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22/08/2022

Edição de agosto da Radis aborda a covid longa

Revista Radis


Desde sua primeira infecção, a covid se impôs como desafio monumental para a ciência, que concentrou esforços globalmente para investigar desde a transmissão até as formas de tratamento. O desenvolvimento de uma vacina pareceu trazer alívio à rotina extenuante nos centros de pesquisa, até que múltiplas sequelas começaram a ser relatadas por pacientes de todo o mundo. Enquanto a maioria das pessoas que foram infectadas pelo coronavírus se recupera completamente, outra parte continua a sofrer com efeitos de longo prazo em vários órgãos — pulmão, coração, sistema nervoso.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% das pessoas que tiveram covid desenvolvem alguma complicação prolongada. Agora, pesquisadores se debruçam sobre esses mais de 200 sintomas, agrupados genericamente pelo termo covid longa. Se ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente sobre o mecanismo causador dessas sequelas, também há conclusões que já ajudam na assistência aos que, por meses, procuraram serviços de saúde em busca de um diagnóstico. Radis conversou com três pesquisadores brasileiros envolvidos diretamente nessa investigação, para contar o que se sabe.

O que é covid longa?

“Covid longa é um termo cunhado por pacientes para se referir a uma gama de sintomas experimentados por aqueles que tiveram covid-19 depois de se recuperarem dos estágios iniciais da infecção”, resume Margareth Portela, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) que integra a equipe do Observatório Covid-19 Fiocruz.

“São manifestações múltiplas, sistêmicas, que afetam diferentes órgãos, algumas muito graves, sobre as quais ainda não se tem conhecimento suficiente”, acrescenta ela, que participa da busca internacional por respostas coordenando um estudo sobre efeitos da covid longa em sobreviventes de hospitalização por covid no Sistema Único de Saúde (SUS).

O termo vem servindo para abarcar tanto sintomas prolongados da infecção quanto complicações secundárias, e por vezes é substituído por síndrome pós-covid e outras variações. Em novembro de 2020, durante conferência internacional, pesquisadores chineses já apresentavam evidências sobre o aparecimento de manifestações a longo prazo da covid-19 em moradores da cidade de Wuhan, alertando que estas poderiam persistir por ao menos seis meses.

Foi em 6 de outubro de 2021 que a OMS publicou a primeira definição clínica oficial sobre a nova enfermidade, após consulta global envolvendo pacientes e cientistas de todos os continentes: “é a doença que ocorre em pessoas com história de infecção pelo Sars-CoV-2, usualmente depois de três meses do início da fase aguda, com sintomas e efeitos não explicáveis por outro diagnóstico”. Para se ter uma perspectiva histórica, o primeiro caso humano de infecção pelo HIV foi identificado em junho de 1981 e a definição de caso foi desenvolvida apenas em outubro de 1985.

A condição recebeu um código próprio na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10): U09. Diante de tantas incertezas à época, a OMS ressalvou que a definição de pós-covid poderia mudar a qualquer momento, com a descoberta de novas evidências.

Quais são os sintomas?

A variedade de complicações pós-covid é tamanha que a OMS fala em “constelação de sintomas”. Os mais frequentes são fadiga, falta de ar, tosse persistente, dor no peito e distúrbios cognitivos — confusão mental, esquecimento, dificuldade de concentração. Pessoas com essa condição podem ter dificuldades de exercer atividades comuns, como trabalhar e realizar tarefas domésticas simples.

“Conviver com sequelas ou sintomas permanentes é algo difícil para qualquer um”, observa Rafaella Fortini, pesquisadora do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas). “Sequelas mais graves, como redução de mobilidade, dificuldade respiratória, trombose, hipertensão arterial sistêmica, ansiedade, insônia, fadiga, perdas cognitivas ou de memória, afetam muito a rotina das pessoas”. Sequelas mais leves, como perda de olfato e paladar, dores no corpo, tosse persistente, dores de cabeça e perda de cabelos, devem ser consideradas igualmente relevantes, de acordo com Rafaella: ao perdurarem por muito tempo, também são capazes de impactar a qualidade de vida.

A pesquisadora coordenou estudo longitudinal sobre os efeitos da Covid-19, que acompanhou, durante 14 meses, 646 pacientes atendidos no pronto-socorro do Hospital da Baleia e do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, ambos referência para covid-19 em Belo Horizonte. Desse total, 324, ou 50,2%, apresentaram algum tipo de sintoma da covid longa.

A principal queixa foi fadiga (35,6%), que se caracteriza por cansaço extremo e dificuldade para realizar atividades rotineiras. Os participantes relataram ainda tosse persistente (34%), dificuldade para respirar (26,5%), perda do olfato ou paladar (20,1%), dores de cabeça frequentes (17,3%), dores musculares (10,8%), dores no corpo (9%), irritação nos olhos (8%) e mudanças na pressão arterial (7,4%).

Distúrbios mentais, como insônia (8%), ansiedade (7,1%) e vertigem ou tontura (5,6%), também foram registrados. A trombose, uma das sequelas mais graves, foi diagnosticada em 6,2% da população monitorada.

O estudo contabilizou 23 diferentes manifestações, que ainda incluíram diarreia, dor no peito, baixa mobilidade e taquicardia. A maioria dos pesquisados (43,8%) apresentou duas ou três sequelas simultaneamente, mas alguns chegaram a relatar mais de 10 sequelas ao mesmo tempo. Muitas persistiram durante os 14 meses de pesquisa. Uma das exceções foram os casos de trombose, todos tratados, que duraram cerca de cinco meses.

Leia a reportagem completa no site da Radis

Confira a edição de agosto de 2022 da revista na íntegra

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