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09/03/2022

Fiocruz participa de Cúpula Global de Preparação para Pandemias

Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)


Em uma conferência em Londres em que participaram as principais autoridades e especialistas em saúde do mundo, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, destacou a necessidade de descentralizar a produção de vacinas e de reforçar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, de forma a reduzir as desigualdades entre os países. As declarações foram feitas durante a Cúpula Global de Preparação para Pandemias, nesta terça-feira (8/3). Organizado pela Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi, na sigla em inglês) e o Reino Unido, o evento buscou apoio para a campanha #100DaysMission, para que numa futura pandemia o mundo possa desenvolver uma vacina no prazo de cem dias.

Segundo Nísia, a pandemia de Covid-19 mostrou que muito precisava ser mudado, e que os países de baixa e média rendas deveriam ter um papel importante nesse processo (foto: Divulgação)

 

A cúpula reuniu líderes mundiais, organizações filantrópicas, iniciativas privadas e instituições internacionais durante dois dias na capital britânica com a finalidade de mobilizar recursos para o plano de US$ 3,5 bilhões da coalizão. Membro do conselho da Cepi, Nísia participou do painel Impulsionando a produção de vacinas, ao lado de especialistas como Jae-yong Ahn, presidente da empresa SK Bioscience, da Coreia do Sul; Mahima Datla, diretora da indiana Biological E Limited; e Thomas Cueni, diretor geral da International Federation of Pharmaceutical Manufacturers and Associations. 

Segundo Nísia, a pandemia de Covid-19 mostrou que muito precisava ser mudado, e que os países de baixa e média rendas deveriam ter um papel importante nesse processo. “É muito importante não depender de insumos, de vacinas, de testes diagnósticos [do exterior]”, ressaltou.

A presidente lembrou que a Fiocruz “mobilizou todas as suas energias” para o combate à Covid-19, o que culminou no contrato de transferência de tecnologia, permitindo a Bio-Manguinhos produzir a vacina Oxford/AstraZeneca, agora com Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) 100% nacional. Mais de 160 milhões de doses já foram entregues ao Ministério da Saúde. Nísia destacou ainda a escolha da Fiocruz pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para participar do hub de desenvolvimento de vacina de RNA mensageiro.

“Acredito que iniciativas como a transferência de tecnologia e os hubs para compartilhar o conhecimento são muito importantes em termos de cooperação internacional, tanto Sul-Sul, quanto Norte-Sul”, disse. “Falo como presidente de uma instituição pública, que pensa a saúde também como fator de desenvolvimento econômico e social”.

Sobre a sustentabilidade da produção de vacinas para além da pandemia, Nísia disse que isso está ligado ao papel da tecnologia no sistema de saúde. “Conseguimos essa transferência de tecnologia porque antes tivemos investimentos públicos em biofarmacêuticos. Esta experiência em infraestrutura tecnológica e os recursos humanos foram fundamentais. É preciso adotar uma perspectiva histórica e uma ligação entre tecnologia e sistema de saúde. É isso que a saúde precisa, e as pessoas também”.

Zonas cinzentas

A conferência foi aberta pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que destacou a necessidade de o mundo estar preparado para agir rapidamente numa próxima pandemia e o papel da Cepi neste processo. A Cepi é uma parceria global entre setor público, privado, instituições filantrópicas e organizações da sociedade civil, e defende o acesso equitativo vacinas e medicamentos.

Na cúpula, palestrantes defenderam maior colaboração e equidade no acesso a medicamentos e vacinas, lembrando que o dinheiro gasto em saúde não deve ser visto como custo, mas investimento estratégico. Alertaram ainda que a falta de testes deixa grandes áreas da África e da América Latina numa zona cinzenta, onde o surgimento de variantes da Covid-19 pode não ser detectado rapidamente; que a missão não é simplesmente obter vacinas, mas fazer com que elas cheguem às pessoas; e que a resposta deve ser internacional, pois epidemias não conhecem fronteiras.

“A pandemia nos ensinou o incrível poder da vigilância, do diagnóstico, das vacinas e tratamentos. Mas também expôs lacunas e fraquezas no ecossistema global”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, lembrando que boa parte da população africana não recebeu sequer uma única dose da vacina contra Covid-19. Ele fez um apelo a um compromisso com a ciência, a equidade e a colaboração. “Financiar a Cepi é um compromisso com um futuro melhor”, declarou.

Diretor executivo da coalizão, Richard Hatchett lembrou que “é fácil dizer nunca mais acontecerá”, mas que é mais fácil ainda cair em uma nova crise. “Ganhamos experiência, não vamos ter uma chance melhor. Precisamos atacar as causas e não as consequências da inequidade de acesso à saúde”, disse.

O último bloco foi reservado a membros de governos, instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, e organizações filantrópicas, como a Fundação Bill & Melinda Gates. Do Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, destacou a parceria da Fiocruz com a Universidade de Oxford e a AstraZeneca para o desenvolvimento da vacina contra Covid-19 e outras iniciativas que envolvem a Fundação. 

“O Brasil segue adotando medidas para fortalecer o complexo econômico e industrial da saúde, com destaque para a planta de Santa Cruz, na qual vamos investir mais de US$650 milhões”, disse Queiroga, citando ainda o hub de vacina mRNA e a presença de Nísia no conselho da Cepi.

Parcerias em solo britânico

Na viagem a Londres, a presidente da Fiocruz teve ainda outras reuniões para fortalecer laços e parcerias com organizações britânicas, como a London School e a Wellcome Trust. Nisia se encontrou com o diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical para definir os próximos passos para a criação de um plano de trabalho. Participaram da reunião pesquisadores de ambas as instituições. Embora as linhas de pesquisa ainda não tenham sido definidas, foram tratados temas como mudanças climáticas, preparação para pandemias, vacinas, educação e intercâmbio e descolonização dos métodos de pesquisa e saúde global. 

Em Londres, Nísia se encontrou ainda com o embaixador Fred Arruda. O embaixador chefiou a delegação brasileira da reunião da Cepi e acompanha atentamente as parcerias da Fiocruz com instituições do Reino Unido.

Em setembro, cientistas da Fiocruz deverão visitar a instituição britânica para desenvolver esse plano de trabalho. Está previsto ainda um simpósio na Fiocruz em outubro para a apresentação de resultados e perspectivas para os próximos anos.

No Wellcome Trust, uma instituição filantrópica de apoio à pesquisa, Nísia foi recebida pelo diretor Jeremy Farrar. Foram propostos eventos e parcerias com a organização e como fortalecer a relação, que vem se estreitando desde a epidemia de zika. A Wellcome passou por um período de reestruturação no ano passado e agora está com foco em algumas áreas específicas, como doenças infecciosas, saúde mental e mudanças climáticas, que são temas convergentes com o trabalho da Fiocruz. 

Farrar destacou que a Wellcome está criando uma rede virtual que reúne acadêmicos de grupos da indústria e de governos para o intercâmbio de informação – uma espécie de network da comunidade acadêmica com a indústria , do público com o privado, que incluiria também a questão da transferência de tecnologia. A ideia é ter parceiros com universidades, indústria e governos. A Fiocruz foi convidada para fazer parte dessa rede, que está em desenvolvimento.

No Wellcome Trust, Nísia se encontrou ainda com equipes de áreas específicas, como Mudanças Climáticas, Doenças Infecciosas e Relações Governamentais. A presidente da Fiocruz observou pontos de convergência que podem ser desenvolvidos e pretende conversar mais a fim de estabelecer parcerias e fortalecer relações nessas áreas.

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