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21/06/2005

Fungos isolados de carrapatos têm ação contra mosquitos do dengue e da filariose

Fernanda Marques


Já se sabia que linhagens do fungo Metarhizium anisopliae podem matar carrapatos (principais vetores de doenças depois dos mosquitos) e barbeiros (insetos transmissores do mal de Chagas). Agora, uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) comprova que linhagens desse fungo podem ser úteis também no controle biológico do Aedes aegypti (mosquito vetor do dengue) e do Culex quinquefasciatus (pernilongo comum capaz de transmitir filariose). O estudo é da bióloga Gisela Costa e da química Jacqueline Santos Cruz, do Departamento de Micologia do IOC.


As pesquisadoras estudaram oito linhagens brasileiras de Metarhizium anisopliae. Elas foram isoladas de carrapatos encontrados no solo e em rebanhos bovinos do Estado do Rio de Janeiro. Os fungos foram colocados em um meio de cultura específico, à base de arroz, no qual cresceram até se obter grande quantidade de conídios - estruturas esféricas responsáveis pela reprodução desses microrganismos.


Para cada linhagem de Metarhizium anisopliae, foram preparadas supensões aquosas com três concentrações diferentes: 104, 106 e 108 conídios por mililitro. Foi acrescentado a todas as suspensões um espalhante adesivo - substância que espalha os conídios na água e aumenta sua capacidade de aderir às larvas, facilitando a ação contra elas. As suspensões foram adicionadas a recipientes com água contendo larvas de Aedes aegypti ou de Culex quinquefasciatus. A ação dos conídios contra as larvas foi avaliada em três momentos distintos: 24, 48 e 72 horas após a adição dos fungos.


"Todas as linhagens estudadas apresentaram algum potencial larvicida, mas algumas se destacaram, pois produziram efeito nas menores concentrações e em menos tempo", diz Gisela. Uma linhagem, na concentração de 104 conídios por mililitro, em 48 horas, conseguiu matar 70% das larvas de Aedes aegypti. Outra linhagem, em igual concentração e no mesmo tempo, foi capaz de matar 74% das larvas de Culex quinquefasciatus. "O Metarhizium anisopliae não causa prejuízos às plantas nem à saúde humana. De qualquer forma, não é desejável lançar no meio ambiente uma quantidade enorme do fungo. Por isso, é importante obter o efeito larvicida desejado na concentração mais baixa", explica a bióloga.


O próximo passo é a realização de estudos moleculares. A idéia é confirmar se as linhagens com maior potencial larvicida têm genes de virulência contra os insetos. Um gene de virulência pode, por exemplo, codificar uma enzima que destrói estruturas das larvas. Por fim, planejam-se estudos de campo. "Por enquanto, só fizemos experimentos in vitro, no laboratório", lembra Gisela.


Já estão disponíveis comercialmente dois inseticidas brasileiros à base de fungos. Desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP), eles atuam contra pragas agrícolas. Ainda não existem no mercado produtos que utilizam fungos para o combate a insetos transmissores de doenças humanas.

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