O projeto Quintais Produtivos do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA) é uma das três experiências selecionadas para um seminário temático de agricultura urbana, no 4º Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que ocorre de 31 de maio a 3 de junho, em Belo Horizonte (MG). Quem terá essa missão será a agricultora Rita Maria Barbosa de Souza, de 60 anos. Ela faz parte da equipe e também representará a Rede Carioca de Agricultura Urbana.
Filha de agricultores pernambucanos, Rita veio sozinha para a Cidade Maravilhosa, em 1976. Com grande influência da culinária nordestina, ela foi trabalhar em cozinhas industrias, de hospitais e em restaurantes. Mas quando ficou um tempo desempregada, ganhou um terreno na Colônia para poder exercer o trabalho que mais gosta, que é plantar.
Com o espaço, além do consumo próprio e da família, Rita conseguia vender os produtos, o que se tornou o seu sustento. Até que, em 2012, a Prefeitura do Rio de Janeiro alegou que precisava do terreno para as obras da TransOlímpica. Os representantes do município garantiram que a moradora iria ganhar outro espaço para continuar o trabalho. Entretanto, segundo ela, o acordo não foi cumprido corretamente.
"Eles disseram que iriam me colocar em uma área igual a minha para que pudesse continuar com a horta. Sem que soubesse, a Prefeitura comprou pra mim um imóvel velho e sem espaço para o plantio. Tive que entrar na Justiça. Fiquei muito mal. Cheguei até a desistir da vida", conta Rita.
A agricultora foi convidada por uma amiga para implantar uma horta no terreno do conjunto habitacional, onde mora. O trabalho contou com a liberação dos demais moradores. Rita, que já fazia parte de ações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde 2007, foi percursora e exemplo para a criação de outras hortas urbanas da localidade e participou do projeto Semeando Comunidades Sustentáveis.
Atualmente, Rita Maria é bolsista do PDCFMA e é uma das multiplicadoras em ações de promoção da saúde com enfoque em soberania e segurança alimentar e nutricional. A eleição dela para representar a Rede Carioca de Agricultura Urbana e o projeto Quintais Produtivos, no 4º ENA, aconteceu no último evento do movimento social, realizado em Magé, em abril. A escolha foi devida a experiência, conhecimento e na articulação da agricultura.
Este ano, o lema do encontro será Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade. Segundo a organização, a expectativa é que o ENA reúna duas mil pessoas de todos os estados do Brasil.
A programação prevê a realização de uma série de atividades, como a feira de sabores e saberes, apresentações culturais, mostra de cinema e debates públicos com momentos internos de aprofundamento de temas mobilizadores, em diálogo com organizações parceiras.
O encontro tem alguns objetivos, como trocar experiências, compartilhar aprendizados, discutir os efeitos das políticas públicas para a agricultura familiar e para os povos indígenas e povos e comunidades tradicionais e dar visibilidade pública à agenda política do movimento agroecológico junto aos governos e à sociedade.
O projeto Quintais Produtivos é uma das ações do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA), que fica localizado na Colônia Juliano Moreira (CJM), em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
Foto: Fiocruz Mata Atlântica