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31/10/2017

Geografia e saúde são destaques na 'Cadernos' de outubro

Informe Ensp


Está disponível on-line a revista Cadernos de Saúde Pública (CSP) volume 33 número 10, trazendo como destaque o Congresso GeoMed 2017, que vem se consolidando como o principal fórum de apresentação de novos métodos e abordagens voltados para revelar o papel do espaço, da geografia, do local e do ambiente nas questões da saúde pública: visão mais profunda a partir de big data e pequenas áreas. Conforme editorial assinado pelas pesquisadoras Maria de Fátima Pina, da Universidade do Porto, Portugal; e Marilia Sá Carvalho, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), nessa 10ª edição do evento, o número de participantes dobrou em relação ao anterior, atraindo pesquisadores de 28 países, dos cinco continentes, com um grande equilíbrio entre as áreas: 37% da área de estatística, 27% da saúde pública, 25% das geociências e 11% das ciências da computação.

A modelagem estatística, tradicionalmente o ponto mais forte do Congresso, foi repleta de novidades: da análise de sobrevivência espacialmente condicionada, aos modelos espaço-temporais capazes de identificar tendências e aglomerados, tanto no espaço como no tempo, aliás, surtos epidêmicos como diriam os epidemiologistas. Pelo fato da interface geografia/saúde ser antiga, a CSP tem interesse em publicar artigos com questões acerca do papel do ambiente sobre a saúde, sobre como melhorar nossa capacidade de detecção precoce de aglomerados espaço-temporais, sobre onde alocar serviços de saúde, sobre o acesso e a trajetória de pacientes, entre outros. 

Na seção Perspectivas, o pesquisador da Ensp/Fiocruz, Francisco José Roma Paumgartten, aborda A volta dos anorexígenos anfetamínicos: um retrocesso na prática da medicina em evidências no Brasil, cujas análises sistemáticas descobriram que os ensaios clínicos sobre a eficácia e segurança da amfepramona, fenproporex e mazindol apresentaram um projeto de estudo defeituoso e um alto risco de viés, sendo, portanto, inaceitável apoiar a aprovação de marketing. Além disso, os riscos para a saúde associados ao uso a curto e a longo prazo de anorexígenos semelhantes a anfetaminas superam o escasso benefício de causar uma redução de peso corporal clinicamente relevante. Para Paumgartten, o retorno de anorexígenos tipo anfetamina enfraquece a autoridade da agência nacional de regulamentação de drogas. Uma agência respeitada, tecnicamente competente e independente é necessária para enfrentar com sucesso o lobby agressivo do setor regulamentado e tomar as melhores decisões para proteger a saúde dos consumidores.

Além disso, o lobby da Conselho Federal de Medicina (CFM) para aprovar drogas e terapias não apoiadas pela melhor evidência científica disponível é um passo atrasado na prática do EBM no Brasil. O CFM é uma agência pública respeitada que regula a prática da medicina e supervisiona a observância da ética médica. Portanto, o lobby feroz da CFM para uma intervenção terapêutica não suportada pela melhor evidência disponível pode encorajar os médicos a adotar práticas clínicas que estão em desacordo com os princípios do EBM.

Na seção Resenhas, a pesquisadora da Ensp/Fiocruz, Tatiana Wargas de Faria Baptista, trata do livro Médicos Intérpretes do Brasil, organizado por Gilberto Hochman, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz. Segundo ela, há várias formas de se ler um livro. Médicos Intérpretes do Brasil possibilita um brincar com a leitura e diferentes viagens. Uma viagem pelos autores lidos por outros autores, que não só apresentam o médico intérprete, mas também interpretam sua obra, trazendo nuances e questões que parecem fazer mais sentido que o autor sozinho, porque contextualizadas e ressignificadas. Uma viagem pelos autores por eles mesmos, permitindo acessar textos (alguns perdidos nas bibliotecas e poucas vezes lidos) e formas de ler o mundo que hoje nos são estranhas, mas que construíram um sentido para o Brasil e para a saúde no momento em que foram escritos. Uma viagem pela tessitura do livro, pelas escolhas feitas dos intérpretes e dos autores que os comentam, num formato que possibilita refletir sobre o próprio sentido do que é ser um intérprete do Brasil e o que sua obra oferta de ideias.

O livro, acrescenta Tatiana, é apresentado como um mosaico de leituras de 29 médicos, que viveram entre os séculos 19 e 21 no Brasil, e assumiram papel de destaque na história brasileira, homens de ideias, mas também “homens de ação”, com participação ativa na construção do projeto nacional. Pelas mãos dos médicos forjou-se uma política de Estado com legitimidade para intervir nos territórios, adentrar espaços privados e alcançar subjetividades.

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