O programa Linha Direta, da Rede Globo, exibe na noite desta quinta-feira (20/09) a reconstituição da história do servidor Jorge Careli, que desapareceu em 10 de agosto de 1993, aos 30 anos, ao ser confundido com um seqüestrador por policiais da Divisão Anti-Seqüestro (DAS). Ele tinha saído do trabalho, na Fiocruz, e estava na favela da Varginha, em Manguinhos. Careli falava em um telefone público quando a polícia chegou e o levou. Ele foi retirado da favela e surrado. Careli nunca mais foi visto. Nos dias seguintes os servidores da Fiocruz começaram uma busca por hospitais e uma ampla mobilização para cobrar providências das autoridades. Em homenagem ao funcionário, o Centro Latino-americano de Estudos sobre Violência e Saúde (Claves) da Fundação incorporou o nome dele ao do grupo e a Associação de Servidores (Asfoc) passou a conceder anualmente uma medalha em homenagem a todos que se empenham pela consolidação dos direitos humanos no país. A Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da Fiocruz, que acompanha o caso desde o início, mantém um minucioso dossiê sobre o caso, mais completo que o da polícia.
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Careli: vítima da violência e da brutalidade policiais (Foto: Arquivo CCS) |
Vinte e três policiais foram acusados pelo seqüestro. Todos terminaram absolvidos por falta de provas. Um ano e três meses depois do julgamento, uma presa disse que esteve com Careli na manhã seguinte ao seu sumiço, na carceragem da DAS. A mulher revelou que ele estava muito machucado. Apesar do surgimento de uma nova testemunha, ninguém foi condenado e o corpo de Careli não apareceu. Em 1999, a Justiça condenou o Estado do Rio de Janeiro a pagar uma indenização por danos morais aos pais de Careli.
Para produzir o programa, a TV Globo trouxe cerca de 80 funcionários, entre atores, técnicos e produtores, que passaram um dia inteiro no campus de Manguinhos. O diretor do programa, Roberto Carminati, disse que contar a vida de Careli, e a violência que ele sofreu, foi "uma experiência enriquecedora". Carminati, que era muito jovem na época do desaparecimento, afirmou que a mobilização dos servidores da Fundação contra o arbítrio e os abusos policiais contibuiu para levar a luta pelos direitos humanos a um novo patamar. "A partir desse trágico episódio, e com a reação firme e altiva dos funcionários da Fiocruz, o Brasil passou a não aceitar mais que a violência policial ficasse impune. As pessoas passaram a gritar".
Carminati, que não conhecia o Castelo Mourisco da Fundação, disse que ficou encantado com a construção e com o elevador do prédio, que é o mais antigo do Brasil em funcionamento. Para os telespectadores, o diretor antecipa o final do programa desta quinta-feira. A reconstituição da morte de Careli termina com o servidor dizendo seu nome e onde trabalhava para uma presa. A família e os amigos do jovem ainda buscam resposta para a pergunta que até hoje permanece um mistério: onde está Careli?
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