26/03/2020
Como as favelas estão enfrentando a epidemia de Covid-19? Quais os desafios desses territórios no combate ao novo coronavírus? O que fazer para apoiá-los nessa luta? O Dicionário de Favelas Marielle Franco inaugurou novas seções, para agregar notícias, relatos, campanhas, artigos e iniciativas de apoio aos grupos mais vulneráveis — muitas delas criadas pelas próprias populações locais.
O Dicionário de Favelas Marielle Franco publicou quatro novas seções com o objetivo de visibilizar as ações de comunicação e informação realizadas nas periferias (foto: Raquel Portugal, Icict/Fiocruz)Após alguns dias de medidas de isolamento social serem adotadas em todo o país, surgiu nas redes sociais a hashtag #CoronaNasPeriferias. Era um recado de moradores, comunicadores e ativistas de diferentes territórios para alertar sobre a falta de atenção para as demandas específicas das favelas no enfrentamento da pandemia.
“A principal questão nesse momento é o fato de as favelas estarem no foco dos impactos desse vírus. Há anos sofremos por diversas faltas, ausência de políticas públicas e, na atual situação, isso se agrava ainda mais”, aponta David Amen, fundador e coordenador de comunicação do Instituto Raízes do Movimento, que promove ações socioculturais no Complexo do Alemão, conjunto de favelas da zona norte do Rio de Janeiro.
Ele faz parte de um grupo que aposta na comunicação e na informação como ferramentas essenciais para promover a saúde da população de favelas e periferias em tempos em que uma pandemia global traz riscos que até então eram desconhecidos para a maioria das pessoas. Por meio de lambe-lambes, carros de som, ações nas redes sociais e na internet, o grupo tem disponibilizado informações sobre prevenção, acesso a tratamento e serviços de saúde e também apoiado na divulgação de diversas campanhas de apoio, arrecadando produtos de higiene e alimentos.
Articulando essas e outras iniciativas, o Dicionário de Favelas Marielle Franco publicou quatro novas seções com o objetivo de visibilizar as ações de comunicação e informação realizadas nas periferias. A plataforma coletou e disponibilizou informações, notícias, campanhas, relatos de moradores e artigos. Além disso, diversos materiais gráficos, filipetas, artes, ilustrações e eflyers informativos estão disponíveis para serem baixados e compartilhados livremente.
O material é todo produzido por entidades e coletivos que comunicam e pensam as favelas. “As comunicações e a mídia tradicional vinham trazendo orientações voltadas apenas para a classe média. Por exemplo, o álcool em gel para higienização das mãos não é acessível para grande parte da população”, avalia a pesquisadora Sonia Fleury, coordenadora do Dicionário.
Por isso, o Dicionário se apresenta como contraponto, fortalecendo as diversas iniciativas de comunicação popular ou comunitária realizadas nas favelas. “Muitos desses territórios têm seus veículos e meios de comunicação, há inúmeros recursos. A favela não é só carência, é potência”, afirma Fleury.
E apesar das restrições impostas pelas medidas de isolamento social, fundamentais para frear a rápida propagação do vírus, o grupo lança mão de todas as ferramentas digitais disponíveis. “Temos uma rede sólida de parceiros nos territórios, grupos, listas de e-mails e contatos que foram acionados quando decidimos centrar esforços na organização de informações sobre o coronavírus nas favelas. Tem sido muito interessante acompanhar a experiência de mobilização de tantos atores para lidar com esse momento tão difícil”, comenta Caíque Azael, integrante da equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
O Dicionário de Favelas Marielle Franco é uma plataforma virtual de acesso público para a coleção e produção de conhecimentos sobre favelas e aberta a diversas colaborações, com o apoio do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). Atualmente já possui mais de 500 verbetes e autores. Para saber mais, acesse o site.
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