16/06/2012
Tatiane Leal
A Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20 organizado pela sociedade civil, começou no dia 15 de junho com a saúde em pauta. Graças ao espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, resultado de uma articulação entre a Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). No primeiro dia das atividades, que seguem até o dia 21 de junho, o pneumologista e pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Cesteh/ Ensp/ Fiocruz), Hermano Castro, conduziu um debate sobre o banimento do amianto, uma substância mineral tóxica utilizada na construção civil que já causou a morte de milhares de trabalhadores no Brasil e no mundo e representa um risco para a população. Em agosto, será realizada audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) para a proibição do uso da substância no país.
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Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, resultado de uma articulação entre a Fiocruz, a Abrasco e o Cebes. Foto: Tatiane Leal. |
Castro foi o mediador da discussão O futuro que queremos é sem amianto, proposta pela Abrasco e por coalizões internacionais pelo banimento da substância e celebrou a conquista do espaço na Cúpula para das visibilidade às questões relacionadas à saúde. "O espaço na Cúpula dos Povos garante uma ressonância enorme no mundo do que está sendo discutido no Brasil sobre os materiais nocivos que causam danos à saúde da população, como o amianto", ressalta Castro. "Há 20 anos, quando o mundo já discutia o banimento da substância, não conseguimos incluir o tema na Rio 92. Hoje ele está presente no contexto da Rio+20", comemora.
O Brasil é hoje o terceiro maior produtor mundial de amianto e o quarto maior consumidor, segundo dados do Secretariado Internacional pelo Banimento do Amianto (Ibas, na sigla em inglês). Apesar de proibida em cinco estados - Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pernambuco- ainda não há uma lei federal para impedir a utilização da substância, também chamada de abesto. Por ser abundante e barato e possuir propriedades como resitência ao fogo e a ataques químicos, o amianto já foi intensamente utilizado pela indústria, em caixas d'água, telhas e tecidos. Porém, a substância causa câncer de pulmão; asbestose, o endurecimento gradual do tecido pulmonar; mesotelioma, um tumor que mata em até dois anos; doenças pleurais, que causam falta de ar e cansaço crônicos, além de doenças e cânceres de pele.
Fiocruz tem destaque na pesquisa e tratamento das doenças do amianto
Castro ressalta que, ao contrário do que dizem as empresas que tentam justificar o uso da substância, não existe uma utilização segura possível e que todos os tipos de amianto são tóxicos, inclusive a crisotila, que é a espécie presente na mina brasileira em Goiás. "A Fiocruz tem e deve continuar tendo papel preponderante para a promoção da pesquisa, tratamento e ensino relacionados às doenças causadas pelo amianto", defende. "Esperamos que o Brasil possa seguir o exemplo dos 66 países que já a baniram, como a maioria das nações desenvolvidas e como vizinhos da América Latina, entre eles a Argentina e o Chile."
Além de Castro, participaram do debate na Cúpula do Povos Laurie Kazan-Allen (coordenadora da International Ban Asbestos Secretariat - Ibas, Reino Unido), Linda Reinstein, (presidente da Abestos Disease Awareness Organization, Estados Unidos), Fernanda Giannasi (Rede Banabesto), René Mendes (médico e professor aposentado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG), Jefferson Freitas (médico pneumologista e do trabalho), Fabio Villela (Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho), Kaisha Atakhanova (Social Eco Forum, Casaquistão), Alexandra Caterbow (Organisation Women in Europe for a Common Future, Casaquistão), Gilberto Salviano (Central Única dos Trabalhadores - CUT), membros da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) e do Fórum de Bom Jesus da Serra.
O espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade terá uma série de atividades até o dia 21 de junho. Além da questão do amianto, no dia 15/6 houve também debates sobre segurança alimentar e nutricional e sustentabilidade e os desafios persistentes do saneamento básico. Confira a programação aqui completa do espaço da Fiocruz, Abrasco e Cebes.
Serviço:
Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade
Cúpula dos Povos na Rio+20 - Aterro do Flamengo
Próximo à pista de skate - acesso pela R. Silveira Martins
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