25/08/2023
Sílvia Batalha (VPAAPS/Fiocruz)
Com o apoio da Fiocruz, o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) lançou (23/8), no Quilombo do Campinho (RJ), a campanha Territórios Vivos: Cultura, Tradição e Resistência. Construída coletivamente com a participação de comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas de Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, e de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, a campanha pretende mostrar ao mundo a força da cultura como instrumento de luta pelo território, fomentando a troca e transmissão intergeracional de saberes e fazeres e articulando mais políticas públicas para as comunidades tradicionais.
Com o apoio da Fiocruz, o FCT lançou (23/8), no Quilombo do Campinho (RJ), a campanha Territórios Vivos: Cultura, Tradição e Resistência (foto: FCT)
“Para a Fiocruz, a construção de políticas públicas baseadas em territórios e na integração com as comunidades é muito importante. Reforço todo o apoio da presidência da Fiocruz para que, em articulação com o Fórum de Comunidades Tradicionais, essas nossas articulações com o território tenham pleno sucesso”, destacou o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.
A campanha Territórios Vivos sucede a campanha Cuidar é Resistir, iniciada em 2020 em decorrência dos fortes impactos trazidos pela pandemia de Covid-19. Também apoiada pela Fiocruz por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), a rede de solidariedade do FCT beneficiou cerca de 7 mil famílias em mais de 130 comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas com mais de 23 mil cestas básicas com alimentos não perecíveis e kits de higiene e limpeza. Deste total, mais de 20 mil quilos de pescado e 19 toneladas de alimentos agroecológicos vieram diretamente do trabalho nas roças e no mar realizado pelas comunidades tradicionais e pela agricultura familiar.
“Nós, na Fiocruz, reconhecemos o valor inestimável das culturas e tradições das comunidades tradicionais e entendemos como elas são fundamentais para a saúde e o bem-estar de todos. Esta campanha é mais do que um chamado à ação, é um convite para celebrarmos a diversidade cultural e promovermos a defesa de nossos patrimônios culturais e territoriais”, completa Hermano Castro, vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz).
Frentes de ação
Lançada na Reunião Ampliada do Fórum de Comunidades Tradicionais, realizada no Quilombo do Campinho (RJ), a campanha Territórios Vivos propõe quatro linhas de ação: Trocas e transmissão intergeracional de saberes e fazeres, Diálogo e articulação de políticas públicas culturais, Formação e capacitação em saberes e fazeres da economia da cultura, e Produção de atividades de visibilidade das culturas tradicionais.
Na primeira linha de ação, a campanha tem, entre outros objetivos, a realização de rodas de diálogo, troca e transmissão de saberes e fazeres com participação de mestras e mestres e das juventudes comunitárias, o reconhecimento dos mestres e mestras com a entrega de certificados de notório saber, a construção do Calendário das Culturas Tradicionais e ações diretas de defesa de espaços culturais e históricos dos nossos territórios, como ranchos, roças, casas de farinha e casas de reza.
A campanha 'Territórios Vivos' sucede a campanha 'Cuidar é Resistir', iniciada em 2020 em decorrência dos fortes impactos trazidos pela pandemia de Covid-19 (foto: FCT)
Na segunda linha de ação, dedicada às políticas públicas, a campanha prevê a realização de um diagnóstico das políticas públicas e orçamentos de cultura dos municípios onde atuamos, a ampliação da participação do FCT em conselhos municipais e conferências de cultura, e o diálogo com órgãos de proteção do patrimônio sobre a salvaguarda do patrimônio material e imaterial das comunidades, incluindo a área de abrangência do sítio misto do patrimônio mundial da Unesco em Paraty e Ilha Grande.
Já na terceira linha de ação, dedicada à formação, a campanha prevê atividades formativas em produção cultural, políticas públicas e legislação na área da cultura, a realização de intercâmbios entre as comunidades e com comunidades fora do território para troca de saberes, e a formação continuada de candidatas e candidatos do FCT que venham a participar das eleições municipais no ano que vem.
Campanha pretende mostrar ao mundo a força da cultura como instrumento de luta pelo território (foto: FCT)
Por fim, o quarto eixo de ação da campanha, dedicado à visibilidade, prevê a organização de atividades de diálogo nas periferias das cidades, a promoção de lançamentos e atos políticos, e a realização de festivais culturais nas cidades onde atuamos.
“Quando a gente vê o caminho que estamos trilhando, isso permite que a gente sonhe. E a Campanha serve para a gente sonhar e cuidar do território, da cultura, da arte, das crianças, dos mais velhos, dos rios, das sementes. É uma campanha do Fórum, mas sobretudo uma campanha de todos nós. Porque ou a gente se junta para fazer essa luta organizada, ou nosso projeto não conseguirá avançar na defesa deste patrimônio que é de toda a humanidade”, destaca Vagner do Nascimento, integrante da coordenação colegiada do FCT.
OTSS
Criado em 2009 a partir de uma parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) é um espaço tecnopolítico de geração de conhecimento crítico, a partir do diálogo entre saber tradicional e científico, para o desenvolvimento de estratégias que promovam sustentabilidade, saúde e direitos para o bem viver das comunidades tradicionais em seus territórios.
Sob coordenação da VPAAPS/Fiocruz e com apoio da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), o OTSS atua em mais de cem territórios indígenas, quilombolas e caiçaras localizados no litoral sul do Rio de Janeiro e no litoral Norte de São Paulo. Sua atuação envolve as áreas de saneamento ecológico, agroecologia, turismo de base comunitária (TBC), promoção da saúde, educação diferenciada, justiça socioambiental, pesca artesanal, cartografia social, cooperação internacional e incubação de tecnologias sociais e monitoramento territorializado da Agenda 2030.