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02/04/2015

Fiocruz investe em ações preventivas para a dengue

Carolina Landi e Renata Moehlecke


Dados recentes do Ministério da Saúde (MS) apontam que a dengue, após uma queda do número de casos em 2014, voltou com intensidade no primeiro bimestre de 2015: o levantamento indica um crescimento de 139% na notificação de casos da doença nos dois primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2014 e 94,6 mil novos casos confirmados em todo o Brasil. Diante desse cenário preocupante, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) têm ressaltado que a melhor forma de se prevenir contra a doença ainda é o combate ao mosquito vetor. Com essa meta em mente, especialistas do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC e do Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores (Nosmove) têm dado o exemplo dentro de casa, investindo em ações contínuas no campus da Fiocruz em Manguinhos no Rio de Janeiro.

Na Fiocruz, o monitoramento do vetor principal e potencial da doença, as espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus respectivamente, é realizado continuamente durante o ano inteiro (foto: acervo CCS)

 

O trabalho realizado pelo Nosmove, que também conta com a participação da Diretoria de Administração do Campus (Dirac/Fiocruz) e da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS), visa não só identificar possíveis focos do mosquito Aedes aegypti dentro da Fiocruz, mas também intervir e contribuir para a análise e divulgação de informações imprescindíveis ao combate do vetor da doença. “Nossa missão é realizar um serviço contínuo de vigilância entomológica na Fundação. Temos dois grandes eixos centrais: um técnico-operacional, pois prestamos serviços para toda a Fiocruz contribuindo para a saúde do trabalhador e das pessoas que transitam no campus, e um sentinela, relacionado à pesquisa, que inclui a orientação de dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre dengue e seus vetores, formação, capacitação e atualização de recursos humanos e divulgação científica”, esclareceu a pesquisadora e coordenadora do Nosmove, Nildimar Honório.

Nildimar complementa que o monitoramento do vetor principal e potencial da doença, as espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus respectivamente, é realizado continuamente durante o ano inteiro. “Como temos muitas obras, calhas e cisternas, às vezes abertas, e bandejas de ar condicionado que podem se tornar criadouros, são feitas vistorias periódicas em todo o campus, intensificadas nos períodos de alta incidência da doença, como o verão”, destacou. “Também podemos contar com a ajuda dos próprios funcionários, estudantes, e visitantes que transitam no campus da Fiocruz para a indicação da presença de possíveis focos do Ae. aegypti. Existem três telefones no Núcleo disponíveis para essa notificação (2562-1060, 2209-2181 e 2209-2191)”.  

Para a coleta das formas imaturas dos vetores da doença (ovos do mosquito), o Nosmove investe em armadilhas chamadas ovitrampas. “Trata-se de um vaso preto de plástico contendo água e infusão de feno, onde fica imersa uma palheta de Eucatex, que deve ficar presa ao vaso com a parte rugosa em contato com a água. A mistura atrai as fêmeas dos Aedes, que depositam seus ovos na palheta”, descreveu Gerusa Gibson, pesquisadora do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC e do Nosmove. “Desde novembro de 2010, oito áreas que compreendem todo o campus são monitoradas, cada uma com 15 dessas armadilhas, todas trocadas a cada sete dias. Em períodos de alta incidência de dengue, já chegamos a ter 30 ovitrampas em cada uma dessas áreas”.

O núcleo também conta com métodos de aspiração de mosquitos para a captura de vetores na forma adulta. “Usamos aspiradores movidos à bateria. Os insetos, após aspirados, são identificados, separados por sexo e criopreservados vivos. Assim, podemos posteriormente fazer a detecção viral através da técnica de PCR para verificar se esses vetores coletados no campus estão infectados ou não com vírus dengue”, explicou Nildimar. “Após essa análise, elaboramos um relatório técnico-científico com os dados da coleta realizada e entregamos às unidades da Fundação ou às pessoas que nos solicitaram uma vistoria entomológica após terem identificado a presença dos mosquitos no seu local de trabalho”. O monitoramento também permite aos pesquisadores caracterizar e mapear áreas de baixa e alta infestação de mosquitos no campus, através da construção de mapas dinâmicos com essas informações, os quais são ferramentas importantes para direcionar as ações de intervenção e vigilância desses vetores.

De acordo com a pesquisadora, a participação ativa dos técnicos do Nosmove na vigilância contínua de vetores já provocou mudanças em procedimentos que poderiam contribuir para a formação de potenciais criadouros. “Dois funcionários uma vez encontraram uma embalagem plástica que era comumente usada no café da manhã fornecido pela Fundação que, descartada de forma inapropriada dentro do campus, acumulou água de chuva e já apresentava larvas. Entramos em contato com a equipe do Fiocruz Saudável, que prontamente providenciou a substituição das embalagens plásticas por saquinhos de papel”, relatou Nildimar. “É essa busca ativa para intervenção e esse olhar em relação aos depósitos que podem se tornar criadouros potenciais que queremos estimular e intervir com sucesso”.

Formação de multiplicadores de informações para prevenção

O trabalho de estímulo a prevenção da dengue a partir do controle do mosquito também é feito pelo Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores com base no oferecimento de ações educativas para funcionários, visitantes e para as crianças da Creche da Fiocruz. “Também realizamos cursos com os moradores do entorno do campus de Manguinhos e sempre temos stands em eventos como o Fiocruz pra Você [campanha anual de vacinação contra a poliomielite] e na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”.

O trabalho de formação de multiplicadores de ações preventivas contra focos de vetores da dengue segue além-muros. “Realizamos palestras sobre ações preventivas em escolas públicas e postos de saúde, sempre por demanda”, destacou Daniel Câmara, doutorando do IOC e pesquisador do Nosmove. Segundo Câmara, o Núcleo também investe em um forte trabalho de treinamento de recursos humanos e capacitações para o Sistema Único de Saúde (SUS) e seus agentes de vigilância.

“Somos uma importante instituição de saúde pública e não podemos perder de vista o SUS, e a atuação junto às populações das áreas do entorno. Por isso, oferecemos cursos, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ] para agentes de endemias das secretarias estaduais de saúde. O objetivo é tratar de conceitos, práticas e parâmetros transversais para a vigilância entomológica, como por exemplo, a capacidade e competência vetorial, ciclo de transmissão das arboviroses em geral, indicadores e métodos de coletas de mosquitos para avaliar a infestação do Ae. aegypti, temas importantes dentro do campo da entomologia médica, mas que nem sempre são completamente vivenciados por esses profissionais”, complementou Nildimar.

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