Em estudo publicado nos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, pesquisadores do Hospital Universitário da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg) acompanharam cerca de 340 gestantes e verificaram que 51,6% apresentaram corrimento vaginal ao longo da gravidez, enquanto a prevalência esperada entre mulheres em idade fértil seria de 30%. Quando associado a uma doença sexualmente transmissível (DST), o corrimento pode levar à prematuridade, ao baixo peso ao nascer e à infecção da ferida pós-cesárea, além de indicar um risco de infecção por HIV até 18 vezes maior.
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As mulheres que usaram anticoncepcional oral antes da gravidez apresentaram menos corrimento |
O trabalho foi realizado na periferia da cidade de Rio Grande, que apresenta alguns dos mais baixos indicadores de saúde do estado, e faz parte de um projeto de intervenção cujo objetivo principal é melhorar a qualidade da assistência à gravidez e ao parto entre gestantes residentes em bairros da localidade. Por meio de visita domiciliar mensal, os pesquisadores aplicaram questionários às gestantes no início da gravidez e até duas semanas após o parto.
Entre as entrevistadas, 96% realizaram pelo menos uma consulta pré-natal e 75% completaram seis ou mais consultas, mas apenas 50% haviam realizado consulta ginecológica no ano anterior ao estudo. Para tornar mais exata a prevalência de corrimento vaginal patológico, escolheu-se aliá-la a algum outro sintoma de DST, porque o corrimento normal aumenta na gravidez mesmo nas mulheres saudáveis.
Os resultados mostraram que a prevalência de corrimento foi maior entre mulheres mais jovens, sem relação conjugal estável, com história prévia de parto prematuro, usuárias de dispositivo intra-uterino (DIU) antes da gestação ou que apresentaram infecção urinária ou alteração de glicemia. Verificou-se, ainda, que as mulheres que usaram anticoncepcional oral antes da gravidez apresentaram menos corrimento.
Segundo o artigo, a alta prevalência de corrimento entre menores de 19 anos – 60, 4% apresentaram o sintoma – pode ser explicada pela menor capacidade imunológica do organismo e pela maior dificuldade de realizar sexo seguro. Já a situação conjugal não estável favorece a busca de novos parceiros, o que facilita a disseminação de DST e aumenta a ocorrência de corrimento.
“O corrimento vaginal é um problema freqüente, com importante repercussão sobre a saúde da mulher”, alerta a ginecologista e obstetra Tânia Maria de Moraes Fonseca, coordenadora do estudo. “Muitos dos fatores de risco podem ser minimizados com educação e prevenção, mas o profissional de saúde também deve estar atento à identificação de gestantes com maior risco de apresentar tal sintoma associado a uma DST e, quando do seu diagnóstico, promover o seu manejo adequado”. Para a pesquisadora, conhecer as características das gestantes mais susceptíveis ao corrimento associado à DST é essencial a para assistência em nível de prevenção primária e de complicações materno-fetais.