17/07/2017
Pesquisadores, estudantes, gestores e profissionais da área de saúde e segmentos correlatos participam, no período de 27 a 30 de agosto, do 53º Congresso de Medicina Tropical (MedTrop). O evento, que será realizado em Cuiabá (MT), terá como tema central Ambiente e doenças tropicais: desafios para campos e cidades. Assim como na edição anterior, durante o Congresso, também acontecem outros dois encontros: a Reunião de Pesquisa Aplicada em Chagas e Leishmaniose (ChagasLeish) e a Reunião de Pesquisa em Malária. A expectativa é que, durante os quatro dias de evento, cerca de duas mil pessoas participem das atividades.
“Este é, sem dúvida, um dos mais relevantes eventos da área, especialmente por nos oferecer a oportunidade de integrar os diferentes atores envolvidos no combate e controle das doenças tropicais. Tais encontros nos possibilitam ter conversas bastante produtivas com gestores, inclusive da esfera federal, além de permitir a troca de experiências com outras referências”, afirma a pesquisadora Glaucia Cota, do grupo de Pesquisa Clínica e Políticas Públicas em Doenças Infecciosas e Parasitárias do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas) e integrante da Comissão Científica da Reunião ChagasLeish.
Com o tema Velhos paradigmas, novos desafios, a Reunião ChagasLeish deste ano vai discutir os padrões e protocolos que vêm sendo adotados à luz das novas descobertas. A ideia é promover uma reflexão acerca de conceitos que, por um longo período, foram disseminados, mas que, nos últimos anos, vêm sendo superados, devido aos resultados de estudos mais recentes.
“A doença de Chagas, que durante muito tempo foi considerada intratável, é um exemplo de quebra de paradigma, em função dos novos conhecimentos terapêuticos. Também em relação à leishmaniose, temos uma mudança de posicionamento a respeito dos reservatórios da parasita. Dessa forma, vemos que velhos paradigmas estão em franca mudança e é preciso acompanhar essas evoluções para que elas se reflitam nas políticas públicas”, explica Cota.
Um dos trabalhos a ser apresentado pela pesquisadora irá discorrer sobre as novas abordagens terapêuticas usadas em leishmaniose tegumentar. Serão mostrados dados iniciais de um ensaio clínico finalizado em janeiro deste ano, que avaliou a eficácia da terapia intralesional para a forma cutânea da leishmaniose.
“Desenvolvemos um protocolo para avaliar se essa abordagem era tão eficiente quanto à que já vem sendo utilizada, a sistêmica, que é mais tóxica, por permitir a circulação do medicamento em todo o organismo. Constatamos que a eficácia do tratamento foi equivalente ao sistêmico. Ou seja, confirmamos a mesma taxa de cura com menos efeitos colaterais, por se tratar de um tratamento local”, explica.
Também serão apresentados resultados de estudos de impacto econômico realizados pelo grupo, comparando o custo de várias abordagens diagnósticas e terapêuticas para a leishmaniose visceral. Tais estudos avaliam os custos decorrentes das intervenções em relação aos benefícios esperados, em comparações que visam obter apontamentos que, baseando-se nas evidências científicas, possam nortear a tomada de decisões.
“Estamos vivendo uma fase bastante positiva, que é o reconhecimento de que toda política pública deva ser orientada por evidência científica sólida. Daí a importância de revisar o conhecimento já produzido para definir as diretrizes a serem seguidas”, diz.
Mesa-redonda
Também na Reunião ChagasLeish, o Grupo de Estudo em Leishmanoses participará de mesas-redondas. O pesquisador José Dilermando Andrade Filho fará uma apresentação sobre Espécies alternativas de flebotomíneos envolvidas na transmissão de Leishamania infantum no Brasil. O grupo também apresentará um trabalho com o tema Diagnóstico molecular para diagnóstico da leishmaniose visceral canina: eleição de um alvo efetivo para investigação epidemiológica e esclarecimentos de casos.
“Trata-se dos resultados de um estudo desenvolvido por uma pós-doutoranda, por meio do qual foram testados vários alvos moleculares para a detecção da infecção em cães. Assim, será uma discussão acerca do diagnóstico da leishmaniose canina, objetivando adequar protocolos para serem utilizados pelos serviços de saúde”, explica a pesquisadora Célia Gontijo, que fará a apresentação.
Outro trabalho que o Grupo de Estudos em Leishmanoses levará à reunião serão os resultados de um estudo que avaliou um novo método de coleta de amostras para o diagnóstico molecular da leishmaniose tegumentar utilizando o swab. A técnica poderá substituir a biópsia -atual procedimento utilizado no Brasil-, tornando mais fácil a realização dos exames por se tratar de um método não invasivo, indolor e mais simples.
“Vamos mostrar os resultados e colocar em discussão. O interessante desse evento é possibilitar que a gente possa juntar todas essas diferentes abordagens, permitindo uma troca de conhecimentos, de forma que um possa dar suporte ao outro. A reunião é sempre com essa visão. Várias alterações que o programa de controle da doença sofreu ao longo dos anos foram em função das pesquisas realizadas em diferentes instituições e debatidas nesses encontros”, ressalta Gontijo.
Também o Grupo de Flebotomíneos/Epidemiologia, Diagnóstico e Controle das Leishmanioses participará de uma mesa-redonda intitulada Controle e prevenção das leishmanioses. O pesquisador Edelberto Santos Dias, que integra a Comissão Científica do ChagasLeish 2017, ministrará a palestra intitulada Espécies de vetores nas áreas de transmissão: competência vetorial.
“Além disso, vários de nossos alunos vão apresentar trabalhos dentro dos temas livres”, contou o pesquisador.
Curso
Ainda dentro da Reunião ChagasLeish, o Grupo de Triatomíneos oferecerá o tradicional curso que, nesta edição, terá como tema Vigilância da Doença de Chagas. Serão discutidos os modelos de vigilância de três Estados: Tocantins, Ceará e Minas Gerais, escolhidos por desempenharem uma forte atividade de controle.
“Interessante é que são modelos de três diferentes regiões do país: cerrado mineiro, nordeste e parte central. E são localidades importantes para a doença de Chagas”, comenta a pesquisadora Lileia Gonçalves Diotaiuti, que atua na coordenação da Reunião ChagasLeish.
Segundo ela, será discutido o que esses Estados estão fazendo agora e o que têm em vista para melhorar. Para isso, foram convidadas a participar Anália Gomes (TO), Cláudia Bezerra (CE) e Marcela Ferraz (MG), que atuam nas coordenações voltadas para o controle da doença nesses Estados.
O curso é oferecido pelo Laboratório de Referência da Fiocruz Minas em sintonia com o grupo de Chagas da Secretaria de Vigilância em Saúde. “É uma oportunidade de integrar a pesquisa com o serviço. É importante porque os profissionais que atuam nas secretarias participam das inovações, e os pesquisadores se alimentam das perguntas que eles trazem do campo. Então, é o momento de interagir pesquisa com serviço. Isso, na verdade, é missão deste laboratório, nosso laboratório respira isso”, ressalta Diotaiuti.
Outro destaque do evento será a homenagem ao pesquisador da Fiocruz Minas João Carlos Pinto Dias, em reconhecimento aos anos de trabalho dedicados ao combate da doença de Chagas, por meio de atividades científicas e acadêmicas.