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25/09/2017

Especialista da Fiocruz fala sobre câncer do colo de útero

Juliana Xavier (IFF/Fiocruz)


Com aproximadamente 530 mil novos casos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres e a quarta causa mais frequente de morte pela doença, sendo responsável por 265 mil óbitos por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Ainda segundo o Inca, as taxas de incidência estimada e de mortalidade no Brasil apresentam valores intermediários em relação aos países em desenvolvimento, porém são elevadas quando comparadas às de países desenvolvidos com programas de detecção precoce bem estruturados. Dados do Globocan (projeto com objetivo de fornecer estimativas atuais da incidência, mortalidade e prevalência dos principais tipos de câncer, a nível nacional, para 184 países do mundo) mostram que cerca de 85% dos casos de câncer do colo do útero ocorrem nos países menos desenvolvidos e a mortalidade por este câncer varia em até 18 vezes entre as diferentes regiões do mundo.

A doença está associada à infecção persistente por subtipos oncogênicos do vírus HPV (Papilomavírus Humano), especialmente o HPV-16 e o HPV-18, responsáveis por cerca de 70% dos cânceres cervicais. A infecção pelo vírus é muito comum e estima-se que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas irão adquiri-la ao longo de suas vidas, mas apenas 5% irão desenvolver alguma doença (lesões do colo do útero, condilomas e outras menos frequentes). Aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos subtipos 16, 18 ou ambos. “Segundo dados do Inca, comparando esses números com a incidência anual de aproximadamente 500 mil casos de câncer de colo do útero, conclui-se que o câncer é um desfecho raro, mesmo na presença da infecção pelo HPV. Ou seja, a infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento do câncer cervical uterino”, explicou Fábio Russomano, ginecologista da Área de Atenção Clínico-cirúrgica à Mulher e diretor do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

A prevenção pode ser feita de duas formas: por meio da vacina contra o HPV, recomendada pelo Ministério da Saúde (MS), e pela forma tradicional, que consiste na detecção precoce. Esta consiste no rastreamento do câncer inicial e de suas lesões precursoras, prática que reduziu substancialmente a incidência do câncer de colo do útero em vários países desenvolvidos. Segundo Fábio Russomano, o método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame citopatológico (exame de Papanicolaou). Mais recentemente, estratégias de rastreamento com testes de detecção de HPV em mulheres com 30 anos ou mais vem sendo testadas e implementadas em alguns países, seguidas ou não do exame de Papanicolaou.

É importante frisar que esse tipo de câncer tem desenvolvimento muito lento, de até 20 anos, e apenas aproximadamente 1% das mulheres terá uma lesão precursora que, se não for tratada, pode evoluir para o câncer, são chamadas de lesões intraepiteliais de alto grau. O câncer do colo do útero não costuma apresentar manifestações em sua fase inicial, porém, quando aparecem, a mais comum é o sangramento após relações sexuais.

Exame Papanicolaou

Nesse exame, também chamado de "preventivo" ou "exame de lâmina", um profissional de saúde coleta material do colo do útero e coloca numa lâmina de vidro que, posteriormente, será enviada para um laboratório. Na hipótese de a análise indicar células anormais ao microscópio, dentre elas e as mais importantes, as relacionadas às lesões precursoras do câncer do colo do útero, a paciente é encaminhada para confirmação diagnóstica e tratamento. “Detectada a possibilidade de presença de uma lesão precursora, a mulher deve ser encaminhada para colposcopia, exame ginecológico no qual um médico observará o colo do útero através de uma lente de aumento e em seguida, aplicará substâncias que irão ressaltar as alterações de superfície do colo do útero. Dependendo do grau de alteração, de sua localização e da presença de lesão de alto grau no exame Papanicolaou, esta lesão poderá ser retirada durante o primeiro exame, numa prática denominada ‘ver e tratar’. Em outras situações poderá ser necessária uma biópsia ou coleta de novo material para exame citopatológico ou uma pequena cirurgia para retirar uma parte maior do colo do útero, realizada pela vagina e em centro cirúrgico. São técnicas bastante conservadoras, que não implicam, geralmente, em prejuízos para a fertilidade e impedem que as lesões progridam para o câncer do colo do útero”, resume o especialista. Todos os procedimentos são oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O exame de Papanicolaou deve ser realizado a cada três anos após dois exames normais com intervalo de um ano e entre os 25 e 64 anos. O exame deve ser evitado antes dos 25 anos pois, mais frequentemente, podem ser detectadas várias alterações reversíveis que poderiam implicar em exames e procedimentos cirúrgicos desnecessários com prejuízos para a saúde dessas jovens.

Imunização

O Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, a vacina tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos de idade. Esta vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. Atualmente houve uma atualização no público alvo da vacina, a partir de agora, ela passa a ser ofertada para meninos de 11 até 15 anos incompletos (14 anos, 11 meses e 29 dias). A ampliação da faixa etária tem como objetivo aumentar a cobertura vacinal nos adolescentes do sexo masculino.

Com a inclusão desse público, a meta para 2017 é vacinar 80% dos 7,1 milhões de meninos de 11 a 15 anos e 4,3 milhões de meninas de 9 a 15 anos. Também terão direito à vacina, homens e mulheres transplantados e oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia. Além disso, cerca 200 mil crianças e jovens, de ambos os sexos, de 9 a 26 anos vivendo com HIV/Aids, também podem se vacinar contra HPV.

O médico ressalta que como há outros tipos envolvidos no desenvolvimento do câncer do colo do útero, meninas e mulheres vacinadas deverão manter a prática do exame de Papanicolaou para identificar alguma lesão precursora relacionada a tipos menos frequentes de HPV inexistentes nas vacinas atualmente disponíveis no Brasil. “Já está disponível em outros países uma vacina com nove tipos, que promete uma proteção de mais de 95% dos casos. No entanto, o mais importante é a cobertura vacinal, ou seja, atingir o maior número possível de meninas e isso tem sido um desafio para os envolvidos nessa ação. As vacinas contra HPV são seguras e eficazes, representando uma importante estratégia de prevenção”, finaliza Fábio Russomano.

O Ministério da Saúde em parceria com o Inca e sob a coordenação do IFF, lançaram, em 2016, a segunda edição das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, visando auxiliar o processo de identificação de pessoas aparentemente saudáveis que podem estar sob maior risco de doença. Para saber mais clique aqui.

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