31/05/2023
Pamela Lang (Agência Fiocruz de Notícias)
A pandemia deixou um importante aprendizado para diversos países que tiveram que investir em estruturas ou que já dispunham de capacidade de resposta para emergências sanitárias. Mas o que se viu também foram respostas desiguais e uma assimetria entre os países na vigilância de patógenos e no acesso a vacinas e insumos. Como manter as capacidades geradas pela pandemia e, ao mesmo, potencializar respostas mais justas entre os países para as próximas emergências?
Preparação para novas emergências foi um dos temas centrais das reuniões bilaterais (foto: Pamela Lang)
Durante a 76ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que terminou nesta terça-feira (30/5), a preparação para novas emergências foi um dos temas centrais das reuniões bilaterais. Como instituição que tem papel estratégico na resposta a epidemias e pandemias, a Fiocruz foi convidada pelo Ministério da Saúde a participar de parte dessas reuniões. A agenda internacional foi intensa: em apenas quatro dias, a Fiocruz participou de reuniões com ministros de oito países (África do Sul, Argentina, Chile, França, Holanda, Índia, Portugal e Singapura), além de encontro específico com ministros da Saúde dos Brics, somando à lista, portanto, China e Rússia, e com a direção da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).
“A pandemia trouxe à tona um problema, que já se apresentava, de grande assimetria no acesso a produtos de saúde, com destaque para as vacinas. Estamos discutindo com várias agências e governos a questão da produção local, ou, como prefiro dizer, uma proposta de co-produção regional de produtos de saúde, como vacinas, medicamentos e equipamentos. A Fiocruz, como um grande produtor de vacinas e kits de diagnósticos laboratoriais terá um papel muito importante na questão da segurança do fornecimento de vacinas e no suprimento de insumos para as demandas da região em caso de futuras emergências”, esclarece o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.
Para o presidente, no entanto, não se trata apenas do fornecimento, mas de capacitar os outros países de forma estruturante, para que se tenha uma articulação para a geração de respostas locais e regionais: “a Fiocruz pode contribuir para o desenvolvimento de novas vacinas que se relacionem com o quadro sanitário da região e, mais importante do que isso, é o papel que podemos ter, em alinhamento com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), na disseminação de tecnologias, no treinamento e na capacitação dos países que desejem desenvolver essa indústria a favor da saúde pública de seu país. Trata-se de estabelecer uma base industrial mais justa, articulada e democrática nas regiões para que se desenvolvam mecanismos de acelerar a produção em crises futuras”, complementa Mario Moreira.
Fiocruz foi convidada pelo Ministério da Saúde a participar de parte dessas reuniões bilaterais (foto: Pamela Lang)
Esses pontos foram especialmente abordados nas reuniões com os países que compõem os Brics e com as ministras da Argentina e do Chile, no sentido de fortalecimento do Mercosul e da cooperação técnico-científica entre esses países. Ainda no tema de preparação para emergências sanitárias, outro destaque da participação da Fiocruz na Assembleia foi a assinatura (22/5) de um memorando de entendimento (MdE) com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para cooperação com o hub para Inteligência Pandêmica e Epidêmica da OMS, com sede em Berlim, na Alemanha. A colaboração tem como um dos pontos centrais o desenvolvimento de ferramentas mais fortes de integração de dados de vigilância, aproveitando as plataformas e serviços da Fiocruz já existentes. A partir do hub e da Rede Internacional de Vigilância de Patógenos, da qual a Fundação também faz parte como membro do fórum de líderes, a Fiocruz participará de projetos globais no tema e poderá atuar na cooperação com a América Latina e a África.
Clima e saúde: do impacto das mudanças climáticas à saúde planetária
Além das reuniões bilaterais, a Fiocruz também conduziu reuniões paralelas com agências e instituições para buscar aproximações e possibilidades de novas parcerias. Foram tratados temas atuais e relevantes para o futuro da saúde, na perspectiva da saúde como parte de um sistema complexo global, como a saúde digital, mudanças climáticas e impactos sobre a saúde humana, saúde única e saúde planetária.
Em reunião com a Fundação Mérieux, o presidente destacou ainda a possibilidade de parceria para pesquisas (foto: Pamela Lang)
Para isso, a delegação da Fiocruz esteve reunida com o diretor executivo da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi na sigla em inglês), Luis Pizarro; a diretora do Centro de Saúde Global do Instituto de Pós-Graduação de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento, em Genebra, Ilona Kickbusch; o diretor-executivo da Unitaid, Philippe Duneton; o diretor-executivo do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, Peter Sands; o diretor de Operações da Fundação Mérieux, Pascal Vincelot; o pesquisador do Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS), Pedro Albajar; diretor de parcerias globais da organização Healthcare without Harm, Josh Karliner; o diretor-executivo do Medicines Patent Pool (MPP), Charles Gore; e o diretor John Reeder e o gerente Garry Aslanyan, do Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (em inglês, Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases, na sigla TDR).
“A Fiocruz já vem atuando na perspectiva da saúde única há algum tempo, especialmente no campo da saúde global e da diplomacia em saúde. Mas precisamos avançar nessa agenda de cooperação, trazendo para a instituição o compromisso de integrar a saúde planetária e a saúde digital às nossas áreas finalísticas”, comenta o presidente Mario Moreira.
Em reunião com a Fundação Mérieux, o presidente destacou ainda a possibilidade de parceria para pesquisas no estado do Acre dedicadas ao tema de clima e saúde, saúde única e vigilância. “Trata-se ainda de uma aproximação inicial e estamos em fase de elaboração de projeto para delimitar a nossa área de atuação, mas o Acre é um local estratégico na região, por estar no bioma amazônico e na região de fronteira com Peru e Bolívia, e precisamos avançar nas pesquisas em mudanças climáticas, saúde única e a vigilância genômica dentro desse contexto”, explica Moreira.
Presidente da Fiocruz, Mario Moreira participou também de encontro da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, com o Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom (foto: Pamela Lang)
No último dia de reuniões em Genebra, o presidente da Fiocruz participou também de encontro da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. “Ao longo de toda a Assembleia Mundial da Saúde, a Fiocruz se colocou como instituição estratégica, capaz de apoiar e dar respostas às demandas do governo brasileiro. Acumulamos capacidade técnico-científica e de produção durante a pandemia e agora temos o papel de nos colocarmos não apenas à disposição do Ministério da Saúde, mas de nos prepararmos para operar na esfera concreta das políticas de respostas que o MS julgar mais adequadas em novos contextos”, conclui o presidente da Fiocruz.