24/10/2006
Roberta Monteiro
Adolescentes com fibrose cística (FC), doença genética que compromete principalmente o trato digestivo e o aparelho respiratório, já podem contar com mais uma ajuda no tratamento. De forma pioneira no Brasil, foi instalado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), uma unidade da Fiocruz, um programa de treinamento de força para pacientes com idade entre 10 e 17 anos. A novidade faz parte da pesquisa Impacto da atividade física orientada na qualidade de vida de adolescentes com fibrose cística, realizada por uma equipe multidisciplinar, com orientação da nutróloga Célia Chaves, responsável pelo Departamento de Alimentação e Nutrição do IFF.
O estudo tem como objetivo avaliar os efeitos dos exercícios de força e do treinamento aeróbico, a fim de promover a melhora da qualidade de vida dos pacientes. Estudos americanos demonstram que 34% dos adultos com FC possuem osteoporose (perda de massa óssea) e 40% apresentam o quadro de osteopenia, que é a etapa anterior à osteoporose. Segundo a orientadora da pesquisa, essas complicações podem ser amenizadas, caso haja acompanhamento especializado durante a infância e a adolescência. “Os exercícios aeróbicos aumentam a aptidão física e, conseqüentemente, a predisposição para as atividades cotidianas. Além disso, o treinamento de força muscular pode aumentar a massa corporal magra e elevar a força da musculatura respiratória”, destaca o professor de educação física Cristiano Oliveira.
O IFF é considerado um dos principais centros de referência no tratamento da fibrose cística no Estado do Rio de Janeiro e acompanha cerca de 120 crianças e adolescentes portadores da doença, que recebem tratamento e assistência multidisciplinar. De acordo com Oliveira, cerca de 90% da estrutura óssea é estruturada antes dos 18 anos de idade, o que torna interessante incluir no tratamento a prática do exercício físico regular desde a infância. “O exercício físico associado à alimentação adequada ajuda na formação do tecido que, caso apresente problemas no processo de crescimento, dificilmente será recuperado na fase adulta”, afirma o professor.
Embora a doença ainda não tenha cura, o tratamento precoce em centro de referência e o acesso aos medicamentos e recursos laboratoriais podem fazer toda a diferença no prognóstico e na qualidade de vida. “Com o programa de treinamento físico a expectativa da equipe é que haja um aumento significativo da massa magra, e com isso aumente e melhore a força e a resistência física dos adolescentes, já que a doença atinge o quadro nutricional e pulmonar”, esclarece Oliveira.