O constante aumento da poluição atmosférica na região metropolitana de São Paulo ocorre, principalmente, devido à queima de combustíveis fósseis pelo sistema de transportes. Nos últimos 50 anos a frota automotiva passou de um carro a cada 50 habitantes para aproximadamente um veículo a cada dois indivíduos. Além disso, ao longo do mesmo período, a expansão das atividades comerciais e industriais trouxe um maior número de caminhões para a localidade, o que eleva ainda mais a emissão de poluentes. O quadro se agrava ao considerar que a maioria dos carros em trânsito tem mais de dez anos de uso.
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Trânsito de São Paulo: um veículo para cada dois habitantes |
Os dados acima fazem parte de uma pesquisa desenvolvida pela engenheira Simone Miraglia, da Universidade de São Paulo (USP), que avaliou quais seriam os custos econômicos, ambientais e de saúde pública da utilização de uma mistura estabilizada de diesel e etanol na frota de ônibus e caminhões da região em questão. Segundo a pesquisadora, a diluição do combustível diesel com etanol pode ajudar a melhorar a qualidade do ar na cidade. E ela ainda destaca: a análise custo-benefício ambiental do estudo resultou em uma balança positiva de cerca de US$ 2,8 milhões. A pesquisa de Simone foi publicada em suplemento especial da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, que apresenta artigos sobre saúde, ambiente, território e processos de mudança.
“Adicionando-se a essa quantia os benefícios estimados em termos qualitativos, pode-se concluir que os benefícios sócio-econômicos do projeto superam os custos mensurados”, elucida Simone. “A Região Metropolitana de São Paulo se beneficiará de qualquer tipo de biodiesel produzindo ganhos em termos ambientais, de saúde e de inclusão sócio-econômica, os três pilares da sustentabilidade”.
A combinação proposta é constituída por 91,8% de diesel comum, 7,7% de etanol e 0,5% de aditivo e pode ser produzida nos próprios postos de distribuição, que fornecem o combustível final para as frotas de ônibus e caminhões da cidade. “A mistura é menos poluente que o diesel comum e mantém a mesma performance motora”, afirma a engenheira, que acrescenta o fato de que a combinação, em comparação ao diesel comum, tem características que ajudam a lubrificar melhor o motor dos veículos, aumentando o intervalo para ações de manutenção.
Para chegar às estimativas do estudo, Simone tomou como base o seguinte cenário da frota paulista: cerca de 180 mil caminhões e aproximadamente 42 mil ônibus (29 mil utilizando a mistura e 13 mil usando diesel comum, ou seja, 70% da frota circulando com a combinação). Com base nesses números, a intenção é que 65% do total de diesel consumido utilizasse a combinação proposta, diminuindo bastante a emissão de gases. A pesquisadora aponta que a implementação da mistura poderia levar a uma redução de 0,7 a 3,4% em eventuais problemas de saúde da população local.
Simone ainda comenta que o crescimento do uso de etanol aumenta a produção de cana-de-açúcar (matéria-prima) e, portanto, contribui para a geração de oportunidades de emprego, diminuição da dependência de produtos importados e redução da emissão de gás-carbônico na atmosfera. “A capacidade para gerar trabalhos agrícolas e industriais como uma resultante da cana-de-açúcar é estimada em 1,5 milhão de empregos”, diz a pesquisadora.