Dissertação discute tratamentos empregados contra o câncer de mama

Publicado em
Renata Moehlecke
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No Brasil, as taxas de incidência de câncer de mama em mulheres de 70 a 74 anos apresentam magnitude elevada. No entanto, o tratamento padrão (cirurgia, quimioterapia e radioterapia), utilizado rotineiramente pela população mais jovem, não tem sido empregado integralmente em idosas. Embora a idade avançada seja um fator de risco que muitas vezes justifica a limitação – devido a mudanças fisiológicas associadas ao envelhecimento e à presença comum de outras enfermidades –, em cerca de 15% dos casos não há um motivo aparente para a restrição, que pode influenciar a sobrevida no grupo pela doença e aumentar a mortalidade. Isso é o que esclarece o aluno Luiz Gustavo Torres, em dissertação recém-defendida na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz.


 Incidência de câncer de mama em mulheres de 70 a 74 anos tem aumentado significativamente no Brasil

Incidência de câncer de mama em mulheres de 70 a 74 anos tem aumentado significativamente no Brasil


“Apesar dos esforços realizados nos últimos anos no sentido da inclusão de mulheres idosas em ensaios clínicos e da publicação de algumas recomendações específicas para esse grupo populacional, a decisão terapêutica ainda é influenciada por incertezas e controvérsias, muitas vezes resultando no não recebimento do tratamento padrão, apenas devido à idade avançada”, comenta o pesquisador. “Mas a literatura científica aponta que a maioria das mulheres idosas suporta tão bem quanto as mais jovens tanto a cirurgia conservadora como a mastectomia, e que a idade por si só não seria um fator de risco para o tratamento cirúrgico.”


O estudo de Luiz Gustavo avaliou, durante o ano de 2000, as características clínicas e epidemiológicas de 279 mulheres, de 70 anos ou mais, diagnosticadas com câncer de mama em um hospital de referência, no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Câncer HC III (Inca). Os aspectos relativos aos protocolos de tratamento empregados e à sobrevida nos cinco anos após o início da terapia também foram verificados.


“Embora 90% das mulheres tenham sido consideradas como portadoras de doença curável após a primeira avaliação, apenas 27,7% dessas receberam o tratamento padrão”, afirma Luiz Gustavo. “Foram submetidas a tratamento cirúrgico 77,7% das pacientes da população de estudo e a quimioterapia foi realizada em apenas 11% das pacientes.” Os resultados também mostraram que, quanto mais próximo dos 80 anos chegaram as mulheres, maior era a probabilidade de não receber o tratamento padrão. O relato de doença cardíaca, entretanto, esteve associado ao recebimento da terapia.


A pesquisa ainda apontou que 50% das mulheres examinadas apresentaram estágio avançado da doença, proporção alta quando comparada a outros estudos com o mesmo grupo de análise. A hipótese é que a baixa procura por mamografias por parte dessa população esteja acarretando um diagnóstico tardio do câncer de mama. Em relação à sobrevida, a taxa encontrada nos cinco anos posteriores a terapia foi de 32,9% e registros de hipertensão, diabetes ou cardiopatia no prontuário não apresentaram diferenças estatisticamente significativas nessa porcentagem. Segundo o pesquisador, as idosas que não foram submetidas à radioterapia, após a cirurgia conservadora da mama, tiveram uma redução da sobrevida.


“Embora o estudo seja relativo ao ano 2000, o tratamento do câncer de mama, em suas diferentes modalidades terapêuticas, ainda hoje é realizado na rede pública de saúde sem grandes modificações, o que empresta atualidade a esses achados”, conclui Luiz Gustavo. “Destaca-se aqui a necessidade da definição de um protocolo de tratamento de câncer de mama a ser considerado como padrão para mulheres idosas, com base no tratamento atualmente recomendado às mulheres mais jovens.”