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15/09/2011

Estudo vai mapear ocorrência da leptospirose em Manaus

Ana Paula Gioia Lourenço


O crescimento urbano desordenado de Manaus, associado às precárias condições de saneamento e o manejo inadequado do lixo, têm sido causa da proliferação de roedores - os principais transmissores da leptospirose, uma doença infecciosa aguda que acomete o homem e os animais, causada pela bactéria Leptospira. Segundo os dados da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), em 2007 foram notificados 98 casos de leptospirose somente em Manaus, sendo a maioria deles ocorridos com pessoas que residem perto dos igarapés. Diante desse quadro, pesquisadores do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) estão fazendo análises de amostras de sangue de pessoas que residem ou circulam em áreas de risco de contágio, como margens de igarapés e feiras públicas, ao mesmo tempo em que promovem ações educativas para a prevenção contra a leptospirose, que em muitos casos pode passar despercebida, com sintomas leves, e em outros causar a morte.


 Pesquisadora da Fiocruz entrevista vendedor que trabalha na Feira da Banana

Pesquisadora da Fiocruz entrevista vendedor que trabalha na Feira da Banana


Essas ações são parte do projeto Epidemiologia da leptospirose humana no município de Manaus, realizado pela Fiocruz com o apoio do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde, com a colaboração da Semsa, do Departamento de Zoonoses de Manaus, da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do Amazonas e do Laboratório de Referência Nacional para Leptospirose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A pesquisa tem por objetivo estudar a incidência e a prevalência da doença na capital do Amazonas, para isso está traçando o perfil da população exposta a risco de leptospirose e identificando as áreas de risco, bem como as épocas favoráveis de contágio.


Nos meses de novembro de 2010 e março 2011, os pesquisadores, acompanhados de enfermeiros e técnicos de patologia, visitaram casas de palafitas, nas margens de igarapés localizados nos bairros Praça 14 de Janeiro, Cachoeirinha, Glória, Santo Antônio, Compensa 1 e 2, Lírio do Vale, Zumbi dos Palmares, Nova Esperança, Alvorada, Tancredo Neves, Shangrilá e Cidade Nova. Na oportunidade, verificaram as condições de saneamento das casas, aplicaram questionário socioeconômico, desenvolveram atividades de educação ambiental e prevenção da doença, e coletaram sangue dos moradores para análises laboratoriais a fim de detectar se estes já tiveram contato com a bactéria Leptospira. No início de agosto deste ano, fizeram o mesmo trabalho nas feiras Manaus Moderna, Panair, do Japiim, da Banana, e do Produtor – Zona Leste, com o apoio das comissões gestoras destas, visto que reconhecem ser estes lugares propícios, pelo acúmulo de restos de comida que atraem os ratos dos esgotos das proximidades.


Para a presidente da Comissão Gestora da Feira do Produtor – Zona Leste, Nora Nogueira, esta ação da Fiocruz foi positiva, pois as feiras são locais onde há o acumulo de muito lixo, podendo acarretar uma série de doenças. “Estávamos realizando uma campanha sobre coleta seletiva de lixo, com o objetivo de evitar os transtornos que podem trazer para o local e para a saúde dos nossos trabalhadores e das pessoas que compram os produtos vendidos aqui. A Fiocruz veio contribuir com essa ação e ainda dá a oportunidade de fazer um exame para sabermos se já tivemos leptospirose ou não”, declarou Nora.


Segundo Maria Solange Negrão, auxiliar de serviços gerais que trabalha na Feira da Banana há 16 anos, sempre circulam ratos no local advindos dos esgotos e considera importante a campanha de promoção a saúde realizada, pois muitos não conhecem a doença. “Eu sabia que existia a doença, mas não o que fazer para prevenir. O exame também é importante para saber se fomos contaminados”, afirmou. Para Antônio Valdeci de Almeida, carreteiro na feira desde 1995, a desratização é a melhor forma de reduzir a presença de ratos no local, mas há algum tempo não é feito.


A pesquisadora da Fiocruz e mestre em patologia tropical Luciete Almeida relatou que os feirantes e guardadores de carro entrevistados informaram que nesses locais, comumente, são vistos roedores e quando há chuvas fortes com formação de poças e lamas, ou enchentes algumas pessoas adoecem e são diagnosticados com leptospirose. “Estamos coletando amostras de sangue e encaminhando para o laboratório de referência nacional para a leptospirose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz Rio de Janeiro), para conhecer a incidência da doença e as áreas propícias para a proliferação da bactéria”, explicou. Segundo Luciete, em no máximo 30 dias todos os participantes serão contatados para receber o resultado do exame realizado. 


Segundo a coordenadora do projeto e doutora em biotecnologia Ormezinda Fernandes, o estudo preliminar apontou uma subnotificação de casos, tendo em vista que alguns sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, como gripe, dengue, e demais viroses comuns na região, reiterando a necessidade de se realizar uma pesquisa que subsidie conhecimentos sobre a leptospirose na cidade, ações de controle da doença e programas que alertem a população, orientando-a sobre os aspectos de transmissão da doença. Também sugere a criação de uma rede de vigilância para melhorar a comunicação e divulgação dos resultados da análise dos dados epidemiológicos e a espacialização da leptospirose humana em Manaus para um monitoramento contínuo das ocorrências por parte dos setores de zoonose das vigilâncias epidemiológica municipal e estadual.


Sintomas


A leptospirose humana pode manifestar-se de forma leve/moderada (anictérica) ou severa e fatal (ictérica). Tem período de incubação que varia de 2 a 20 dias, sendo os sintomas iniciais semelhantes aos da gripe (febre, cansaço, indisposição, calafrios, dor de cabeça e na panturrilha, náusea, vômito e erupções cutâneas) que depois evoluem para alterações especificas (icterícia, alterações cardiovasculares, dificuldade respiratória, distúrbios neurológicos e disfunção renal).


Como se prevenir


A Leptospira, presente na urina do rato, é disseminada pela água de enchente e penetra no corpo pela pele, principalmente se houver algum ferimento ou arranhão. Então, deve-se evitar qualquer contato com água ou lama provenientes de enchentes, de esgoto ou empoçadas em terrenos baldios, quintais, ou margem de córregos. Alimentos, medicamentos e água de beber contaminados também transmitem a leptospirose pela ingestão caso haja alguma ferida dentro da boca.


Também se deve eliminar as fontes de “abrigo, água e alimentos”, dos roedores por meio das seguintes medidas: acondicionar devidamente o lixo, armazenando-o longe do solo; evitar o acúmulo de objetos inúteis e entulhos nos quintais; manter limpos e desmatados os terrenos baldios e as margens de córregos; fechar buracos entre telhas, paredes e rodapés; manter ralos e vasos sanitários bem tampados; manter alimentos em recipientes bem fechados e a cozinha limpa; bem como retirar todas as noites os pratos de alimentos e água dos animais domésticos.


Publicado em 14/9/2011.

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