Início do conteúdo

25/08/2014

Fiocruz capacita moradores de Manguinhos para a realização de pesquisas em saúde

Claudio Oliveira / Portal Fiocruz


Composta em sua maioria por mulheres, o Complexo de Manguinhos conta, segundo o Censo 2010, com mais de 20 mil moradores. Destes, 36% apresentam problemas relacionados a pressão alta, 44% foram internados devido a motivos clínicos como infarto e derrame e 45% são atendidos nos serviços públicos da região. Esses e outros números foram obtidos após um trabalho de pesquisa realizado por moradores do próprio complexo, capacitados pelo Projeto Território Integrado de Atenção à Saúde de Manguinhos (Teias-Escola Manguinhos), uma iniciativa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que buscou analisar as condições de saúde na comunidade carioca, ao mesmo tempo em que capacitava e oferecia oportunidades profissionais aos seus moradores.

Débora Theodoro foi uma das entrevistadoras do projeto e hoje trabalha em outras áreas da Fundação (foto: Claudio Oliveira)

 

No total, os participantes realizaram 955 entrevistas domiciliares, incluindo 2.918 famílias e 883 entrevistas individuais. Todas eles aprenderam técnicas específicas para pesquisa de campo e, atualmente, esse conhecimento está sendo aproveitado em outras iniciativas da Fundação. Para integrarem a equipe de entrevistadores, todos os inscritos passaram por um processo seletivo e, posteriormente, 20 aprovados foram encaminhados para a capacitação. Destes, 10 ficaram em um cadastro de reserva, que acabou sendo aproveitado, e o restante foi contratado pelo projeto, como explica Cintia Ramos, uma das aprovadas para a pesquisa: “O processo seletivo durou todo o mês de janeiro. Nesse tempo nos passaram informações sobre o projeto, termos de consentimento, formas de abordagem, noções de epidemiologia, entre outras coisas. Como teste, fazíamos uma dinâmica onde entrevistávamos um ao outro”.

Segundo Débora Theodoro, outra entrevistadora do projeto, a capacitação ia desde o conhecimento do software utilizado, até saber como proceder em casos de abordagens de policiais ou traficantes. “Antes de irmos a campo, nos ensinaram como se aborda as pessoas, a parte teórica, princípios do SUS, uso do notebook para a inclusão dos dados da pesquisa, entre outras coisas. Além disso, tivemos orientação sobre como proceder em uma comunidade com tráfico de drogas”.

Segundo os entrevistadores, a receptividade dos moradores de Manguinhos foi grande. O maior desafio para sua conclusão não estava na dificuldade para a realização de entrevistas, mas no mapeamento das casas e na violência gerada pelo enfrentamento entre policiais e traficantes. De acordo com o entrevistador Mariano Varjão Alves Junior, a intensidade com que as operações ocorriam fizeram com que o trabalho se tornasse um desafio. “Não achava que seria um desafio tão grande. Havia dificuldades com o tráfico, as operações policiais e alguma desconfiança por parte dos moradores. Lembro que, em abril, chegamos a ficar 15 dias sem trabalhar porque as operações da polícia eram muito constantes antes da chegada da UPP [Unidade de Polícia Pacificadora]”.

Experiência é aproveitada em outras ações

Apesar das dificuldades encontradas, boa parte da equipe seguiu na Fiocruz e foi aproveitada como bolsista em outros projetos da Fundação. Uma delas é Ana Paula Josefa da Silva, que desde o encerramento do Teias já trabalhou no Centro de Saúde da Ensp/Fiocruz e em uma pesquisa sobre idosos e nutrição. “Eu sempre tive vontade de trabalhar na Fiocruz e só posso agradecer as minhas coordenadoras e supervisoras. Elas formaram uma equipe que virou uma família. Atualmente, continuo fazendo pesquisa de campo em Manguinhos, só que o foco agora é o saneamento básico”.

Assim como Ana Paula, Débora também seguiu exercendo outras atividades da Fundação, e aponta sua participação no projeto como estímulo para a realização de um curso de graduação. “Eu fiquei muito animada depois que soube como uma pesquisa é feita. Via o resultado de pesquisas da Fiocruz em matérias na tevê... Agora sei como tudo acontece. Quando o projeto Teias acabou, fui trabalhar no Elsa [Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto], onde estou até hoje. Estar aqui me deu ânimo para fazer uma faculdade. Estou no segundo período do curso de Serviço Social”. 

Além da possibilidade de continuar trabalhando em projetos da Fiocruz, os profissionais também destacaram o aumento do interesse por temas ligados à saúde. Segundo Cintia Ramos, conhecer a Fiocruz por dentro foi fundamental para essa atração pelo tema. “Conheci mais sobre as doenças, prevenção e me interessei pelo assunto durante o curso. Comecei a ver que aquele mundo era meu. Depois do Teias, acabei fazendo outros cursos aqui na Fiocruz, como o de análises clínicas, e agora penso em estudar biologia."

O Epidengue 006 é outro projeto da Fiocruz que aproveitou a experiência acumulada pela equipe do Projeto Teias. Logo após o término do projeto, Mariano foi convidado para ser bolsista no projeto Coorte Dengue, onde era responsável por trazer gestantes para consultas e identificar o motivo que fazia com essas mães eventualmente não fossem se consultar. De lá, passou a integrar a equipe do Epidengue006 como supervisor, onde está até hoje. “Hoje trabalho na supervisão de área. Dou auxílio à equipe de pesquisadores, uma vez que as casas visitadas para a pesquisa são as mesmas que percorremos no Projeto Teias”.

Os resultados do projeto, realizado através de uma parceria entre a Ensp/Fiocruz, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS/RJ) e a Defesa Civil do Rio de Janeiro, podem ser acessados na internet ou consultados na cartilha Como vai a sua saúde: resultados da pesquisa sobre a situação de saúde dos moradores da região de Manguinhos, publicada pela Ensp. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail pesquisa-teias@fiocruz.br ou diretamente no site do projeto.

Voltar ao topo Voltar