Evento celebra 20 anos da Ouvidoria da Fiocruz

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David Barbosa (Agência Fiocruz de Notícias)
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A Ouvidoria da Fiocruz celebrou seus 20 anos com um evento no auditório do Museu da Vida Fiocruz, no Campus Manguinhos, na quarta-feira (2/4). O encontro rememorou a atuação do setor desde sua criação, em 2005; discutiu o enfrentamento ao assédio e às violências no trabalho; e apresentou a comunicação não-violenta como uma ferramenta de prevenção e resolução de conflitos.

O diretor-executivo da Fiocruz, Juliano Lima, disse que as ouvidorias são “uma instituição do Estado democrático de direito"

Cerca de 80 pessoas estiveram presentes. Participaram da mesa de abertura a ouvidora-geral da União, Ariana Frances; o diretor-executivo Juliano Lima; a coordenadora-geral de Gestão de Pessoas, Andréa da Luz; e a ouvidora-geral da Fiocruz, Daniela Bueno. Após a abertura, Ariana fez uma apresentação sobre o Guia Lilás e o Programa Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e da Discriminação (PFPEAD). Em seguida, Daniela Bueno apresentou um histórico da Ouvidoria da Fiocruz e dados atualizados sobre a atuação do setor. Por fim, a psicanalista Elisama Santos, especialista em comunicação não-violenta, explicou os principais pontos relacionados ao tema. Uma apresentação do Coral Fiocruz encerrou a cerimônia.

Na abertura, Daniela destacou que “este é um momento de celebração e reflexão sobre o que queremos para os próximos 20 anos da Ouvidoria”. Já Ariana lembrou que o setor se propõe a ser “um espaço de diálogo com a sociedade e com as pessoas que fazem a Fiocruz acontecer”. Para a ouvidora-geral da União, “fazer as pessoas utilizarem a Ouvidoria é uma forma de fortalecer a democracia, de nos permearmos ao que vem da sociedade, seja por meio de dúvidas, reclamações, solicitações ou elogios, para que realmente possamos expressar instituições mais democráticas”.

Em sua fala, Juliano Lima reforçou que, mais que um instrumento de comunicação com a sociedade e de aprimoramento da prestação de serviços, as ouvidorias são “uma instituição do Estado democrático de direito. O advento das ouvidorias e da Lei de Acesso à Informação representaram grandes passos no rumo da real construção de uma democracia no Brasil”, afirmou. “Temos uma tradição autoritária, de tentativa de submissão do cidadão do Estado brasileiro. As ouvidorias representam uma mudança nessa relação”.

Já Andréa da Luz frisou o trabalho conjunto realizado pela Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe) e a Ouvidoria, especialmente em relação ao enfrentamento às violências no trabalho. “É com alegria que trabalhamos juntos, mesmo num tema tão duro quanto esse”, enfatizou.

Enfrentamento ao assédio e à discriminação

Este enfrentamento foi o tema principal da palestra de Ariana Frances. A ouvidora-geral da União apresentou o Guia Lilás, lançado pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2023. O documento traz orientações sobre a prevenção do assédio e da discriminação, dá exemplos de situações que devem ser evitadas e ensina como denunciá-las. O guia integra o Programa Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e da Discriminação (PFPEAD), instituído no ano passado com o objetivo de combater todas as formas de violências no trabalho.

“O guia é um repertório de como lidar com essa questão. Muitas situações de assédio moral ou sexual e discriminação começam com pequenos incômodos. Então, é necessário que a gente combata essas questões desde o início”, frisou Ariana. “Qualquer pessoa pode ser vítima de assédio. Às vezes as pessoas que geram esta violência não têm noção do quanto elas atingem a dignidade do outro. Não podemos esperar algo mais grave acontecer para ter uma ação institucional”.

História e atuação da Ouvidoria

Na apresentação sobre a história da Ouvidoria, Daniela Bueno homenageou os ouvidores-gerais anteriores, João Quental e João Barbosa. Também agradeceu aos funcionários integrantes do setor ao longo das duas décadas — como a analista Marcela Vieira, cerimonialista do evento que se emocionou com a homenagem. Daniela também trouxe dados atualizados sobre o serviço, que estarão no relatório de atividades a ser lançado ainda em abril.

Em 2024, a Ouvidoria recebeu 2.453 manifestações — o maior número de sua história —, entre solicitações de providências, reclamações, denúncias, elogios, sugestões e comunicações. Do total, 87% foram enviadas por usuários externos. “A nossa missão é atuar como canal isento e ético na interlocução da sociedade com a Fiocruz. Não estamos aqui para dizer o que queremos à sociedade: é a sociedade quem diz para a Fiocruz o que quer de nós”, disse Daniela.

Comunicação não-violenta

Na palestra sobre comunicação não-violenta, a psicanalista Elisama Santos enfatizou que os conflitos são parte do cotidiano do trabalho, mas devem ser conduzidos de modo a evitar que se transformem em confrontos. “O conflito é essa oportunidade de conhecer o que o outro pensa, que é diferente de mim. Quanto mais diverso um ambiente é, mais conflitos ele terá. Um ambiente sem conflitos é um ambiente de silenciamento”, afirmou. “Nossa meta é que nossos ambientes abarquem bem o conflito, que tenhamos ferramentas para lidar e crescer com eles. A forma como nos comunicamos interfere diretamente no modo como lidamos com os problemas que aparecem.”

Elisama incentivou os participantes do evento a analisarem, desde o começo, os incômodos que sentem nas relações interpessoais, em especial no trabalho, buscando evitar que diferenças de pensamento resultem em divergências mais sérias. “A tendência para ir para o confronto é imensa. Mas quando mediamos um conflito, nossa intenção é mostrar para cada envolvido que o outro não é o problema. Um pode aprender com o outro e pensar, juntos, em formas de resolver aquela situação. Cada pessoa tem uma ferramenta”, destacou.