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14/02/2023

G-Stic 2023: especialistas debatem Covid-19 e preparação para crises

Flávia Ribeiro (G-Stic)


Especialistas da Fiocruz e líderes técnicos em Saúde Pública debateram sobre as principais estratégias para preparação de futuras crises no sistema de Saúde no Brasil e no mundo em uma sessão especial durante a 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic 2023), no Rio de Janeiro. Para Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz e coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), a Organização Mundial da Saúde (OMS) deve rever e aperfeiçoar os sistemas de governança para enfrentar futuras pandemias. “A ideia da G-Stic vai além das discussões das plenárias. Nossa intenção é que seja criada uma rede que atue como uma comunidade e possa fomentar a cooperação entre instituições, como a Fundação Rockefeller, que vai impulsionar o desenvolvimento de soluções conjuntas”, destacou.

G-Stic 2023 contou com a plenária 'Estratégias para uma melhor recuperação da Covid-19 e preparação para futuras crises de saúde' nesta segunda-feira (13/2) (foto: Eduardo Napoli / Gopala Filmes)

 

Segundo Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, os desafios no Brasil foram enormes, incluindo questões de logística, compra de insumos e capacidade de produção em escala. “O Brasil tem menos de 10% da população global, mas registrou 30% dos casos de Covid-19. Com vacinas produzidas no Brasil pela Fiocruz e pelo Instituto Butantã, pudemos enfrentar a Covid-19”, comentou. 

Krieger explicou que a Fiocruz atua em diversas frentes desde os estudos científicos até a produção de insumos para vacinas. “No início de 2020, ocorreram os surtos na Itália e – ao mesmo tempo – vimos que iríamos produzir 1 milhão de testes por semana. Atualmente, temos 80 milhões de testes moleculares”, comentou. “Foi um período difícil, pois para enfrentar a pandemia no Brasil a gente precisaria encontrar os insumos no Brasil e não importá-los”, enfatizou. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz lembrou que, em 2021, a Fiocruz conseguiu trazer a produção plena da vacina Covid-19 para o Brasil. 

“O Brasil tem menos de 10% da população global, mas registrou 30% dos casos de Covid-19. Com vacinas produzidas no Brasil pela Fiocruz e pelo Instituto Butantã, pudemos enfrentar a Covid-19”, comentou Marco Krieger (foto: Fiocruz)

 

Vice-presidente executivo sênior da Rockefeller Foundation, Naveen Rao comentou que os mecanismos regionais disponíveis para compra e entrega de insumos não estão em uso. Ele alertou que é necessário fortalecer as redes de engajamento comunitárias, análise de dados em tempo real e meios de financiamento adequados. “Devemos ouvir a comunidade e construir soluções que sejam cocriadas com as comunidades”, enfatizou. “O Brasil tem um sistema de produção de soluções locais e uma rede forte de influência regional com outros países da América Latina”, complementou.

A questão do aprimoramento do sistema de governança foi um ponto de concordância entre todos os painelistas da mesa. Antoni Plasència, diretor-geral do Barcelona Institute of Global Health (ISGlobal), afirmou que um ambiente de confiança é essencial para implementar estratégias de preparação para enfrentar pandemias como a Covid-19. “Desde a confiança nas relações do dia a dia do indivíduo, como nas lideranças governamentais e da saúde pública. Atualmente, com a interdependência estreita e a interconectividade na grande aldeia global em que vivemos, é preciso observar a capacidade de alguns países têm de construir grandes hospitais, como a China fez, e como podemos desenvolver políticas que sejam orientadas para a preparação do gerenciamento dos riscos, os quais envolvem a operação de ameaças sanitárias globais”, destacou Antoni. 

Durante o debate, foi unânime o entendimento de que as tecnologias devem ser utilizadas também para o combate às doenças tropicais negligenciadas no Brasil, utilizando-as para erradicar outras doenças e compartilhando esse conhecimento com as instituições científicas para tratamentos, por exemplo, contra o câncer.  

Conselheira Sênior em Políticas de Saúde, Social e Migração do Centro Europeu de Políticas, Lieve Franzem lembrou que “perder a confiança é muito fácil”. Ela conta que, durante a epidemia, as lideranças mais fortes estavam na África. “Quando falamos em medir o sistema de prontidão em 2019 e 2020, verificamos que os Estados Unidos e a Inglaterra estavam mais preparados, mas as gestões não foram as mais bem-sucedidas”, comenta.  “Minha experiência mostra que devemos trabalhar com os representantes comunitários. São canais importantíssimos para alcançar as comunidades. Na África, 95% das áreas não tinham cobertura de serviços de saúde eficazes, mas com o apoio das lideranças foi possível conscientizar a população”, informou. A especialista explicou que, na Índia, muitas pessoas receberam prêmios da OMS pelos serviços prestados, mas eram lideranças voluntárias e não profissionais de saúde. 

Gadelha destacou que, no Brasil, é necessário pensar em cooperações com a comunidade. “A ideia é que temos que desenvolver juntos a 'ecologia do conhecimento'. Saber como usar o conhecimento dos povos indígenas e tradicionais é essencial”, finalizou.

“A ideia da G-Stic vai além das discussões das plenárias. Nossa intenção é que seja criada uma rede que atue como uma comunidade e possa fomentar a cooperação entre instituições", afirmou Paulo Gadelha (foto: Eduardo Napoli / Gopala Filmes)
 
 

A plenária Estratégias para uma melhor recuperação da Covid-19 e preparação para futuras crises de saúde, que ocorreu nesta segunda-feira (13/2), no Auditório Principal do evento, na Sala Manguinhos, e foi composta por: Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz; Frank Vandenbroucke, Deputy Prime Minister and Minister of Social Affairs and Public Health da Bélgica; Jeremy Farrar, diretor da Wellcome Trust; Naveen Rao, vice-presidente executivo sênior da Rockefeller Foundation; Lieve Fransen, conselheira sênior em Políticas de Saúde, Social e Migração do Centro Europeu de Políticas; e Antoni Plasència, diretor-geral do Barcelona Institute of Global Health (ISGlobal). Como moderador, Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz e coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030).  

A Conferência é organizada pela Fiocruz, juntamente com sete institutos de pesquisa internacionais: Vito (Bélgica), The Scientific and Industrial Research Council (CSIR, África do Sul), Guangzhou Institute for Energy Conversion (Gec, China), Gwangju Institute of Science and Technology, (Gist, Coreia do Sul), National Center for Technology Management (Naceten, Nigeria), Institute of Energy and Resources (Teri, India), e Solutions Network for Sustainable Development of United Nations (SDSN).

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