21/11/2023
Angélica Almeida (Agenda de Saúde e Agroecologia/VPAAPS/Fiocruz)
A superação da fome, o enfrentamento das mudanças climáticas, a promoção da justiça social, o acesso a direitos e a defesa de direitos humanos, a reconstrução democrática, o aperfeiçoamento de políticas públicas intersetoriais e com participação popular são questões fundamentais para que a saúde, em sua dimensão ampla, seja promovida. Todas essas estarão em debate no 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que será realizado entre os dias 20 e 23 de novembro no Rio de Janeiro com o tema Agroecologia na Boca do Povo. A Fiocruz compõe a comissão organizadora do Congresso e terá ampla participação de trabalhadoras e trabalhadores no evento.
Ao pautar a construção de uma ciência crítica e cidadã com diálogo entre saberes acadêmicos e tradicionais, a expectativa do Congresso é reunir 5 mil participantes, incluindo representantes de universidades, institutos de ensino, pesquisa e extensão rural, membros dos poderes públicos, da agricultura familiar, indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, bem como movimentos e organizações sociais.
No âmbito das discussões sobre agroecologia e saúde, o CBA debaterá a importância de políticas públicas que envolvam diferentes setores do governo e o protagonismo da sociedade civil na construção de soluções baseadas nas práticas concretas de agricultoras/es, povos e comunidades tradicionais. O seminário Políticas Públicas de Agroecologia na Boca do Povo será um dos pontos de encontro entre diferentes representantes públicos e organizações sociais.
Ao menos cinco secretarias do Ministério da Saúde foram convidadas para o Congresso. As rodas de conversa: Sistemas alimentares, Agroecologia e saúde: políticas públicas para um futuro sustentável; Agroecologia na Atenção Primária à Saúde (APS); Programa Agentes de Educação Popular em Saúde - Uma ação em Defesa do SUS e da Democracia são algumas das atividades confirmadas na programação.
Assessor da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), André Burigo destaca que já há um conjunto de políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) construídas nas últimas duas décadas que reconhecem a relação complexa entre saúde e agroecologia e que precisam ser fortalecidas e aperfeiçoadas. “A agroecologia tem uma relação direta com a produção de alimentos saudáveis, mas é mais do que isso, diz respeito a gerar renda para as pessoas que justamente vivem em situações de maior vulnerabilidade, promovendo dignidade no campo e na cidade”, defende.
Ele ressalta que a transformação das relações sociais, fortalecendo o protagonismo das mulheres e a luta contra o racismo, é algo estrutural articulado com a agroecologia. “Ao mesmo tempo que está produzindo alimentos saudáveis, está preservando a biodiversidade, mitigando os efeitos das mudanças climáticas, gerando saúde de diferentes formas. A agroecologia realmente precisa estar no centro das políticas públicas porque além de garantir alimentação adequada, melhora as condições de saúde da população”, destaca.
Agroecologia na agenda científica da Fiocruz
A Fiocruz compõe a comissão organizadora do Congresso e conta com 170 pessoas inscritas de diversas áreas do campus em Manguinhos, dos programas territoriais na zona Oeste do Rio (Fiocruz Mata Atlântica), em Petrópolis (Fórum Itaboraí), na Costa Verde (Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina), bem como unidades da Fiocruz em Brasília, no Ceará, na Bahia e em Pernambuco.
Burigo ressalta o grande esforço de mobilização da Fiocruz no Congresso, em coerência com o reconhecimento da agroecologia como um tema estratégico para a atualização da agenda científica institucional e para a saúde pública, demarcado nos últimos Congressos Internos. “Nossa expectativa é dar cada vez mais profundidade ao trabalho com a agroecologia na Fiocruz nos próximos anos”, afirma.
Os trabalhadores da Fiocruz vão apresentar 55 relatos de experiências técnicas, resumos expandidos (técnico-científicos), e relatos de experiência popular (resumo/texto), distribuídos em diferentes eixos de discussão que abordam: saúde; infâncias; agriculturas urbanas; educação e construção do conhecimento; biodiversidade e saberes tradicionais; arte, cultura, comunicação popular; gênero, feminismos e diversidades; ancestralidade, terra e território; crise ecológica e mudança climática; juventudes; contra os agrotóxicos e transgênicos; campesinato e soberania alimentar.
Além disso, também vão participar da mostra de filmes e lançamento de publicações, de diversos ambientes de discussões temáticas específicas nos Barracões de Saberes, bem como cerca de 80 profissionais compõem comissões organizadoras do Congresso, como as de Alimentação, Ciências e Saberes, a Tenda da Saúde, Cuidado e Cura e Comunicação.
Em uma postura de aproximação com a cidade, parte da programação do CBA é aberta ao público amplo, mobilizando milhares de pessoas em diversos pontos no Centro do Rio de Janeiro, como o Passeio Público, Circo Voador, Associação Cristã de Moços (ACM), Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi-Uerj), Cine Odeon, entre outros.