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10/10/2018

Empreendedorismo em saúde para o SUS é tema de debate

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Coordenação de Gestão Tecnológica da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS) da Fiocruz promoveu o 9º Ciclo de Debates do Sistema Gestec-NIT, com o tema Empreendedorismo científico e tecnológico em saúde na Fiocruz: perspectivas em produtos e serviços para o SUS. O evento foi coordenado pelo vice-presidente de Produção e Inovação em saúde da Fiocruz, Marco Aurelio Krieger, e contou com a participação de representante do Departamento do Complexo Industrial e de Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos estratégicos do Ministério da Saúde e de representante do programa Finep Start Up. Foram apresentados empreendimentos científicos e tecnológicos gerados a partir do conhecimento desenvolvido na Fundação. O debate com o público foi mediado pelo vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Oliveira, e discutiu temas como a importância do caráter inovativo da instituição, tanto em pesquisa, geração de conhecimento quanto em projetos empreendedores para o SUS.

Durante o evento, foram apresentados empreendimentos científicos e tecnológicos gerados a partir do conhecimento desenvolvido na Fundação (foto: Peter Ilicciev)

 

A primeira apresentação foi feira pelo vice-presidente Marco Krieger. Ele disse que a Fiocruz vive um momento importante no empreendedorismo científico. Krieger fez um histórico do empreendedorismo na instituição desde os tempos do patrono Oswaldo Cruz até o presente. “O Instituto Oswaldo Cruz [origem da atual Fiocruz] não foi a primeira instituição de pesquisa do país, mas foi aqui que pela primeira vez se percebeu a necessidade do conhecimento científico para atender às demandas da população. A crise sanitária nos dois principais portos à época, Rio de Janeiro e Santos, resolvida com a grande contribuição de Oswaldo Cruz, foi fundamental para que se firmasse essa percepção da importância da ciência”. O vice-presidente também lembrou que a Fiocruz está fortalecendo seu programa de fomento à inovação, mesmo em meio à atual crise econômica. “Conseguimos um adicional de R$ 100 milhões para inovação para os próximos quatro anos. E ainda um TED de R$ 30 milhões para viabilizar projetos. Ainda precisamos vencer alguns gargalos na produção de conhecimento, mas agora temos cobertura legal para a inovação. A Fiocruz é tradicional, mas nossa maior tradição é sermos inovadores”.

Ele também citou o programa Inova Fiocruz, que contempla três principais eixos: Ideias Inovadoras; Geração do Conhecimento (com chamada diferencial para novos talentos); e Produtos Inovadores. Krieger lembrou o protagonismo da Fiocruz na elaboração da Lei 13.243/2016 e da EC 85/2015 e a participação colaborativa na construção do Decreto 9.283/2018, que regulamenta a Lei 13.243/2016.

Krieger fez um histórico do empreendedorismo na instituição desde os tempos do patrono Oswaldo Cruz até o presente (foto: Peter Ilicciev)

 

Em seguida, a assessora Fotini Santos Toscas, do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, discorreu sobre demandas tecnológicas de produtos e serviços para o SUS. Ela afirmou que os serviços tecnológicos potencializam a capacidade do sistema nacional de inovação, porque fazem a interação entre pesquisa e a inovação, constituem um elo do sistema de CT&I e o sistema econômico, fazem o provimento não apenas econômico, mas também de segurança e eficácia, contribuem para a diversificação orgânica de competências adquiridas e de oportunidades de mercado e atendem à crescente demanda por serviços de maior conteúdo tecnológico. O domínio sobre a obtenção, manutenção e melhoria sobre os registros dos produtos e medicamentos tem se mostrado o elo de elevada complexidade e retorno da operação industrial.

Fotini discorreu ainda sobre a transformação digital dos serviços saúde, incluindo sua estrutura organizacional e operacional, no âmbito dos conceitos de Saúde 4.0 e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), o desenvolvimento e a difusão de melhores práticas de gestão das unidades e estabelecimentos assistenciais de saúde e fortalecimento da atenção básica à saúde e a otimização das redes de atenção regionais e temáticas e dos respectivos sistemas de regulação. Os focos de atuação inicial serão o monitoramento de pacientes, tanto remotos quanto em unidades de saúde; o diagnóstico descentralizado realizado no local do atendimento (point-of-care); e o monitoramento de ativos, insumos e recursos em unidades de saúde. Fottini abordou ainda o lançamento do projeto Hospital 4.0 – InovaHC, este ano, a Estratégia de Saúde Digital (e-Saúde), o DigiSUS, os desafios tecnológicos para o setor farmacêutico. “Todas essas iniciativas serão reunidas no livro Desafios e oportunidades no Complexo Industrial da Saúde em Serviços Tecnológicos, no qual consta um capítulo sobre o Sistema de Gestão Tecnológica e da Inovação da Fiocruz”, observou Fotini.

A pesquisadora Miriam Tendler, do Laboratório de Esquistossomose Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), fez a intervenção seguinte e discorreu sobre o desenvolvimento da Sm14, vacina contra a esquistossomose que é resultado de um desenvolvimento científico longo e coordenado pela Fiocruz. “Esta é uma tarefa urgente, já que até o momento não há vacinas contra doenças parasitárias endêmicas, que afetam desproporcionalmente populações pobres”. Para Miriam, “empreender é fazer acontecer. Não é fácil e nem simples, mas é necessário. Foi a primeira vez no mundo que uma vacina parasitária produzida com tecnologia brasileira de última geração chegou à Fase II de estudos clínicos. Estamos trabalhando para contribuir para o enfrentamento de um problema de saúde pública que afeta populações pobres de diversas localidades do mundo”, destacou Miriam.

A vacina desenvolvida pelo IOC reúne competência científica e capacidade de transformação, o que leva a um processo de inovação voltado para a resolução de uma doença negligenciada, com impacto mundial extremamente significativo. O imunizante, o primeiro para a doença em todo o mundo, é fruto de uma iniciativa enraizada na Fiocruz e também da criação de parcerias público/privado. O projeto está na Fase II de estudos clínicos em uma região hiperendêmica no Senegal, atingida simultaneamente por duas espécies do parasito Schistosoma, causador da doença. A vacina é um dos projetos de pesquisa e desenvolvimento em saúde priorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em seguida foi a vez da pesquisadora Tatiana M. Tilli, da Plataforma de Oncologia Translacional do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). Ela tratou das parcerias e dos projetos da Fundação com instituições como Swissnex, Faperj e Biominas e afirmou que empreendedores veem oportunidades onde outros veem caos, problema e confusão. “Existe um grande gap entre o pesquisador e o paciente e o pesquisador e o médico”. Parceira de Tatiana, a também pesquisadora Ana Paula Dinis Ano Bom, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), apresentou os passos do empreendedorismo e como devem proceder os pesquisadores. No Brasil existem 280 incubadoras e 30 aceleradoras voltadas à inovação. Para Ana Paula, para empreender é necessário paixão, boa ideia, estar preparado para correr riscos, sair da zona de conforto, ter perfil adequado e visão de mercado. Igualmente fundamental é a construção do modelo de negócios.

O pesquisador Antonio Ferreira, de Bio-Manguinhos, abordou o kit ZDC, o teste molecular para detecção da infecção pelos vírus zika, dengue e chikungunya. É utilizada a plataforma de PCR em tempo real para detectar a infecção por esses três vírus nos primeiros dias após a infecção. O produto faz o diagnóstico molecular com detecção e diferenciação da infecção. A inovação é fruto de trabalho integrado de Bio-Manguinhos com o IOC e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), com coordenação do Ministério da Saúde. “O kit pode ser usado para o diagnóstico laboratorial dos três vírus, para dois ou para cada um separadamente e funciona de maneira complementar aos testes sorológicos, que precisam de um período de aproximadamente sete dias após o início dos sintomas para entregar um resultado positivo”, disse o pesquisador. O uso de métodos moleculares tem sido apontado como uma das principais ferramentas para o diagnóstico devido a sua alta sensibilidade e especificidade, diminuindo assim o risco de resultados falso-positivos ou falso-negativos e também por sua importância nos estudos epidemiológicos para o entendimento da distribuição da infecção dentro das populações.

Ferreira afirmou que o Sistema de Automação ZDC desenvolvido por Bio-Manguinhos apresenta muitas vantagens, como a rastreabilidade e otimização dos processos; a extração de ácidos nucleicos padronizada entre os laboratórios e de ácidos nucleicos baseada em “beads magnéticos”; a reprodutibilidade dos processamentos e resultados; a agilização das rotinas e redução do tempo de processamento/obtenção de resultados; a minimização de erros de processamentos; a possível redução de técnicos para o processamento; e a flexibilidade de introduzir novos agravos.

Por fim, Roberto Chiacchio, da Finep, apresentou os resultados do programa Finep Start Up. A instituição atua em um amplo espectro de áreas temáticas, que vão da nanotecnologia às energias renováveis, das construções sustentáveis à agrotecnologia. Segundo Chiacchio, a Finep trabalha como agente do “Estado Empreendedor” e, por meio de seus financiamentos, assume papel de liderança para atingir avanços importantes na capacidade científica e tecnológica, preenchendo assim um gap de apoio e financiamento à inovação.

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