Defesa do organismo de caramujos é estudada

Publicado em
Rita Vasconcelos
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Pesquisadores do Departamento de Biologia Celular e Ultra-Estrutura do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM) estão estudando o sistema imune (responsável pela defesa) dos caramujos das espécies Biomphalaria glabrata e Biomphalaria straminea, hospedeiros intermediários do parasita causador da esquistossomose, o Schistosoma mansoni. Eles querem caracterizar células presentes nesses caramujos, conhecidas como hemócitos, pois isso pode incentivar estudos na tentativa de bloqueio no ciclo evolutivo do S. mansoni ainda nos moluscos, evitando a infecção de seres humanos.


Nessa caracterização dos hemócitos das duas espécies os pesquisadores querem saber por que o caramujo da espécie Biomphalaria straminea oferece certa resistência à infecção pelo S. mansoni e, conseqüentemente, à propagação da doença para os humanos, diferentemente do B. glabrata, que transmite o parasito para o homem.


Alguns pesquisadores acreditam que o caramujo da espécie B. straminea tem uma defesa capaz de bloquear e impedir o desenvolvimento desse verme dentro dele. Por outro lado, há cientistas que trabalham com a vertente de que essa espécie não suporta a carga parasitária do Schistosoma mansoni e acaba morrendo, interrompendo, por isso, o ciclo do parasito e, conseqüentemente, impedindo muitas vezes que o S. mansoni evolua de miracídio para cercária, que é a forma infectante para o homem.


Neste primeiro momento da pesquisa do CPqAM, a equipe envolvida no estudo quer caracterizar o número de células que um molusco sadio apresenta em relação a um infectado pelo S. mansoni, quais os tipos de célula que se desenvolvem mais e descobrir qual o papel dessas células no bloqueio do ciclo do parasito dentro das duas espécies de moluscos.


Conhecendo o sistema imune desses hospedeiros do S. mansoni e sabendo como a espécie B. straminea controla a infecção do parasito dentro dele, será viável apontar um caminho para conseguir o controle do S. mansoni e, futuramente, um possível controle da doença.


Iniciado este ano, o trabalho já tem como resultado preliminar a identificação de quatro tipos celulares da espécie B. glabrata, quando, até o momento, a literatura só relata dois tipos celulares: granulócitos e hialinócitos. “Estamos caracterizando estas células por meio da microscopia eletrônica de transmissão, que nos permite observar a ultra-estrutura de cada uma delas. Dessa forma, poderemos afirmar se estas células são mesmo diferentes uma das outras e/ou se essas células apresentam-se em fases de diferenciação ou maturação” detalhou Fábio Brayner, um dos coordenadores do trabalho.


A pesquisa também é coordenada pelo pesquisador Luiz Carlos Alves e conta com a colaboração da chefe do Serviço de Referência em Esquistossomose do CPqAM, Constança Simões Barbosa. Do estudo, também participam técnicos, estudantes de mestrado e de iniciação científica do departamento de Biologia Celular e Ultra-Estrutura. O projeto está sendo realizado com recursos do Programa de Apoio à Pesquisa em Saúde (Papes IV) da Fiocruz e tem previsão para ser concluído em março de 2008.