Identificados fatores que levam ao uso de drogas entre adolescentes e presidiários

Publicado em
Sarita Coelho
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Pelo menos ¼ da população mundial usa algum tipo de droga, segundo uma pesquisa publicada em Nova York. No Brasil, a motivação para o uso de substâncias ilícitas foi investigada em dois estudos multicêntricos, que contaram com a participação de especialistas da Fiocruz. As pesquisas que abordam fatores associados ao uso de drogas na adolescência e ao uso de cocaína nos presídios foram divulgadas recentemente nos periódicos científicos Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e Ciência e Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), respectivamente.


Para cada ano a mais que se passa na prisão, a chance de usar cocaína aumenta em 13%. A conclusão é de um estudo realizado pela médica Márcia Lazaro de Carvalho, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz (Ensp), em parceria com pesquisadores da mesma unidade, com dados da Secretaria de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Foram selecionados 1.314 indivíduos que cumpriam pena no sistema penitenciário do Rio de Janeiro em 1998. A análise do questionário respondido pelos detentos revelou que o ambiente carcerário, o uso de álcool, de maconha e o tempo de cumprimento de pena são fatores estimulantes para o uso de cocaína na prisão.


Os usuários de cocaína na prisão apresentaram maior freqüência de terem sido jovens infratores, de terem visitado alguém na prisão, de serem reincidentes no crime e de já terem cumprido maior parte da pena. O uso de cocaína na prisão também esteve associado ao uso de outras drogas, como álcool, maconha e tranqüilizantes, ao consumo simultâneo de diferentes substâncias entorpecentes e à história de DST.


Fazendo a cabeça dos adolescentes


De forma geral, os fatores de risco para o uso de drogas estão mais ligados a características individuais dos adolescentes. Alguns estudos sugerem que o cigarro e o álcool funcionam como ponte para um progressivo envolvimento com drogas mais pesadas. Outros mostram que adolescentes que usam com freqüência drogas mais leves (como maconha) não necessariamente irão usar as mais pesadas (como cocaína). Especialistas falam em uma relação de probabilidade e não de causalidade.


Em relação à família, o risco para o adolescente usar drogas está associado, de forma combinada, a fatores como ausência de união entre pais e filhos, envolvimento materno insuficiente, práticas disciplinares inconsistentes e excessiva permissividade, entre outros. Outros fatores citados são a falta de motivação para estudos, o absenteísmo na escola e o mau desempenho escolar. A disponibilidade e a presença de drogas na comunidade de convivência também são vistas como facilitadoras do uso de drogas entre adolescentes.


A pesquisa ainda investigou os fatores de proteção para o uso de drogas. As características individuais consideradas protetoras foram a auto-imagem positiva e capacidade de lidar com problemas de forma ativa. Em geral, adolescentes que têm objetivos definidos e investem no futuro apresentam probabilidade menor de usar droga. No âmbito da família, é importante o apoio dos pais, o monitoramento e o estabelecimento de normas para comportamento sociais, incluindo-se o uso de drogas.


É nesse grupo - o de pessoas de 10 a 19 anos - que as manifestações da violência provocam maior impacto. Adolescentes e jovens são os que mais morrem por conseqüência de agressões e são também os que mais cometem atos de violência. Além do uso de álcool e drogas, outros comportamentos e situações de risco relacionados à violência juvenil são a participação constante em brigas, o porte de armas, o cultivo da masculinidade violenta e a vida em comunidades com alto índice de criminalidade e baixo capital social. Dados de 2004 do Ministério da Justiça mostram que, entre os adolescentes internados no sistema socioeducativo brasileiro, 94% são homens, 76% têm entre 16 e 18 anos, 60% são afrodescendentes, 87% não concluíram o ensino fundamental e 6% são analfabetos, 51% estavam fora da escola quando cometeram o ato de infração e 66% provêem de famílias com renda inferior a dois salários mínimos. O consumo de drogas é alto entre os internos - 86% - e divide-se entre maconha (67,1%), álcool (32,4%), cocaína (31,3%) e inalantes (22,6%).