nédio Luiz Conci, que participou do curso, acompanhado de dois integrantes de sua equipe. Como resultado, elaboraram, em 2006, o projeto da policlínica, que beneficiaria 46 municípios vizinhos. A idéia surgiu da constatação de que era preciso fortalecer os serviços de saúde de média complexidade na região, muito dependente dos estabelecimentos privados conveniados ao SUS.


Pelas estimativas de Nédio, o valor de uma consulta ou exame nesses serviços particulares chega a custar quatro vezes mais do que determina a tabela do SUS, diferença onerosa para a população e seu município. “Com uma policlínica pública, os gastos com esses atendimentos seriam muito menores. Assim, dentro de dois anos, todo o investimento feito em sua construção e implantação já teria retornado aos cofres públicos”, calcula. “Sem contar que a manutenção da policlínica sairia por um terço do que se gasta hoje com os serviços conveniados”.


O secretário já solicitou financiamento junto ao Fundo Nacional de Saúde, mas ainda não foi atendido. Contudo, com recursos próprios de Chapecó, um outro projeto menor – também incentivado pela experiência no curso da EAD/Ensp – já saiu do papel. Trata-se de um pronto socorro 24 horas com centro de diagnóstico por imagem, inaugurado em setembro, com equipamentos de raio-X, ultra-som, mamografia e endoscopia, entre outros. “Já é um bom começo, mas não vou desistir da policlínica”, promete.

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