28/05/2020
Márcia Corrêa e Castro (Canal Saúde) e Regina Castro (CCS/Fiocruz)
O projeto Fiocruz contra a Covid-19 vai beneficiar, em todo o país, 145 projetos voltados a populações vulneráveis, como quilombolas, indígenas, ribeirinhos e moradores de favela. A iniciativa alcança mais de 80 municípios de todos os estados brasileiros. Os projetos foram selecionados por meio da Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais de Enfrentamento à Covid-19 junto a Populações Vulneráveis. Entre os projetos aprovados, 56 serão realizados no Nordeste, 50 no Sudeste, 19 no Norte e 10 tanto no Sul, quanto no Centro Oeste.
Ao todo, mais de 800 organizações não governamentais se inscreveram, optando por uma ou mais de cinco áreas temáticas de interesse. Entre os projetos selecionados, 110 incluem ações de segurança alimentar, 101 preveem atividades de comunicação, 95 trabalham os protocolos de higiene coletiva e individual (com distribuição de produtos de limpeza, por exemplo), 73 dedicam-se à assistência de grupos de risco e 28 voltam-se ao tema da saúde mental.
As propostas se encaixam em três faixas de financiamento, segundo o orçamento apresentado: até R$10 mil; até R$25 mil e até R$50 mil. Ao todo, serão investidos 4,5 milhões de reais, provenientes de doações feitas à Fiocruz para aplicação em ações humanitárias.
Além dos recursos financeiros, todos as organizações selecionadas terão apoio técnico da Fiocruz. Para isso foi estruturada uma equipe de 70 profissionais, que farão o acompanhamento dos projetos. Eles serão responsáveis por validar os conteúdos informativos produzidos e distribuídos no âmbito dos projetos e vão orientar as organizações para a execução segura das atividades previstas.
Projetos
Entre os projetos selecionados está a ação Jovens Comunicadores, desenvolvido na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. A iniciativa realiza, pela Internet, a formação de jovens moradores de favela para que eles atuem como multiplicadores de informações confiáveis sobre Covid-19 em suas comunidades, usando redes sociais (principalmente o WhatsApp). Além da formação, os recebem uma bolsa de R$ 250 ao longo de quatro meses. Com esse recurso os jovens podem se manter em casa, respeitando o isolamento social durante o período da pandemia. O financiamento de R$49 mil ofertado pela Fiocruz possibilitará que o programa inclua mais 30 jovens aos 500 que já são atendidos pelo projeto.
O campeão na faixa de R$25 mil foi a Associação Indígena Krãnhmenti, localizada no muncípio de Banach, interior do Pará. Eles vão usar o recurso obtido para realizar uma campanha bilíngue (português e Mebêngôkre-Kayapó) de esclarecimento sobre o enfrentamento da pandemia. Também vão produzir máscaras e distribuí-las, junto com cestas básicas, a 50 famílias da etnia kayapó na região.
Outro destaque entre os projetos com orçamento de até R$50mil, a ação LGBTI X Corona se dirige principalmente à transexuais e travestis. Proposto pelo Grupo Arco-Íris do Rio de Janeiro, a proposta prevê uma campanha informativa que aborde a prevenção à transmissão ao coronavírus, a questão do sexo em tempos de pandemia e orientações para pessoas que vivem com HIV/Aids. Além disso disponibilizam a esse grupo social profissionais de psicologia que oferecerão atendimento em salas virtuais e ou por telefone.
Na região Sul, um dos 10 projetos selecionados será executado pela Associação de Cultura Hip Hop de Esteio, no estado do Rio Grande do Sul. Eles vão distribuir 350 cestas básicas em comunidades em situação de vulnerabilidade social, ao mesmo tempo em que usam a cultura hip hop (música e grafite) para sensiblizar a população desses territórios quanto ao cumprimento das medidas de higiene coletiva e individual.
No estado de São Paulo, o grupo Geledés foi selecionado para executar um projeto que enfrenta a violência doméstica em tempos de isolamento social. A ação, que alcançará a região metropolitana do estado, disponibiliza um aplicativo de celular, por meio do qual mulheres podem, com um único toque, acionar contatos específicos de suas redes sociais numa situação de violência.