O Programa da Fiocruz na Antártica entra em uma nova fase. A proposta do Fioantar aprovada nesta quinta-feira (7/12) em edital para os próximos quatro anos prevê a ampliação dos pontos de coleta, o aumento no número de laboratórios da Fundação participantes, uma metodologia de trabalho diferente e parcerias nacionais e internacionais. Como resultado, a coordenadora Luciana Trilles, pesquisadora do Laboratório de Micologia do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), espera uma vigilância em saúde ainda mais robusta no continente gelado.
Os quatro anos de experiência facilitaram a construção do novo projeto (foto: Peter Ilicciev)
A aprovação pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) ocorre quando se desenrolam as últimas expedições do edital anterior. Desde 2019, a equipe do Fioantar publicou três artigos científicos, instalou um laboratório de biossegurança na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), atravessou uma pandemia e coletou amostras que ainda serão estudadas por muitos anos, fortalecendo o Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
A proposta Vigilância de Patógenos, seus Impactos na Saúde Global e Pesquisa do Potencial Biotecnológico da Microbiota Antártica para Saúde solicita mais pontos de coleta e prevê mais uma metodologia: a captura de aves para análises clínicas, e não apenas a coleta de excretas do solo. “Nós vamos agora investigar o que essas aves estão realmente carreando. Porque quando pegamos a excreta do solo, pode ser que aqueles microrganismos não estivessem originalmente nas excretas. Podiam estar no solo. Já quando coletamos um swab ou outro material clínico, aí os resultados ficam mais precisos. Isso dá mais robustez à vigilância em saúde”, explica Luciana, animada.
Se antes oito laboratórios da Fundação participavam do Fioantar para análise das amostras, agora são 11, o que amplia as expertises e a possibilidade de encontrar um número maior de espécies patogênicas de bactérias, fungos e vírus, por exemplo. Participam ainda o Biobanco da Biodiversidade e Saúde, as Vice-Presidências de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz) e de Produção e Inovação em Saúde, o Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz)) e da própria Coordenação de Comunicação Social (CCS/Fiocruz) – parte integrante no processo de divulgação científica.
Outra novidade são as parcerias com instituições brasileiras e estrangeiras. Entre as nacionais estão o Centro Polar e Climático, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS); o Laboratório de Virologia Veterinária de Viçosa (Lavev), na Universidade Federal de Viçosa; a Universidade de Brasília (UnB); a Escola Superior de Defesa; o Instituto de Biologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); e a Universidade Federal Fluminense (UFF). Somam-se a elas instituições internacionais, como o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, de Portugal; o Westerdijk Fungal Biodiversity Institute, da Holanda; e a Université Catholique de Louvain, na Bélgica. “Esse é um desejo do Proantar, que os projetos possam interagir, trabalhar juntos. Somar diferentes expertises e projetos”, observa Luciana.
Os quatro anos de experiência facilitaram a construção do novo projeto, como ver quais novos pontos de coleta deveriam ser agregados, o contato com grupos com os quais a troca de informações e experiências poderia ser enriquecedora para os dois lados. O novo edital cobre o período de 7 de dezembro de 2023 a 31 de dezembro de 2027.
“Um projeto de vigilância precisa ter a ação de continuidade. Não adianta a gente ter o recorte de só um ano ou de um local único. É bom ter uma ideia de uma região geográfica mais ampla e por anos seguidos. Então é isso que a gente vai fazer agora e continuar com as propostas de bioprospecção em saúde, que também é um objetivo importante”, conclui Luciana.