Caracterizar a implementação de diretrizes clínicas e outros mecanismos de melhoria da qualidade assistencial nas operadoras de planos de saúde foi o objetivo de um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz em parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Foram entrevistados os dirigentes de 90 operadoras de todo o Brasil e a grande maioria reconheceu a importância da adoção de diretrizes clínicas – guias com os melhores procedimentos para determinadas situações médicas, elaborados a partir de evidências científicas e da opinião de especialistas. No entanto, apenas um terço das operadoras informou conduzir o uso desses protocolos. Os resultados da pesquisa estão na edição de fevereiro do periódico científico Cadernos de Saúde Pública.
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De acordo com os entrevistados, sociedades médicas e o consenso de especialistas são as principais fontes de diretrizes clínicas |
Os pesquisadores também verificaram diferenças entre as regiões do país. Foi observado que a implementação de diretrizes clínicas era maior no Sudeste e praticamente inexistente no Norte e Nordeste. Outra constatação do estudo é que os protocolos são mais usados nas situações de assistência pré-natal, infecção hospitalar, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, câncer de mama, procedimentos invasivos em cardiologia e câncer de próstata. Por outro lado, transtornos mentais e demência apresentaram os mais baixos percentuais de utilização.
De acordo com os entrevistados, sociedades médicas e o consenso de especialistas são as principais fontes de diretrizes clínicas. Das operadoras que conduziam o uso dessas diretrizes, cerca de 65% avaliavam a adesão de seus prestadores de serviços aos protocolos. Essa avaliação era feita, sobretudo, por meio do acompanhamento de pedidos de exames e medicamentos e da avaliação de prontuários médicos.
A maioria das operadoras disponibilizava serviço de ouvidoria, onde a queixa mais freqüente era o tempo de espera para consultas. Além disso, uma em cada sete operadoras participantes do estudo realizava campanhas de promoção da saúde e prevenção de doenças. Os temas mais comuns dessas campanhas eram hipertensão arterial e diabetes.
Em 2003, 57,2% dos atendimentos em saúde foram feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 26% com a participação integral ou parcial de planos de saúde, que, segundo estimativas, atendem a mais de 43 milhões de brasileiros. Em 2004, o número de operadoras de planos de saúde cadastradas pela ANS já era superior a 1.500. “Um desafio que se apresenta é a incorporação da gestão da clínica como uma dimensão da gestão nas organizações de saúde, entre as quais as operadoras de planos de saúde, considerando que iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade assistencial precisam ser integradas e conduzidas no nível organizacional”, afirmam os pesquisadores no artigo.