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27/05/2011

Fiocruz tem novo representante no continente africano

Informe Ensp


O primeiro escritório internacional de representação da Fundação Oswaldo Cruz no exterior tem um novo representante. Após seis anos atuando na Coordenação da Área Técnica da Saúde do Idoso e na Direção do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública José Luiz Telles assumiu o desafio de coordenar o Escritório Regional de Representação da Fiocruz na África (Fiocruz África).


Telles substitui sua colega de departamento Célia Almeida, que participou de todo o processo de implantação do escritório - fruto da cooperação entre o Brasil e os países africanos, principalmente aqueles que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) - e foi agraciada com a Comenda da Ordem de Rio Branco, oferecida em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Fiocruz no continente africano.


Em entrevista, o novo representante do Escritório Fiocruz África fala sobre sua trajetória no Ministério da Saúde, as ações já desenvolvidas no continente e comenta os principais desafios na reestruturação do sistema de saúde da África. Leia:


Nos últimos anos, o senhor coordenou a Área Técnica da Saúde do Idoso e também esteve na Direção do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (Dapes) do Ministério da Saúde. Como surgiu o convite para assumir a Direção do Escritório da Fiocruz na África? Como foram esses anos de Ministério?


José Luiz Telles: Fui convidado para assumir a Coordenação da Saúde do Idoso em agosto de 2005. Foi um momento importante na medida em que se estava a construir as bases para o Pacto pela Vida, aprovado em 2006. Conseguimos inserir a saúde do idoso como temática prioritária, e algumas ações estratégicas foram postas em prática, das quais cito o Curso de Aperfeiçoamento em Envelhecimento e Saúde do Idoso a partir do convênio com a Educação a Distância da Ensp. Em março de 2009, assumi a Direção do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (Dapes), no qual, além da saúde do idoso, tinham as coordenações da saúde da mulher, da criança, dos jovens e adolescentes, do sistema penitenciário, da saúde mental, do homem e das pessoas com deficiência - todas políticas estratégicas para o SUS. De fato, nesses últimos cinco anos, ocupando postos de gestão no Ministério da Saúde e com a liderança inconteste do então ministro Temporão, pude aprender muito sobre os complexos processos que estruturam o SUS e o quanto precisamos avançar.


O Escritório da África surgiu a partir de uma chamada interna da Fiocruz, para a qual me candidatei. Considerava, naquele momento, que a experiência acumulada no Ministério da Saúde poderia contribuir com os projetos de cooperação com o continente africano, bem como para a efetivação do Escritório. Felizmente fui selecionado e aqui estou, sediado na cidade de Maputo, em Moçambique.


A presença da Fiocruz no continente africano é fruto da prioridade que a política externa brasileira, estimulada pelo ex-presidente Lula, buscou ao estreitar os laços de cooperação entre o Brasil e os países africanos, com especial ênfase naqueles que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).Quais são os objetivos e as principais ações do Escritório da Fiocruz na África?


Telles: A cooperação entre os países do hemisfério sul (Cooperação Sul-Sul) foi firmada em 2004 pela Assembleia Geral da ONU. Buscou-se a reconfiguração das relações internacionais na direção de um novo padrão de relacionamento entre os países situados no Hemisfério Sul, onde as identidades comuns seriam uma marca importante. O que chama a atenção nesse processo foi a afirmação desses países em entender que as ações de cooperação internacional deveriam estar pautadas nos desígnios e prioridades de cada país e não ser algo imposto de 'fora para dentro'.


A política externa brasileira, a partir do presidente Lula, soube muito bem captar esse movimento e estabeleceu laços de compromissos importantes com os países do continente africano, em especial com aqueles de língua oficial portuguesa. Nessa perspectiva, a estruturação e o fortalecimento de sistemas nacionais de saúde acabaram por adquirir relevância em contextos de grandes desigualdades e pobreza, como é o caso dos países da África subsaariana. As unidades técnico-científicas da Fiocruz desenvolvem ações de cooperação com muitos países da África. O Escritório Regional da Fiocruz foi pensado justamente com o objetivo, dentre outros, de representar a Fundação Oswaldo Cruz/Ministério da Saúde do Brasil junto aos governos e demais instituições públicas ou privadas dos países africanos, fortalecendo as atividades de cooperação técnica na área da saúde e da ciência e tecnologia em saúde.


Em quais áreas a Fundação tem atuado no continente?


Telles: Atualmente, são várias as iniciativas que a Fiocruz desenvolve no continente africano. Na área de transferência de tecnologia, cabe destacar o processo em curso de implantação de uma Fábrica de Medicamentos Antirretrovirais em Moçambique, sob a liderança técnica de Farmanguinhos. Na área de ensino, há cursos de Mestrado em Saúde Pública em Moçambique (IOC e Ensp) e em Angola (Ensp), bem como a estruturação de uma rede de escolas técnicas (Escola Politécnica de Saúde). A Fiocruz lidera, ainda, a Rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), criada em novembro de 2006, em Lisboa, Portugal.


Sua colega de departamento, a pesquisadora Célia Almeida, participou de todo o processo de implantação do Escritório na África. Quais são os principais resultados da atuação da Fiocruz no continente africano até o momento?


Telles: A professora Célia Almeida, colega nossa do Daps/Ensp, foi a primeira designada para a implantação do Escritório da Fiocruz na África. Seu trabalho foi fundamental para uma estreita articulação com as representações diplomáticas brasileiras no continente, em especial com a Embaixada do Brasil em Moçambique, bem como possibilitar maior visibilidade institucional junto às autoridades locais. Além disso, sua produção acadêmica tem contribuído para o desenvolvimento conceitual das áreas da diplomacia em saúde e da cooperação internacional estruturante em saúde. Portanto, ao assumir esse novo desafio profissional, encontrei em Célia não só o seu apoio intelectual e pessoal, como também um escritório muito bem administrado.


Quais têm sido os principais desafios da Fiocruz na contribuição para a reestruturação do sistema nacional de saúde de Moçambique/continente africano?


Telles: Creio que os desafios são vários e em diferentes dimensões. Na dimensão da própria Fiocruz, há uma tarefa importante de articulação interna entre as diversas iniciativas levadas a termo pelas unidades técnico-científicas. Neste ponto, o Escritório na África pode e deve servir de apoio para essa articulação, mas também há a necessidade de se criar mecanismos internos de gestão da cooperação internacional da Fiocruz, de tal maneira que haja coerência técnica e política com as diretrizes de governo e da instituição. Uma segunda dimensão diz respeito à afirmação da Fiocruz como polo inovador no cenário da cooperação internacional em saúde. Aí cabe uma gestão muito eficiente por parte do escritório para que os projetos em curso no continente africano tenham pleno sucesso, e assim maior visibilidade nas diversas instâncias internacionais, em especial na Organização Mundial da Saúde.


Publicado em 27/5/2011.

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