06/12/2013
A Fiocruz promoveu, entre 2 e 6 de dezembro, a conferência Ciência translacional: construindo colaborações internacionais, que reuniu os 31 acadêmicos selecionados para o Programa de Bolsas para Professores Visitantes, criado pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O objetivo do encontro foi apresentar aos acadêmicos as atividades e projetos da Fiocruz, promover a interação entre eles e pesquisadores e alunos de graduação da Fundação e discutir eventuais colaborações de curto, médio e longo prazo. A chamada para inscrições, publicada em março deste ano, atraiu 109 candidatos de 26 países. A ideia é que os professores visitantes colaborem com projetos junto ao CDTS e atuem em programas de graduação da Fiocruz.
Da esquerda para a direita, o diretor científico da Faperj, Jerson Lima da Silva, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o diretor do CDTS/Fiocruz, Carlos Morel, e o presidente da Capes, Jorge Guimarães, na abertura do evento (Foto: Peter Ilicciev)
Na abertura do evento, o diretor científico da Faperj, Jerson Lima da Silva, afirmou que o programa é muito importante, pois representa um passo para outro nível de interação. “Trata-se de um projeto muito forte de colaboração, que trará boas consequências. Além de nos ajudar a fazer boa ciência, ele vai incentivar colaborações e promover uma ciência multidisciplinar. E esse é o caminho para o futuro”, disse. O presidente da Capes, Jorge Guimarães, falou do trabalho desenvolvido pelo órgão e o CNPq como agências de fomento que apoiam a ciência a nível federal e lembrou que esse é um momento oportuno para o estabelecimento de cooperações e para a ciência no país. “Esse tipo de iniciativa ajuda a Capes a dar seguimento a seu trabalho. Estou certo de que esse é um excelente grupo de cientistas”, afirmou.
“Estamos muito confiantes e orgulhosos de criar esse programa e tenho certeza de que ele terá muito êxito”, declarou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Ele ressaltou que a discussão gerada na conferência vai ao encontro da missão da Fundação, a qual, segundo ele, tem, desde o século passado, a pró-atividade e a inovação como dois importantes atributos. “Estamos tentando unir nossas principais características ao processo de inovação, pensando em termos de ciência translacional”, contou. Gadelha ainda lembrou que a Fiocruz está erguendo o Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnósticos (CIPBR), o qual, juntamente com o CDTS – que deve ser concluído em 2015 – vai trazer novas possibilidades de inovação. “Essa iniciativa vai nos ajudar a estabelecer parcerias público-privadas e reflete, de muitas formas, um novo estágio do país”, disse.
O diretor do CDTS/Fiocruz, Carlos Morel, falou sobre as orientações estratégicas da Fundação no campo da ciência translacional e enfatizou que pesquisas na área vão ajudar a superar desafios no campo da inovação. “Nosso número de artigos científicos publicados é crescente, porém, o número de patentes obtidas está caindo. Estamos sofrendo com a falta de inovação”, alertou. Morel reforçou que a pesquisa translacional em saúde na Fiocruz está evoluindo para o modelo de aglomeração tecnológica com a construção do CDTS e do CIPBR. Atuando em conjunto, os dois centros prometem inovar o processo de desenvolvimento de medicamentos, segundo o diretor. Dando seguimento à conferência, os professores visitantes trouxeram suas experiências em áreas como fisiopatologia de doenças; biologia estrutural e bioinformática; química médica; nanotecnologia; gestão de tecnologia e capacity building; pesquisa e desenvolvimento em ciências médicas; e ferramentas terapêuticas para doenças infecciosas e parasitárias.
Pesquisa, educação, comunicação e cooperação internacional na Fiocruz
A vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Lima, discorreu sobre os programas de educação da instituição e atentou para a importância do papel da informação e comunicação no atual cenário social, marcado por uma sociedade cada vez mais exigente e mobilizada. “A pesquisa translacional deve lidar com essa nova realidade, onde os movimentos sociais não somente exigem mais da ciência, mas também, em muitos momentos, a enxergam como uma atividade negativa”, destacou. “Precisamos organizar programas mais fortes em termos de popularização da ciência e educação para aproximar mais a ciência da sociedade”, propôs.
Já o assessor do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Luiz Eduardo Fonseca, falou sobre as atividades do centro e a saúde no cenário internacional. De acordo com dados apresentados por Fonseca, somente 12% dos cientistas saem do país com o intuito de exercer atividades ligadas a um projeto. A maioria (41%) dos programas da Fundação está centrada no campo da pesquisa e grande parte (41%) dessas colaborações é com países europeus. “Isso mostra como esse programa de ciência translacional e de intercâmbio de cientistas e de conhecimento será importante para nós”, ressaltou.
Citando como exemplos as pesquisas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) acerca do uso da citometria de fluxo (técnica utilizada para contar, examinar e classificar partículas microscópicas) na progressão da distrofia muscular de Duchennee e na co-infecção por HIV e HTLV-1, o diretor do instituto, Wilson Savino, mostrou como a pesquisa básica pode ajudar na elaboração de políticas de saúde. “A geração de conhecimento científico, baseado em estudos bem dimensionados voltados a problemas de saúde específicos, podem mudar as estratégias de políticas de saúde pública”, concluiu.
O setor industrial da Fiocruz: passado, presente e futuro
No terceiro dia do evento, o presidente do Conselho Político e Estratégico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), Akira Homma, lembrou que, no início das atividades da Fundação, no Instituto Soroterápico Federal (1900), todos os profissionais envolvidos na produção estavam ligados à atividade de pesquisa, o que representou um diferencial. Citando fatos históricos como a Revolta da Vacina (1904) e erradicação da febre amarela (1907), o especialista desenhou um panorama do desenvolvimento das políticas públicas de saúde, passando pela criação, em 1976, de Bio-Manguinhos.
Destacando a importância da Fiocruz como instituição estratégica de Estado, o presidente do CPE afirmou que é preciso reduzir a distância entre desenvolvimento e inovação e abrir os olhos para o futuro que se aproxima. “Precisaremos de novas vacinas e produtos biológicos diante do quadro epidemiológico nacional, e isto só será possível com a parceria entre ensino, pesquisa e desenvolvimento”, concluiu. Após a apresentação, os participantes da conferência visitaram o CIPBR (texto: Isabela Pimentel).