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11/11/2005

Estudos que se destacaram na Fiocruz viram debate entre alunos e pesquisadores

Sarita Coelho






A Fiocruz inaugurou um novo meio de integração entre alunos, docentes e pesquisadores ao realizar de forma conjunta, pela primeira vez, a Jornada Científica de Pós-Graduação e a Reunião Anual de Iniciação Científica. Para estimular o contato entre alunos e professores, foram criadas as sessões de comunicação oral, espaços descontraídos destinados a exibições de trabalhos que se destacaram na iniciação científica, no mestrado e no doutorado. Os estudos apresentados na sessão de comunicação oral nesta quarta-feira (09/11) abordavam temas como a saúde de policiais, violência conjugal, aumento da obesidade na população indígena e das doenças crônicas não transmissíveis entre a população geral do país.

 









André Az/Fiocruz




Corina Helena Figueira apresenta seu estudo sobre violência conjugal

A estudante e bolsista de iniciação científica do Centro Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), Camila de Carvalho Meireles, investigou a influência do trabalho noturno na vida de policiais civis do Rio de Janeiro. De 72 questões analisadas, 11 apresentaram diferenças significativas. Entre as quais, a ocorrência maior de policiais do sexo masculino em regime de trabalho noturno, em especial detetives e inspetores com mais de dez anos nesse regime.


Os trabalhadores noturnos apresentaram maior insatisfação com o lazer. Paradoxalmente, tiveram uma maior integração social, com participação em clubes e em práticas esportivas, e maior satisfação com a vida sexual. Os problemas emocionais foram mais freqüentes entre as mulheres. Alguns policiais citaram casos de colegas afastados por surtos psicóticos e sentimentos como tristeza, inutilidade e culpa, em função principalmente da sobrecarga de trabalho e da cobrança da população.


No campo do sofrimento emocional, outro grupo freqüentemente investigado é composto por mulheres que passaram por algum tipo de violência. O estudo de Corina Helena Figueira Mendes, que defendeu tese de doutorado este ano no Instituto Fernandes Figueira (IFF), abordou a percepção da violência e a motivação para engravidar em mulheres freqüentadoras de um centro de atendimento a vítimas de violência.


Procurar ajuda, para essas mulheres, significou assumir uma atitude de mudança, que não necessariamente esteve relacionada com a separação do marido. Muitas relataram que os filhos foram importantes para reparar a relação conjugal. Contudo, a gravidez nem sempre protegeu as mulheres. Em alguns casos, os maridos se tornaram mais agressivos quando a mulher estava grávida. Chamou a atenção da pesquisadora o fato de muitas das mulheres serem analfabetas. Isso as colocava em uma situação de vulnerabilidade em relação aos maridos, até em situações cotidianas, como ler uma bula de remédio.










André Az/Fiocruz




Ana Eliza Purt mostra resultados preliminares

de seu trabalho sobre obesidade em índios

Ainda em fase de conclusão do mestrado na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), a nutricionista Ana Eliza Purt Lourenço apresentou os resultados preliminares de um estudo que avaliou o estado nutricional dos adultos da etnia indígena suruí, de Rondônia. Segundo ela, a introdução de refrigerante, massas, açúcar e óleo na dieta alimentar dos indígenas provocou um aumento da obesidade em especial entre as mulheres. Uma avaliação sócio-econômica baseada no material de construção da casa, no número de dormitórios do domicílio, nos eletrodomésticos existentes e no mobiliário doméstico mostrou que quanto mais ricas (ou mais ocidentalizadas) eram as mulheres mais obesas elas ficavam. Mudanças nos hábitos da aldeia, como a introdução de produtos industrializados e o declínio da agricultura, foram levantadas como hipóteses para explicar o fenômeno.


Mas não foi só a saúde dos índios que se agravou nos últimos anos. A doutoranda do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, Eduarda Cesse, mostrou que houve um aumento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil a partir da segunda metade do século 20. A pesquisa ampla envolveu todas as capitais do país e contou com dados de óbitos dos hospitais, de registro obrigatório pelo Ministério da Saúde.


Em relação às mortes por doenças do aparelho circulatório, ela destacou como curiosidade o aumento de casos no Recife e o decréscimo em Salvador, salientando a necessidade de estudos mais aprofundados, já que as capitais apresentam diversas semelhanças históricas e sócio-econômicas. As neoplasias foram as doenças crônicas que mais cresceram nos últimos anos. Ela cita em especial as capitais dos estados do Acre e de Alagoas, que apresentaram aumento no número de óbitos significativo. Por último, ela falou sobre as diabetes, que vêm apresentando aumento em todo país, com destaque para Teresina.

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