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14/11/2018

Fiocruz forma turma voltada para políticas públicas em favelas

Luiza Gomes (Cooperação Social da Fiocruz)


Dezenove trabalhadores e trabalhadoras se formaram na edição de 2018 do curso Estratégias para Territorialização de Políticas Públicas em Favelas, promovido pela Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), na última quinta-feira (8/11). Para chegarem ao ponto culminante da formação, foram 5 meses de aulas, 130 horas e cinco encontros reagendados em função de tiroteios. 

Turma foi dividida em grupos e construiu coletivamente três propostas destinadas aos territórios da Maré, Manguinhos e do Jacarezinho (foto: Roberta Nunes, Cooperação Social da Fiocruz)

 

Os incidentes, corriqueiros para quem mora ou trabalha nas chamadas áreas de risco, ilustram e justificam a proposta do curso, que tem como principal fundamento político-pedagógico oferecer a atores sociais de territórios vulnerabilizados uma formação livre que articule os saberes acadêmicos e populares para traçar estratégias que reforcem relações democráticas nessas localidades e possam contribuir na promoção de territórios urbanos saudáveis.

Para isso, o curso se compõe de dois módulos independentes: o primeiro, chamado Governança Territorial Democrática, reúne bases conceituais para produção de diagnósticos sociais das demandas mais urgentes nesses territórios; e no segundo módulo, Elaboração de projetos sociocomunitários, são apresentadas diferentes metodologias de redação de projetos, formação de redes solidárias e captação de recursos. 

Ao final do curso, a turma foi dividida em grupos e construiu coletivamente três propostas destinadas aos territórios da Maré, Manguinhos e do Jacarezinho. Como forma de oferecer assessoramento continuado às iniciativas, a coordenação do curso disponibiliza um grupo de WhatsApp do qual participam professores e alunos. 

Controle social de políticas públicas

Durante a solenidade, o coordenador da Cooperação Social da Fiocruz, Leonídio Madureira, parabenizou a persistência dos estudantes e enfatizou a importância de a Fiocruz continuar promovendo cursos que contemplem a realidade de populações residentes em territórios vulnerabilizados. Leonídio citou como exemplo o Curso de Saúde Comunitária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), cursos de atualização realizados pelo Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural (DHIS) da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), e outras formações da Cooperação em parceria com a EPSJV, como o Curso de Gestão Participativa em Saúde.

“Se a proposta é que a sociedade civil possa incidir sobre as políticas públicas que a atendem é preciso um leque de formação ampla, visando que sejam potencializadas suas capacidades de participar e exercer o controle social dessas políticas para a melhoria da qualidade de vida, redução das desigualdades, e valorização da pessoa humana”, afirmou.

Coordenador da Cooperação Social da Fiocruz, Leonídio Madureira parabenizou a persistência dos estudantes e enfatizou a importância de a Fiocruz continuar promovendo cursos que contemplem a realidade de populações residentes em territórios vulnerabilizados (foto: Roberta Nunes, Cooperação Social da Fiocruz)

 

Coordenador do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde da Escola Politécnica, Alexandre Pessoa destacou a proposta do curso de formar multiplicadores e reforçar as capacidades das organizações comunitárias, e que esse objetivo fortalece a Fiocruz e o Sistema Único de Saúde (SUS).  

Maria Helena Barros, coordenadora do DHIS, citou o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos sobre o papel da Extensão nas instituições acadêmicas. “Existe um tipo de extensão que é fundamental e feita ao contrário: [com protagonismo das organizações dos territórios em relação às instituições acadêmicas], e que está presente nesse curso. Essa iniciativa mostra exatamente isso, o esforço e importância de construirmos projetos coletivos”, disse. 

Carlos Maurício Barreto, vice-diretor de Ensino e Informação da EPSJV destacou integração de unidades e instâncias da Fiocruz com missões distintas se articulando em benefício da saúde e da educação no país. “Ao mesmo tempo, em um curso como esse, testemunhamos a intensificação do protagonismo da sociedade civil organizada, fato indispensável à confirmação de um tipo de país generoso, solidário e ecumênico”, constatou.

Em sua fala, a representante da turma “Marielle Franco” e moradora da Maré, Maria Mônica dos Santos, reconheceu o papel da Fiocruz como instituição federal de ensino e pesquisa na difusão do conhecimento. “Quando você gera conhecimento, você gera empoderamento. E quando as pessoas se sentem empoderadas, sentem que são capazes de superar muitas questões que vêm à frente”, comentou. A psicóloga também valorizou as trocas que ocorreram no curso e a importância da formação para os territórios a que se destina. 

“Quando somos levados a pensar sobre estratégias para territorializar as políticas públicas em locais como as favelas, pensamos logo que é um local vulnerabilizado, que convive com muitas dificuldades. Mas também entendemos que dentro deles existe enorme potencialidade”, afirmou. 

Cooperação Social da Fiocruz

A Fiocruz atua, historicamente, para além da produção de fármacos e vacinas, de ensino, da pesquisa e da assistência em saúde. A melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento social da população brasileira também fazem parte das suas ações. Desde os anos 1960, a Fundação implementa projetos sociais no território onde está inserido o campus de Manguinhos. Em 2003, esse compromisso foi institucionalizado com a criação de uma assessoria ligada diretamente à Presidência da Fundação Oswaldo Cruz: a Coordenação de Projetos Sociais, hoje intitulada Coordenação de Cooperação Social. 

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