16/09/2017
Em 2017, no Ano Oswaldo Cruz, a edição do Fiocruz pra Você abriu espaço em sua programação para a defesa da paz e da cidadania. No final da manhã deste sábado (16/9), um ato realizado na frente do Castelo Mourisco da Fiocruz, em Manguinhos (RJ), reuniu representantes do poder público, de movimentos sociais e do terceiro setor, entre outros, com dois objetivos: promover a paz e homenagear um de seus grandes defensores, Herbert de Souza, o Betinho, cujo falecimento completou 20 anos em agosto. Em praticamente todos os discursos esteve presente a ideia de que o único caminho para o combate à violência é a promoção de direitos sociais e da cidadania, como tanto fez o sociólogo e ativista criador da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
Ato em frente ao Castelo Mourisco da Fiocruz defendeu a paz e a cidadania (foto: Pamela Lang)
“Este Fiocruz pra Você é muito especial, porque homenageamos ao mesmo tempo Oswaldo Cruz e Betinho – um símbolo da luta dos princípios que a Fiocruz defende desde o seu começo. Esta é uma importante reunião da academia com movimentos sociais. Temos que romper com o discurso de que estamos em guerra. Estamos em campanha pela paz e pela cidadania, e para que isso aconteça precisamos dedicar nossas forças àqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade. Não podemos admitir retrocesso de direitos em nenhum lugar desta cidade nem deste país”, afirmou a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima.
"Não podemos admitir retrocesso de direitos em nenhum lugar desta cidade nem deste país”, afirmou a presidente da Fundação (foto: Peter Ilicciev)
O filho de Betinho, Daniel de Souza, afirmou que a campanha Natal sem Fome será retomada neste ano, uma vez que a fome tem voltado a assolar famílias brasileiras – segundo um relatório de entidades da sociedade civil entregue às Nações Unidas em julho, o país pode voltar ao Mapa da Fome, de onde saiu em 2014. “O governo conseguiu trazer a fome de volta ao país. Queremos um movimento pela ética na política e por uma verdadeira cidadania”, afirmou Daniel.
Outras participações apontaram a inutilidade de estratégias policiais de enfrentamento conforme atualmente praticadas. “Incursões servem para que e a quem”, disse a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Raquel Viana, professora do colégio Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos, apontou a impossibilidade de se estudar sob tiroteio, ressaltando que a escola chega a ficar até duas semanas sem aulas devido à violência. Assim como outros moradores de Manguinhos, a professora reivindicou a reabertura da Biblioteca Parque de Manguinhos, fechada há 9 meses. “Temos um espaço com três mil livros fechado”, disse.
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, esteve na Fiocruz para prestigiar o dia de vacinação (foto: Peter Ilicciev)
O secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira, e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, também estiveram na Fundação. “A prevenção de doenças é muito importante, e para isso ser possível a participação da população é fundamental. Temos grande satisfação em ver essa importante instituição brasileira que é a Fiocruz tão cheia em um dia como hoje”, afirmou Crivella.
Vacinação, atividades culturais e promoção da saúde
"Há 23 anos, a Fiocruz participa com muito empenho e satisfação desse dia de multivacinação promovido pelo Ministério da Saúde [MS]. A cobertura vacinal é um dos fatores mais importantes para a promoção da saúde em nossa sociedade e, hoje [16/9], oferecemos imunização para 16 doenças e promovemos um diálogo com a população, por meio de uma mostra dos trabalhos realizados pela Fundação", comentou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, na abertura do evento. Mais de mil crianças, adolescentes e, pela primeira vez, adultos, atualizaram suas cadernetas de vacinação durante o Fiocruz pra Você, em Manguinhos, na zona Norte do Rio de Janeiro.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, aplica a primeira vacina do dia no evento (foto: Peter Ilicciev)
Na 24ª edição do evento, o campus da Fiocruz se tornou, mais uma vez, um dos maiores postos de vacinação do país e recebeu cerca de 6 mil pessoas, que participaram de atividades artísticas, culturais e de promoção a saúde gratuitas. A festa da vacinação contou com atrações como o Marcos Frota Circo, o Coral Flor do Mangue, a Mangueira do Amanhã e os cães adestrados da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. A criançada também se divertiu com brincadeiras, oficina de desenho e pintura facial.
Apresentação do Ballet Manguinhos animou o público do Fiocruz pra Você (foto: Peter Ilicciev)
A denúncia e a crítica em relação à situação de insegurança pública em Manguinhos e outros territórios vulnerabilizados da cidade do Rio de Janeiro deram o tom de outras atividades ao longo da programação. Em prosa rimada, integrantes do Hip Hop Saúde apresentaram músicas com temas que iam desde a prevenção de doenças e vacinação até os desafios enfrentados pela juventude das periferias: racismo institucional, violência armada, machismo, homofobia, e dificuldades de acesso aos direitos e aos serviços públicos. O grupo se formou no começo deste ano a partir das rodas culturais de rima do coletivo Pac’Stão de Manguinhos, com a proposta de trazer reflexões e informações do campo da saúde para o circuito do rap.
A esquete 'Marianna Crioula' foi encenada pela atriz Sirléa Aleixo, do Jacarezinho (foto: Luiza Gomes)
O racismo e a discriminação contra a mulher negra também foram motes de duas esquetes teatrais no evento. A primeira performance, Marianna Crioula, foi encenada pela atriz Sirléa Aleixo, do Jacarezinho. O texto é um monólogo de autoria do diretor e roteirista Ricardo Vassíllievitchz, que narra a insurgência liderada por Manoel Congo, em 1838, na região do Vale do Café, pela perspectiva de sua amada - e também protagonista do episódio - Marianna Crioula. Já na esquete Gritaram-me negra, as atrizes do projeto Manguinhos em Cena, Lidianne Marinho e Sirléa Aleixo, interpretaram o poema homônimo da autora e compositora peruana Victoria Santa Cruz. O texto denuncia os horrores da perseguição motivada pela discriminação racial e retrata os conflitos internos em relação a autoimagem e autoaceitação que ameaçam e inquietam as mulheres negras.
O chamado Dia D da vacinação ocorreu em todo o país durante este sábado (16/9), mas a Campanha de Multivacinação do Ministério da Saúde vai até 22 de setembro. Na última semana, o MS divulgou um relatório sobre a cobertura vacinal no país, destacando a necessidade de mobilização devido a uma baixa adesão em algumas faixas etárias e regiões (leia mais aqui). Em complemento à campanha, o MS planeja instituir um dia nacional de vacinação nas escolas. A campanha publicitária deste ano traz o slogan Todo mundo unido, fica mais protegido, chamando pais e responsáveis para a mobilização.
Na AFN
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