24/04/2023
Gabriella Ponte (Bio-Manguinhos/Fiocruz)
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) realizará, a partir de maio deste ano no Rio de Janeiro, dois estudos clínicos relacionados aos aspectos epidemiológicos e de prevalência da síndrome pós-Covid-19 (popularmente conhecida como Covid longa) e seus impactos socioeconômicos. Estas informações permitirão um melhor diagnóstico das necessidades em saúde e ajudarão os gestores públicos na qualificação de ações de cuidado e no planejamento mais efetiva da expansão de serviços de reabilitação no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os estudos Condição pós-Covid-19/síndrome pós-Covid-19 e outros aspectos epidemiológicos da Covid-19: estudo de caso-controle e Análise da prevalência e fatores associados à síndrome pós-covid-19 e seus impactos econômicos em egressos de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19, ambos propostos e realizados pela Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz (Asclin), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), têm como pesquisador principal o médico professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Alexandre Medeiros de Figueiredo.
A literatura existente já demonstra a presença de dezenas de sintomas persistentes após a fase aguda da infecção, como problemas respiratórios, cognitivos, cardiológicos e gastrointestinais. “Precisamos entender mais a fundo esses sintomas e como eles afetam a vida das pessoas. Saber como fica o sistema imunológico das pessoas que desenvolvem essa síndrome, se existe alguma diferença na resposta imune das pessoas que tiveram a forma mais branda da doença ou mais grave. Quem tem uma maior probabilidade de ter a síndrome? Será que idosos apresentam maior risco? Existe alguma associação familiar? Essas são algumas das questões que nós vamos responder”, pontua o pesquisador.
Ele afirmou que, nos dados coletados na Paraíba, foi possível observar que 40% dos participantes apresentaram um ou mais sintomas mesmo três meses depois da infecção por Covid-19. Será possível, com os dados obtidos neste estudo, saber mais sobre a relação da Covid longa e o estado vacinal, pois, os participantes dos estudos possuem situações vacinais distintas (tomaram quantidades diferentes de doses). “Já sabemos que a vacina protege para formas graves. Sabemos que boa parte das pessoas deixam de contrair Covid-19 porque estão vacinadas. Queremos saber agora se o imunizante também protege para o desenvolvimento da síndrome pós-Covid-19. Isso ainda não tem na literatura”, explicou o pesquisador.
Alexandre continuou relatando que, além dos aspectos clínicos, será possível compreender os impactos da infecção por Covid-19 na renda, empregabilidade das pessoas e sobre uso de serviços de saúde. Compreender melhor a doença, após a fase mais crítica da pandemia, tornou-se essencial para dimensionar a demanda de pacientes que precisam do SUS no tratamento desses sintomas persistentes, como a necessidade de sessões de fisioterapia respiratória ou motora, por exemplo.
Coordenadora da Asclin, Maria de Lourdes Maia analisou o quadro epidemiológico atual e a relação com a vacinação. “Nós estamos tendo dificuldade de conseguir pessoas que estão testando positivo para participar dos estudos, pois a doença está controlada devido ao avanço da vacinação no país. Muitas pessoas apresentam sintomas brandos e acabam não testando, ou seja, há muita subnotificação. Observamos que somente quem não se vacinou ou somente tomou uma dose apresenta os casos graves da Covid-19. Portanto, a vacinação permanece como sendo prioritária no combate à doença”.
Estudos
O estudo Condição pós-Covid-19/síndrome pós-Covid-19 e outros aspectos epidemiológicos da Covid-19: estudo de caso-controle trata-se de um estudo de caso controle, retrospectivo e prospectivo, que visa avaliar as condições da doença e outros aspectos epidemiológicos da Covid-19 em adultos e crianças que serão acompanhados por quatro anos. Tem como pesquisadora responsável pela execução do projeto no Rio de Janeiro, no centro de Pesquisa Lincoln de Freitas Filho em Santa Cruz e na Unidade de Ensaios Clínicos para Imunobiológicos (UECI), a médica da Asclin, Celia Menezes Cruz Marques.
O objetivo é incluir 2 mil participantes dos municípios de Alhandra, Conde e Caaporã e João Pessoa na Paraíba e Rio de Janeiro (RJ) que já tiveram Covid-19 (retrospectivo) ou casos novos (prospectivo). Este estudo começou no final de janeiro de 2023, na Paraíba e já conta com mais de 600 participantes.
O estudo Análise da prevalência e fatores associados à síndrome pós-Covid-19 e seus impactos econômicos em egressos de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 pretende identificar a prevalência de síndrome pós-Covid-19 (persistência de sintomas por mais de 12 semanas) em egressos de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 e avaliar o impacto destas condições na qualidade de vida dos participantes e no aspecto socioeconômico.
Também busca identificar fatores associados ao desenvolvimento de síndrome pós-Covid-19, identificar o perfil de utilização dos serviços de saúde pós-infecção e impactos econômicos nas famílias dos egressos de internações por SRAG. Este estudo tem como pesquisador responsável no Rio de Janeiro, no Centro de Pesquisa Lincoln de Freitas Filho em Santa Cruz, o médico especialista em doenças infecciosas da Fiocruz, Pedro Emmanuel Alvarenga Americano do Brasil.
Os participantes dos estudos serão recrutados a partir de bancos de dados dos sistemas de informação nacionais (E-SUS Notifica / SI-PNI / Sivep-Gripe) e a partir de casos novos identificados nos serviços de saúde, incluindo colaboradores de Bio-Manguinhos/Fiocruz.