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18/10/2016

Fiocruz lança novo site do Acervo Digital de Obras Raras

Renata Augusta (Icict/Fiocruz)


O novo site do Acervo Digital de Obras Raras e Especiais da Fiocruz, lançado nesta terça-feira (18/10) na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2016, marca o aniversário de 30 anos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e oferece, de forma sistematizada, um dos acervos bibliográficos mais importantes da América Latina. Na mesma data, foi inaugurada a exposição Raros e Preservados, contendo ilustrações e livros raros do acervo da Seção de Obras Raras Assuerus Overmeer da Biblioteca de Manguinhos, localizada no Castelo Mourisco da Fiocruz.

Clique na imagem para visitar o site do Acervo Digital de Obras Raras e Especiais
 
 

Iniciativa do Multimeios, Obras Raras Fiocruz disponibiliza milhares de páginas dos principais títulos abrigados na Seção de Obras Raras Assuerus Overmeer. Entre os destaques, figuram trabalhos, até então inéditos em meio digital, de autores como o patrono da Fundação, o cientista Oswaldo Cruz. Outra atração é o periódico Brazil Médico, um dos mais importantes na história das ciências no país.

No site, o internauta pode fazer buscas por título, descrição e palavras-chave em diversos tipos de materiais como livros, periódicos e teses. O sistema também permite o uso em diferentes idiomas.

“Havia o site do Laboratório de Digitalização de Obras Raras, mas era preciso migrar suas obras para uma base de dados indexada e com busca. O novo sistema é um avanço. Buscamos uma plataforma que permitisse disponibilizar as obras em versão digital e indexá-las com palavras-chave, usando metadados”, diz a chefe do Multimeios, Patrícia Ferreira.

O trabalho de digitalização é feito em conjunto com a Seção de Obras Raras Assuerus Overmeer da Biblioteca de Manguinhos, que encaminha as obras higienizadas e em condições de digitalização. As equipes de ambos os setores têm discutido sobre essa transposição do papel ao digital, em estreita parceria, assinala Patrícia Ferreira.

A cultura da preservação de originais ganha reforço com a continuidade das digitalizações e o grande número de acessos previstos para o site Obras Raras Fiocruz, segundo o chefe da Programação Visual e um dos coordenadores do site, Mauro Campello. “A Biblioteca de Manguinhos, sob a responsabilidade do Icict, é um tesouro. Abriga obras a partir do século 17. Há títulos valiosíssimos na guarda da Fiocruz que são patrimônio de todos nós”, diz Campello.

Potencial de descobertas científicas 

Oferecer mais visibilidade sobre o histórico, a finalidade e a importância da Fiocruz e de seus pesquisadores para a população é um dos benefícios do site Obras Raras Fiocruz, segundo uma das coordenadoras do Laboratório de Digitalização de Obras Raras, Marilene Santos. “Muitas pessoas ainda ouvem falar de modo superficial sobre Oswaldo Cruz, por exemplo, mas o site poderá disponibilizar sua obra completa para toda a sociedade, bem como de pesquisadores pioneiros como Carlos Chagas, Evandro Chagas, entre outros”.

Marilene Santos reforça que a Fundação é alicerçada na produção científica de seus pesquisadores e que uma das missões do site é tornar esses trabalhos acessíveis para o mundo, com o intuito de contribuir para a geração de conhecimento. A coordenadora vislumbra imenso potencial para a obtenção de descobertas na ciência contemporânea com a digitalização e o acesso a materiais científicos produzidos no passado.

“Há riquezas que ninguém conhece, às vezes só a família do cientista, ou ficam apenas na biblioteca. Hoje se faz pesquisa sobre dengue, zika, aedes. Mas já se estudava esse mosquito. O que tem lá atrás que desconhecemos? Quando o trabalho de mais pioneiros estiver no ar, nossa... É por isso que esse trabalho apaixona, porque você viaja na história da ciência”, completa Cardoso. 

Brazil Médico: recordista em consultas terá destaque no site novo

O site Obras Raras Fiocruz terá entre os destaques o periódico Brazil Médico, que foi publicado de 1887 a 1971, ininterruptamente, com média de 50 fascículos por ano. Parte da extensa coleção já era recordista de acessos no antigo site e a mais consultada na Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos. Todo o acervo digital ficou disponível para consulta local na biblioteca, com a possibilidade de solicitação de cópia dos artigos, após a digitalização dos títulos feita pelo Laboratório de Digitalização do Multimeios. Incluir fascículos do Brazil Médico no site novo é um compromisso assumido com o Preservo: Complexo de Acervos da Fiocruz, no qual o Icict/Fiocruz responde pela área bibliográfica. A previsão é que todos os fascículos que estão em domínio público (até 1945) sejam inseridos e o internauta possa acessá-los em formato PDF, segundo Mauro Campello: “Até o lançamento, vamos incluir o maior número possível desse material digitalizado”. 

A Biblioteca de Manguinhos estabeleceu parcerias com a Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ e a Biblioteca Nacional para completar a coleção digital. Quanto à coleção em papel dos periódicos, trata-se de uma das mais completas do país, segundo pesquisa do Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

Avanço na digitalização e políticas de preservação

A transposição para o formato digital de parte dos acervos da Seção de Obras Raras A. Overmeer e da Biblioteca de História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC) é fruto do projeto Preservo: Complexo de Acervos da Fiocruz, financiado com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Preservo integra o Plano de Preservação Digital (PPD) e a política de constituição, preservação, gestão integrada e difusão dos acervos científicos e culturais da Fiocruz.

“A digitalização de ambos os acervos está a cargo do Laboratório de Digitalização de Obras Raras do Multimeios. Os recursos recebidos no Preservo investidos no setor permitiram a compra de equipamentos como um scanner planetário francês que otimiza a digitalização de obras raras. “Pretende-se integrar todos os acervos históricos da Fiocruz: bibliográfico, biológico, museológico e predial em uma única ferramenta, proporcionando uma rica pesquisa científica”, diz Mônica Garcia, chefe da Gestão de Acervos Bibliográficos da Biblioteca de Manguinhos e coordenadora de Acervos Bibliográficos do Preservo.

Segundo um dos coordenadores do Site de Obras Raras, Mauro Campello, mais do que a verba, “vital são os olhos para a necessidade desse trabalho”. A chefe do Multimeios, Patricia Ferreira, reforça como ganhos maiores a mobilização da Fiocruz para o tema e a ideia de formulação de uma política de digitalização para a Fundação. 

Da Seção de Obras Raras serão digitalizadas 4.368 páginas de obras raras; 2.159 páginas de livros; 16.957 páginas de periódicos raros; e do recordista de consultas, o Brazil Médico, serão 59.100 páginas (111 volumes). Obras dos cientistas Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolpho Lutz, entre outros, estão no pacote.

Capa do livro Natural history of the insects of India (1842)

 

Da Biblioteca da COC serão digitalizadas 30 mil páginas do acervo, que reúne clássicos das Ciências Biomédicas e da Saúde Pública. Serão restauradas 13 mil páginas de livros.

A participação de profissionais do Multimeios no Grupo de Trabalho do Plano de Preservação Digital (PPD) da Fiocruz, segundo Patrícia Ferreira, é uma conquista significativa pelo reconhecimento da expertise do Laboratório de Digitalização de Obras Raras e sua contribuição para a construção coletiva das políticas de preservação da Fundação.

O PPD é de fato um êxito e uma responsabilidade. “Investir em recursos humanos, físicos e tecnológicos para o fluxo de preservação é um desafio. É preciso que a estrutura continue a crescer, porque sempre foi um esforço e um desejo de todos sermos referência em preservação digital”, complementa Mauro Campello, um dos coordenadores do site de Obras Raras e chefe da Programação Visual do Multimeios.

O instituto também participa do grupo de trabalho para a elaboração de política de constituição, preservação, gestão integrada e difusão dos acervos científicos e culturais da Fiocruz. “Em momento de celebração dos 30 anos do Icict, é gratificante poder implementar uma política que visa preservar um acervo que foi inicialmente criado por Oswaldo Cruz, fortalecendo uma unidade como o Icict. Na coordenação do acervo audiovisual está Tania Santos, da VideoSaúde Distribuidora”, completa Mônica Garcia.

Seção de Obras Raras recebe doação de obra datada de 1616

A Seção de Obras Raras recebeu a coleção do médico Antônio Fernandes Figueira, que nomeia o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O conjunto inclui Rimas Sacras, de 1616, que será o título mais antigo do acervo após o término de seu processo de tratamento técnico. Publicada na Espanha, a obra tem impressa uma licença da Inquisição. A coleção de 1.156 itens, já higienizada, acondicionada e inventariada, está abrigada na sala que guardará todas as Coleções Especiais da Biblioteca de Manguinhos, junto com os acervos Leônidas Deane, Sebastião Oliveira e Haity Moussatché. 

Entre as 12 primeiras obras do antigo site do Laboratório de Digitalização que migraram para o site Obras Raras Fiocruz constam o primeiro tratado sobre História Natural do Brasil, de William Piso e Georg Marggraf (1648); Osservazioni di Francescio Redi (1626-1698); o Formulário Médico, manuscrito atribuído a jesuítas (1703); e a tese de doutorado de Oswaldo Cruz – A vehiculação microbiana pelas águas (1893). Apontado por estudiosos como o livro que inspirou Oswaldo Cruz na construção do Pavilhão Mourisco, O Alhambra, de 1906, integra o acervo digital, assim como Annalen der Physik, periódico autografado por Albert Einstein durante sua visita à Fundação, em 1925, e no qual publicou a teoria da relatividade.

O físico Albert Einstein ao lado de Carlos Chagas em visita à Fundação em 1925 (foto: Acervo da COC/Fiocruz)

 

A chefe da Seção de Obras Raras, Maria Claudia Santiago, considera emblemática a digitalização do Brazil Médico, periódico produzido a partir de 1887, porque a obra marca a estreia das publicações científicas da Fiocruz, na época, Instituto Soroterápico Federal. O patrono Oswaldo Cruz é autor do primeiro artigo, de 1901. A coleção digital completa abrigada na Seção pode ser cada vez mais aproveitada para a pesquisa, sugere: “Seria importante fazer um recorte temporal sobre os pesquisadores do início do século para alimentar o Arca – Repositório Institucional da Fiocruz. O desafio seria grande, mas plausível, e demandaria um profissional dedicado exclusivamente à função. Um dos principais periódicos científicos brasileiros da época, o Brazil Médico durou 86 anos e tinha muita produção. Com esse trabalho intersetorial se preserva o original e há colaboração com outros produtos e serviços da instituição”.

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