Mario era uma força da natureza. Irriquieto, inovador fazia tudo com o coração na ponta da língua. Formou centenas de sanitaristas que hoje constroem cotidianamente o SUS. Apaixonado pelo Brasil, aqui chegou e daqui não mais saiu.
José Gomes Temporão, ministro da Saúde
Mario Hamilton, querido amigo que recentemente nos deixou, foi um dos meus principais mestres em saúde pública, ao lado de Sergio Arouca, Adolfo Chorny e Mario Testa. Desde que ele chegou ao Brasil estive ao seu lado. Meu primeiro contato foi no curso de administração de programas de saúde materno-infantil, com Susana Badino, sua eterna companheira, também ao seu lado neste curso, em 1975, lá se vão 33 anos.
Depois disso, convivi o tempo todo com meu irriquieto amigo, alguns períodos de forma mais próxima e, outras, mais distantes. Estivemos muito juntos quando fomos vice-presidentes da Fiocruz, na gestão Morel, e quando ele foi vice-diretor na minha segunda gestão na Ensp.
Mais do que admirar eu gostava muito era de conviver com a vivacidade e a inteligência do Mario, que foram muito importantes para o desenvolvimento da saúde pública brasileira contemporânea. Ele deu contribuições muito importantes para a organização dos serviços de saúde do país e para a própria reforma sanitária, assim como à Fiocruz, sempre ao lado do seu inseparável amigo Arouca.
Mas o que mais me dá saudades são o amor que ambos temos pelo tango e sua paixão pela vida, que ele transmitia em todos os momentos. Aprendi a gostar da música portenha com meu pai, ouvindo a Radio Belgrano, num velho rádio Telefunken, no Rio Grande, nas décadas de 50 e 60. Com Mario tive longas e apaixonadas conversas sobre esta musica triste, mas portadora de uma extrema paixão em tudo o que canta. Como o Mario, meu inesquecível e querido amigo!
Paulo Buss, presidente da Fiocruz
“Querido”. Invariavelmente começava assim sua saudação. Da mesma maneira se a discussão pegasse fogo, só que então o “querido”, que antecedia toda frase, vinha acompanhado de uma mão segurando teu ombro e o rosto quase colado ao teu. Só faltava pedir para dançar um tango. Mas isto era reservado à Susana. E mostrado aos amigos em momentos muito especiais. Quase uma cerimônia que começava com a aproximação lenta dos olhos nos olhos, um volteio tal qual uma Verônica, dando tempo para que se formasse o círculo das testemunhas do galanteio e então a música. Pés e braços a bailar e bailar, que me encanta bailar el tango.
Trinta anos passados da chegada à Escola Nacional de Saúde Pública. Basicamente incompreensível, pela velocidade da fala e pelo acento marcadamente portenho. E como se não bastasse, tentando falar português. A velocidade da fala perdia para a velocidade do raciocínio.
Mario Hamilton, Mario Testa, atuantes na crítica ao método Cendes/OPS que Testa ajudara a formular. O objetivo do Planejamento em saúde é a mudança social, repetiriam até a exaustão enquanto experimentavam novos arranjos metodológicos.
Montes Claros foi de enorme valia para os avanços conseguidos. Depois a proposta dos Cursos de Saúde Pública modulares da Ensp. A direção do Departamento de Planejamento, a Vice-Direção da Escola e depois a Vice-Presidência da Fiocruz, entremeando com muitas outras atividades somadas com Arouca. E como seu compadre, entrou na fila antes do tempo e nos deixou com o gosto de quero mais nos corações.
Arlindo Fabio Gómez de Souza, chefe de Gabinete da Presidência da Fiocruz
Mario Hamilton era acima de tudo um grande amigo, convivemos durante muito tempo. Primeiro na Ensp, depois na Presidência da Fiocruz quando Sergio Arouca era presidente e eu vice de ensino.
Ele se caracterizava pela grande dedicação aos amigos. Profissional competente, era o grande especialista em planejamento de saúde. Foi professor-titular na Ensp e, mais tarde, já na administração de Paulo Buss, ocupou o cargo de vice-presidente. Almoçávamos freqüentemente juntos, e sua conversa era inteligente e agradável. Argentino que veio para o Brasil, onde se adaptou e fez grandes amigos.
Me lembro de que quando da minha cirurgia cardíaca, ele me visitava, o que era motivo de grande satisfação.
Mario deixa uma grande saudade. Jamais será esquecido por seus companheiros.
Luiz Fernando Ferreira, ex-presidente da Fiocruz
Mario Dalton Hamilton tinha nome de inglês, pose de milongueiro portenho e alma de carioca, mistura traduzida num portunhol rápido, incompreensível, mas elegante. Era um homem inteligentíssimo, com agudo raciocínio matemático e abstrato. Apreciava as boas coisas da vida com uma sábia moderação o que lhe garantiu viver (e muito bem!) até quase 76 anos fumando, bebendo, comendo muito churrasco e desfrutando de noitadas de pôquer com os amigos. Mario Hamilton foi, sobretudo, amigo de Sergio Arouca; seu grande conselheiro, seu grande companheiro, seu irmão. Admiravam-se e gostavam-se profundamente. Mario foi nosso padrinho de casamento e também de nossa filha mais velha, Lara. Mas o casamento e a afilhada eram parte do “pacote Arouca”, este sim seu grande afeto.
Mario era um excelente planejador e professor de planejamento em saúde, embora exigisse tradução simultânea. Foi imprescindível na minha formação de sanitarista. Era um atento crítico das ações governamentais mesmo quando (ou até mais ainda) executadas por amigos de longa data. Suas críticas e análises centravam-se nas conseqüências das políticas e propostas “na ponta”, nos que aguardavam atendimento nos serviços de saúde, nos doentes, nos que precisavam ser priorizados na atenção à saúde.
Mario nos chamava a todas, em qualquer idade, de “garota”, e em momentos de especial deferência, de “companheira”. Era uma “figura” como chamamos aqueles que nos fascinam e que não conseguimos explicar. Mas para gostar não precisa explicação. Saudades.
Sarah Escorel, pesquisadora da Fiocruz
O Mário participou ativamente da criação do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (Nesc) na gestão de Arouca. Colaborou ainda, o inicio do SUS em Pernambuco, no segundo governo de Miguel Arraes. Além disso, Mário foi também fundamental no primeiro curso de especialização descentralizado de planejamento em saúde para o nordeste, já realizado no NESC em 1989 e 1990 com apoio da Ensp e da Opas. Posteriormente colaborou em bancas de teses, dissertações e de concurso público. Sempre um colaborador excepcional com as iniciativas da Fiocruz Pernambuco.
Eduardo Freese, diretor da Fiocruz Pernambuco
Conheci Mario Hamilton quando ele se juntou à equipe do Arouca, na histórica Presidência iniciada em 1985, quando atuei como vice-presidente de Pesquisa e Diretor do IOC. Nossa relação e amizade se aprofundaram quando o convidei para assumir uma Vice-Presidência na minha gestão (1993-97), e pude então conviver de perto com ele durante todo este período. Inteligência brilhante e irreverente, não foi no início bem aceito pela comunidade de onde eu me originara, mais voltada para a pesquisa biomédica (cheguei a ser chamado de 'traidor', por tê-lo convidado, pois Mario seria membro de 'outra tribo'...). Nunca me arrependi, ao contrário.
Eram sempre intensas as reuniões de Presidencia que fazíamos todas segundas-feiras de manhã, em particular porque Mario sempre estava disposto a um contraponto, ou a chamar nossa atenção para algo cuja importância não tínhamos percebido ou então, como desconfiávamos, simplesmente para torrar nossa paciência - uma maneira dele de dizer que estava na hora de terminar a reunião. Mas sua mente veloz, seu raciocínio super rápido e sua capacidade de farejar desde simples 'pegadinhas' até potenciais problemões e crises à nossa espreita, seguramente livraram a Fiocruz de muitas crises.
Mas muito mais que 'farejador' de problemas Mário atuou como um planejador competente, um construtor sério e um estrategista brilhante com o qual muito aprendemos. Só não conseguimos devolver o aprendizado ensinando-o a falar corretamente o português (sempre nos chamava para tomar um "uirrrrrrrrrrrque"), a ser politicamente correto, ou a deixar de fumar (duelou publicamente com o diretor da Opas que nos visitava e ousara reclamar do seu cigarro).
Fora da Fiocruz era uma alegria única - quer dançando tango com a Suzana, seu amor de toda a vida, quer reunindo os amigos em sua casa nos dias 31 de dezembro, quer nos recebendo no delicioso Clan Café, que muitas vezes transformou em point da Fiocruz. Saiu desta para a outra vida da mesma maneira que vivia e agia: rápido, sem indecisões. Talvez melhor para ele, mas muito doloroso para seus colegas e amigos, que ainda o vêem dançando tango ou pedindo o "fofo" que nunca trazia, para acender o cigarro que nunca deixava de fumar.
Carlos Morel, diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz
Do Mario me lembro como o conheci mais de perto: era professora iniciante do curso de especialização em saúde pública da Ensp e juntos levamos os alunos para conhecer e trabalhar no Projeto Montes Claros que ocorria nas cidades ribeirinhas do Rio São Francisco, em Minas Gerais, ainda nos anos 80.
Sempre alegre, bem disposto e aportenhado, o Mario nos deixou cedo e perplexos, porque recentemente o vimos dançando tango com a Suzana com a mesma jovialidade e sedução com que sempre dançaram, na memorável festa do seu aniversário. Impressionante, como aquela festa que ele reuniu todos os filhos, netos, parentes e amigos foi de fato, uma despedida que guardaremos com a imagem do cavalheiro elegante que o Mario sempre teve.
Com saudades,
Maria do Carmo Leal, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz
Como todo grande homem, tinha sensibilidade e um sentido de responsabilidade, não só para com o coletivo, mas também para com quem trabalhava próximo dele. Apesar da tristeza que sua partida deixa, essa sua marca fica entre nós como lembrança e exemplo de afirmação de vida.
Mônica Rolo, psicóloga, trabalhou com o Mario no Cebes e na Ensp
Mario Hamilton foi das pessoas mais estimulantes que conheci. Entre muitas outras qualidades gostaria de destacar duas: sua coragem de ser verdadeiro e direto sempre pensando no bem público maior e independentemente das relações pessoais e sua abertura de pensamento para enfrentar o novo e para refletir e implementar novas idéias. Meu convívio com ele foi muito instigante e prazeroso. Além disto, seu churrasco era inigualável tanto pela arte quanto pela companhia.
Carlos Gadelha, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz
É isso aí, meu caro Mario Hamilton! A vida toda eu pronunciei seu nome assim: “râmilton”...! Enraizei esse sotaque desde os tempos de Uruguai, quando aprendi a falar e escrever na sua língua de origem. Nada dessa mania abrasileirada de chamar você de “Amilton”... Esse costume até hoje ecoa “esquisito” aos meus ouvidos (aqui, no sentido de feio, que, no português, damos a essa palavra).
Agora sinto certo embaraço quando penso que tantas pessoas acompanharam nosso tumultuado convívio profissional, desde 1978, na Ensp, na extinta Suplan, na Fiocruz! Respeito o fato de muitas de nossas divergências não terem sido triviais, mas, conforta-me pensar que, por sermos ambos tremendamente temperamentais, foi mais por teimosia que tantas vezes mergulhamos no impasse, sem dele conseguir sair ilesos! Que bom que com o passar dos anos nossos desencontros terminaram! E passamos a contabilizar apenas as boas recordações, como os vários momentos de solidariedade que tivemos um com o outro, o amigo comum especialíssimo, as festas, as “milongas” bailadas como só um rio-platense é capaz! Dissemos adeus para sempre, sem saber, em dezembro de 2007, naquela livraria de Copacabana. Foi para me prestigiar, é claro, mas sei que você não perderia por nada o lançamento de um livro sobre o amigo compartilhado. E, porque não reconhecer logo de uma vez, disputado? Imagine só! Fez-me tão bem rever e abraçar você e Susanita... E, que bom, nos vimos ainda sendo capazes de rir e celebrar a vida!
Gracias a la vida, que me há dado tanto, me há dado la risa y me há dado el llanto...
Marília Bernardes Marques
Nestes mais de 30 anos de convivência, Mario sempre foi para mim uma referência. Referência de profissional sem receio de enfrentar com aparente simplicidade os problemas mais complexos; referência de valores e convicções que defendia sem concessões; referência de chefe de família das mais unidas que conheci; referência de bon vivant, amante intransigente das boas coisas da vida; referência de vitalidade, sempre com um novo projeto; referência de tantas outras coisas, mas acima de tudo referência de solidariedade e amizade, aquele com quem sempre se pode contar. Com tantas lembranças que deixou em tantas gerações que as cultivarão por tantos anos, talvez não
seja de todo errado pensar, como sempre pensamos, que Mario fosse imortal...
Alberto Pellegrini Filho, da Secretaria Técnica do CNDSS
Conheci Mario Hamilton quando entrei na Ensp em 1985. Na ocasião, ele trabalhava no setor de Planejamento da Presidência da Fiocruz na gestão de Arouca. Passado esse tempo, voltou para a escola, onde discutíamos sobretudo a implantação da Reforma Sanitária brasileira. Inicialmente tive muita dificuldade de aproximação com Mario, pois, recém-chegada, não fazia parte de uma longa história da política de saúde, onde sua personalidade forte se fazia notar. Porém o tempo me fez admirá-lo e reconhecer naquele homem de traços vigorosos, contundentes, enérgicos e francos alguém com muita riqueza de pensamento, de sentimentos e de capacidade de projetar o bem comum.
Depois de saí da Vice-Presidência falamos pouco. Mas o apreço por este homem forte e amoroso faz parte de minhas experiências de vida. No mesmo sentido, sempre admirei e aplaudi a forma carinhosa, respeitosa e admiradora com que convivia com Suzana, sua companheira de tangos e sambas e seu elan pela vida e pela qualidade de vida. Enfim, considero que Mario Hamilton é dessas pessoas que não precisam de artifícios para serem recordadas: suas lembranças impregnam os lugares onde passou e as pessoas com as quais conviveu.
Cecília Minayo, pesquisadora da Fiocruz
Mario Hamilton é daqueles homens cuja presença se nota pela quantidade (e qualidade) de espaços que abriu. Hoje ele não "está" mais; outros podem "estar por ele" todavia.
João Canossa, editor-executivo da Editora Fiocruz
O Mario sempre foi um "rebelde" e teve um papel importantíssimo na democratização da Fiocruz. Sua morte me deixou um gosto amargode solidão pela perda de um grande
companheiro que acima de tudo era corajoso, ousado e coerente.
Ilma Noronha, diretora do Instituto de Comunicação e Informação em Ciência e Tecnologia da Fiocruz
Mario Hamilton significa, para mim, o principal ator da concepção e da prática da gestão democrática e participativa e das atuais diretrizes e princípios que buscam orientar a Fiocruz. É exatamente nele que podemos encontrar a síntese perfeita da formulação teórica e da ação prática de que democracia é forma e conteúdo simultaneamente. Pois Mario, como belo mestre que era, nos ensinava a compreender e a agir na busca por uma democracia efetiva, na qual a exigência primeira é estar permanentemente formulando e polemizando, respeitando, acima de tudo, a radicalidade do debate de idéias e projetos. A práxis de Mario fica demonstrada que não há democracia de fato participativa, sem polarização, divergência, conflito, defesa de propostas francas e explícitas e, principalmente, muita paixão. E nisso, Mario era um craque.
André Malhão, diretor da Escola Politécnica de Saúde da Fiocruz
Acolhedor, elegante, impetuoso, charmoso... Politizado, agregador e muito presente. Até na vida daqueles que não conviviam com ele tão de perto, todos os dias. Maior legado:a dignidade de seus sucessores cominada com a generosidade inata. Felizes de nós que temos a sorte de desfrutar da amizade de pessoas tão queridas.
Viva o Mario e Viva a família que ele e Suzana constituíram.
Vanessa Tavares
O professor Dalton Mario Hamilton será sempre lembrado pela sua competência na área de planejamento em saúde, tendo sido mestre de muitos dirigentes e sanitaristas que fazem a história da saúde pública no país. Profissional comprometido com o desenvolvimento do sistema de saúde do nosso país, atuou e colaborou em várias frentes de trabalho, em importantes programas de formação e em muitos projetos em vários governos, que trouxeram ensinamentos importantes para a construção do SUS , colaborando ativamente com seu grande amigo Sergio Arouca nas diversas instâncias nas quais este se empenhou.
No processo da Reforma Sanitária esteve presente permanentemente e ainda como dirigente que ajudou na construção da Fiocruz que temos hoje. Mais recentemente e já aposentado, foi dirigente da Ensptec, tendo conduzido a sua transformação em Fiotec. Mesmo nos dias atuais esteve sempre atento e atuante no processo político e da saúde pública em nosso país.
Diretoria da Fiotec
Lembro de muitos episódios, alguns hilários, outros odiosos, porque Mario é daquele grupinho seleto na Fiocruz que ou você ama ou odeia, não existe meio termo! Não parecia tarefa fácil subsituir as férias do secretário do diretor da Ensp, imagine fazê-lo quando o vice era o "famoso argentino" Mário Hamilton!
Belo dia, entrego a ele correspondência do então procurador da Fiocruz, comunicando que Mario deveria comparecer a audiência no Conselho Regional de Administradores para defender-se no processo sobre ter ocupado o cargo de superintendente da Suplan, sem ter formação acadêmica de administrador. Bem, foi uma chuva de palavrões embalados pelo sangue que parecia querer saltar das veias. Resumiu com uma ordem "faça a resposta dizendo que não vou a p. de lugar nenhum porque nao pedi para ocupar o cargo, então eles que se virem! Depois de alguns minutos concluiu mais calmo "mas olha, Bena, diz isso tudo porque eu estou p. mas o faça "respeitosamente". Tarefa árdua não?!
Na manhã seguinte, temerosamente entrego a minuta a Mario que colocou a carta sobre a mesa, juntou as mãos em um rápido bater palmas e disse "parabéns garota, é exatamente o que eu queria dizer", e sem mudar uma virgula assinou. Reconhecimento que me encheu de orgulho e tranformou o documento na minha "obra prima administrativa", em 25 anos na função!
Mario era esse misto de chefe exigente, rabujento mas que valorizava e respeitava a função da secretaria, uma tradução perfeita do ditado "cada macaco no seu galho"!
Ebenézer Ribeiro, ex-secretária de Mario
Falar do Mario sempre me emociona. Nos anos que trabalhamos juntos, numerosos foram os episódios, mas como esse foi um dos primeiros, os seguintes só vieram reforçar a minha admiração por ele. Ele presidia o 3º Congresso Interno da Fiocruz e no dia da plenária final um documento, que deveria ser distribuído aos delegados após o almoço, não ficou pronto, pois o operador da máquina xerox sumiu. Mario, muito furioso, gritava, falava palavrões e como só estávamos eu, ele e Paulo Gadelha, a bronca só podia ser minha, pois era a secretária. Após grande correria, o bendito documento foi distribuído.
Ao final da plenária, durante os agradecimentos, o Mario pede uma salva de palmas para a secretária. Eu, que estava chateada, fiquei sem palavras. A elegância do Mario nas demonstrações públicas de reconhecimento profissional, os pedidos de desculpas do seu jeito, sempre fizeram a diferença. Com o passar dos anos, a admiração, o carinho e respeito mútuos só cresceram e nos tornamos grandes amigos, o que para mim foi um privilégio e é isso que sempre vai me dar conforto quando me lembrar dele.
Marli Ganime, secretária que trabalhou com Mario
Mario é o próprio tango na expressão do amor. Arrebatador, nunca deixou passar ao longe um afeto sincero, mão amiga, um carinho apertado. Irriquieto, tinha o olhar fotográfico de captar qualquer expressão de alguém, em auditório lotado. Mario percebia as mulheres como ninguém, sem nunca esquecer do seu grande amor: Suzana. Falava quando a gente engordava, emagrecia, quando tinha o cabelo cortado ou pintado, estava com roupa atraente ou não. Mas a sua rainha, sempre, foi Suzana.
Sob a batuta do amor, criou o clã Hamilton e o Clan Café, onde reuniu milhões de amigos com a maior alegria do planeta. Tudo incendiava com boa música, excelentes comidinhas e o casal mais feliz que conheci na minha vida, com os filhos mais carinhosos.
Mario e Suzana, impossível esta separação. E por que não?Mario não morreu. Já fez reunião com São Pedro e tomou vários uíííííííííísques com todos os anjos. Mario se espalhou, encantou, pegou o micrófono e fez o alerta: "o sentimento que se espalha pelos campos derrubando as cercas (Caetano) é a paixão. Bamos, minina, arriba".
Christina Tavares, coordenadora de Comunicação Social da Fiocruz