Idade maior e renda menor aumentam risco de falência do transplante de fígado

Publicado em
Fernanda Marques
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Estudo publicado na edição de janeiro da revista Cadernos de Saúde Pública identificou fatores de risco para falência do transplante de fígado no Rio Grande do Sul. A pesquisa mostra que a taxa de falência é quatro vezes maior entre pacientes com renda familiar mensal inferior a dez salários-mínimos. Nesse aspecto, os resultados diferem dos obtidos em países desenvolvidos, onde as condições socioeconômicas não afetam o desfecho do transplante.


 O fígado doador, após ter sido retirado, é preparado numa mesa auxiliar, sempre mergulhado numa solução de preservação gelada (Foto: Pró-Fígado)

O fígado doador, após ter sido retirado, é preparado numa mesa auxiliar, sempre mergulhado numa solução de preservação gelada (Foto: Pró-Fígado)


“O transplante hepático e os imunossupressores aumentaram, em muito, a sobrevida de portadores de doenças hepáticas crônicas terminais e irreversíveis, mas a falência do transplante ainda é uma preocupação constante”, diz o artigo, assinado por Denise e Laura Sarti de Oliveira, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, e Maria de Lourdes Drachler, da University of East Anglia, na Inglaterra.


Foram estudados documentos da Central de Transplantes e prontuários clínicos relativos a 313 pacientes submetidos, pela primeira vez, a transplante de fígado. Houve 92 casos de falência do transplante, sendo 41 no primeiro mês depois do procedimento, 34 de dois meses a um ano e 17 após esse período. Entre os casos de falência, 81 resultaram em óbito e 11 necessitaram de novo transplante.


A idade, tanto do doador como do receptor, foi um fator associado ao risco de falência do transplante hepático. A taxa de falência dobrava quando o doador tinha mais de 55 anos ou o receptor tinha acima de 45 anos de idade. Além da renda e da idade, as condições clínicas do receptor à época do transplante também interferiram no desfecho do procedimento. Em uma escala conhecida como Child Pugh, pacientes em piores condições, classificados com grau C, apresentaram uma taxa de falência 83% maior que os receptores com graus A e B.


As pesquisadoras também verificaram que, em geral, pacientes com saúde mais debilitada à época do transplante já haviam ingressado na lista de espera pela cirurgia com piores condições clínicas. “Esses resultados sugerem que políticas e programas de transplantes no Brasil invistam no pronto diagnóstico para que os pacientes sejam incluídos na lista ainda em condições satisfatórias”, diz o artigo. O apoio social a pacientes de baixa renda é outra recomendação das pesquisadoras para garantir o sucesso do transplante hepático.


Diferentemente de outras pesquisas semelhantes, o estudo no Rio Grande do Sul não encontrou risco de falência aumentado nos casos de doadores femininos e não-brancos e com óbito devido a acidente vascular cerebral.