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20/09/2023

Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres debate parcerias em saúde na Fiocruz

Camila De’Carli (Agência Fiocruz de Notícias)


"O que podemos alcançar juntos melhor do que separadamente?": essa foi a indagação que abriu a conferência de Liam Smeeth, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM) no Seminário Internacional Capes-Print Fiocruz, realizado no Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS) da Fiocruz na última terça-feira (19/9). O evento contou com mediação de Cristiani Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz), e Maurício Barreto, diretor do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para a Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia). Em sua primeira visita ao campus de Manguinhos da Fundação, no Rio de Janeiro, o diretor da instituição inglesa também visitou a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) para debater novas parcerias e ampliar ações de cooperação.

Diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), Liam Smeeth abriu a conferência (foto: Camila De’Carli)

 

"O que costumava acontecer era que pessoas, que provavelmente se pareciam um pouco comigo, viajavam para áreas do mundo, faziam seus próprios estudos e depois voltavam. Era assim que a ciência e a saúde global eram feitas. Acreditamos que estamos tentando encontrar um novo caminho nas parcerias e que elas devem ser baseadas em equidade e confiança", afirmou Smeeth.

Para o pesquisador britânico, deve-se cooperar onde há "habilidades, capacidades, recursos e expertises diferentes" a fim de superar os desafios da saúde global que se impõem de forma desigual ao redor do mundo. Entre esses desafios sanitários, ele destacou aqueles trazidos pelas mudanças no clima. "Conforme as temperaturas aumentam, mais pessoas morrem de insolação e ataques cardíacos em dias muito quentes. Há também efeitos indiretos a longo prazo, especialmente quando se pensa na capacidade de cultivar alimentos, e já existem áreas do mundo que costumavam ser muito produtivas em termos de cultivo de alimentos, onde agora nada cresce", disse Smeeth, lembrando que a redução das áreas agricultáveis é agravada por uma população majoritariamente urbana, o que gera impactos desiguais na nutrição. 

"Há cerca de 800 milhões de pessoas no mundo que não têm calorias suficientes para comer todos os dias, e 2 bilhões têm deficiências mensuráveis em sua dieta. Ao mesmo tempo, 2 bilhões de pessoas estão com sobrepeso ou obesas porque estão consumindo calorias em excesso", apontou.

Outra manifestação da desigualdade mencionada por Smeeth foi a mudança nos padrões de doenças. "As doenças não transmissíveis respondem agora, globalmente, por cerca de três quartos das mortes. Mas, nos países de baixa renda, a maioria das mortes ainda ocorre devido a infecções transmissíveis. Esses países enfrentam uma ameaça dupla porque estão começando a sofrer com essas doenças não transmissíveis, mas isso não significa que as infecções estejam desaparecendo", alertou. Neles, a malária e as doenças neonatais ainda aparecem como causas significativas de mortalidade.

Segundo Smeeth, esses são desafios que podem ser enfrentados com pesquisas. Por meio delas, é possível identificar e quantificar as doenças, apontar quem corre mais riscos e estabelecer "o que funciona e o que não funciona". Como exemplo, o pesquisador citou um estudo feito no Mali e em Burkina Faso que indicou os benefícios da quimioprofilaxia sazonal de malária aliada à vacinação para reduzir a incidência da doença nas crianças. 

O seminário de Smeeth fez parte de uma agenda mais ampla da sua primeira visita à Fiocruz. Na segunda-feira (18/9), o pesquisador foi recepcionado no Castelo Mourisco por Cristiani Machado, Maria de Lourdes Oliveira, vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Maurício Barreto, e pelos pesquisadores Gustavo Matta e Vinícius Cotta. 

Após a recepção, Smeeth participou de reuniões no CDHS/Fiocruz e na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), onde foram debatidas possibilidades de cooperação entre a Fiocruz e a LSHTM, com destaque para as áreas de educação e de pesquisas em saúde reprodutiva, mudanças climáticas e vacinas, entre outras. O Núcleo Interdisciplinar sobre Emergências em Saúde Pública do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz), coordenado por Gustavo Matta, já mantém colaboração com o LSHTM desde a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) declarada no Brasil, em 2015, devido ao vírus zika. 

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