Início do conteúdo

28/03/2022

Diretor da OMS visita a Fiocruz para cooperação em inteligência epidemiológica

Cristina Azevedo e Ciro Oiticica (Agência Fiocruz de Notícias)


A implementação de um hub da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Pandemia e Inteligência Epidemiológica levou a OMS a organizar a visita de uma alta delegação, junto com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), à Fiocruz na última quinta-feira (24/3). Liderada pelo diretor-geral assistente da Divisão de Inteligência e Sistemas de Vigilância de Emergências da Saúde, Chikwe Ihekweazu, que também é o diretor do hub, e Socorro Gross, representante da Opas/OMS no Brasil, a comitiva pôde conhecer mais de perto a atuação da Fundação nesse campo. A ideia do hub, que funciona em Berlim, é agregar mais parceiros, de forma a reforçar o sistema de vigilância internacional.

Delegação da OMS e da Opas realiza visita à Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)

 

Segundo o diretor Chikwe Ihekweazu, o mais importante é descobrir como desenvolver as capacidades dos países de forma a obter melhores dados. “A intenção do hub não é sugar dados dos países e chegar a soluções mágicas, mas trabalhar com nossos Estados-membros para construir coletivamente uma capacidade para trabalhar melhor”, declarou Ihekweazu. “E por que estamos no Brasil? Porque para isso necessitamos de parceiros fortes ao redor do mundo. E não creio que exista um país em que a parceria com nossa organização na região esteja mais estabelecida do que o Brasil. Priorizamos nossa vinda aqui, não apenas ao Brasil, mas à Fiocruz, por reconhecer a interseção entre a saúde pública e a pesquisa”, acrescentou.

Recebido pela presidente Nísia Trindade Lima, as comitivas da OMS e Opas chegaram ainda acompanhadas pelo secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, e pela Coordenadora de Emergência no Brasil, Maria Almiron, além de outros membros do Ministério da Saúde. Nísia destacou os diversos campos de atuação da Fiocruz, lembrando que a Fundação funciona como uma espécie de hub de ciência e tecnologia, e que a vigilância epidemiológica tem sido uma prioridade. “Junto com a vigilância genômica, tínhamos a questão fundamental também da integração e análise de dados”, destacou a presidente.

Priorizamos nossa vinda aqui, não apenas ao Brasil, mas à Fiocruz, por reconhecer a interseção entre a saúde pública e a pesquisa”, afirmou Chikwe Ihekweazu (foto: Peter Ilicciev)

 

Torres de controle

Durante o encontro com a delegação, representantes da Fiocruz puderam apresentar o trabalho que vem sendo desenvolvido na instituição. A representante da Opas, Socorro Gross, destacou a colaboração entre a organização e a Fundação durante a pandemia. “Acontecimentos como os que tivemos despertam um momento de transformação, de agregação de competências, de reflexão e de janelas de oportunidade, onde a saúde novamente se centra no desenvolvimento. E essa janela não tem como se fechar”, afirmou, informando que esta foi a primeira missão da OMS na região em dois anos. 

Medeiros, por sua vez, destacou que a visita foi uma oportunidade especial de compartilhar experiências e construir um sistema de saúde e vigilância melhores. A coordenadora-geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde, Carla Freitas, apresentou a Rede Nacional de Vigilância Genômica e o trabalho da CGLAB (Coordenação-Geral dos Laboratórios Públicos do Brasil / Ministério da Saúde), expondo a complexidade e capilaridade dessa rede de laboratórios. São 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) espalhados pelo Brasil, um em cada capital. Há ainda muitos laboratórios de referência, que monitoram e pesquisam patógenos específicos, e laboratórios de fronteiras, que acompanham os fluxos transfronteiriços. 

Este não foi o primeiro contato entre o diretor geral assistente e Nísia. Em fevereiro de 2020, os dois dividiram um painel no Fórum Global da OMS que discutiu a nova doença: Covid-19. Semanas depois, Ihekweazu viajou a Wuhan, na China, como parte da missão da OMS e encontrou uma cidade fantasma, em quarentena. “Se não aprendermos com o que aconteceu, teremos falhado”, disse.

OMS apresentou à Fiocruz hub criado trabalhar Pandemia e Inteligência Epidemiológica (foto: Peter Ilicciev)
 
 

Para ele, o hub deve funcionar como uma torre de controle de aeroporto: cada país tem o seu, administra o seu próprio espaço aéreo, mas nenhum espaço aéreo trabalha sozinho, já que os aviões viajam para diferentes nações. “Então, é preciso ter uma linguagem comum, normas comuns, para nos comunicarmos. Isto é o que estamos tentando fazer: criar um entendimento de nossos desafios sobre nossa coleta de dados, análises e seu uso, para que possamos ajudar uns aos outros nas decisões a serem tomadas”, disse o diretor. “minha missão hoje é ouvi-los e entender o que estão fazendo”.

Integração de dados

Para explicar o trabalho da Fundação e como os dados se transformam em ferramentas de orientação e aplicação na saúde pública, a Fiocruz contou com as apresentações de Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz; Mauricio Barreto, coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia); e Daniel Vilela, coordenador do Programa de Computação Científica (Procc/Fiocruz).

Marilda lembrou que a colaboração com a OMS remonta a 1951, quando a Fundação foi convidada a ser Centro Nacional de Influenza. Coube a ela explicar como a Rede de Vigilância Genômica foi construída a partir de 2020 e que, após a Covid, pode ser uma plataforma utilizada para outras doenças. Hoje o site apresenta com gráficos as dinâmicas das diferentes variantes do Sars-CoV-2, e quase 37 mil genomas foram sequenciados no território brasileiro. 

“Quando a pandemia começou, uma questão chave para Opas era que nem todos os países tinham capacidade para fazer a vigilância genômica. Opas estabeleceu uma rede, e nosso laboratório é parte dela. Recebemos amostras para sequenciamento de diferentes países”, contou Marilda, que destacou também o desenvolvimento de kits diagnósticos junto com Bio-Manguinhos, hoje usados na maioria dos laboratórios públicos no Brasil.

Maurício Barreto, por sua vez, mostrou como números se transformam em informações aplicadas no dia a dia. Criado em 2016, o Cidacs é um centro para integração de dados para a saúde, num país com uma vasta extensão territorial e com diferentes tipos de registros. Dois exemplos do trabalho do Cidacs foram o levantamento do impacto da dengue durante a gestação, assim como o efeito da zika de longo prazo e seu impacto na mortalidade de bebês de mães infectadas. Barreto ressaltou a qualidade dos dados gerados no Brasil e o desenvolvimento do Índice Brasileiro de Privação, para medir as desigualdades, assim como o trabalho para avaliar a efetividade das vacinas.

“Estamos trabalhando com DataSUS para avaliar efetividade das vacinas pra Covid-19, dados de tão boa qualidade que um estudo foi publicado na Lancet comparando a efetividade da vacina de Oxford no Brasil e na Escócia, um dos melhores centros de dados em saúde, com resultados similares”, disse.

Vilela, por sua vez, mostrou o trabalho do grupo dedicado a modelos matemáticos e estatísticos que está monitorando casos graves de infecções respiratórias, a recente experiência com a Covid-19, e a análise da ligação entre clima e doenças infecciosas. Ele apresentou também o trabalho do InfoDengue, sistema de alerta que monitora casos da doença e que foi estendido também para chikungunya e zika. “O monitoramento da Síndrome Respiratória Aguda Grave foi importante na Covid-19, porque já tínhamos um instrumento pronto desde o início da pandemia”, explicou.

Para o diretor Ihekweazu, será necessário unir esforços para os próximos anos. “A função do hub é reunir expertise de diferentes áreas do mundo para pensarmos juntos a formação de um ambiente de apoio que nos torne melhores, observou.” Novas agendas entre a Fiocruz e a OMS/Opas devem ocorrer ainda para aprofundamento do tema.

Voltar ao topo Voltar