Um convênio firmado entre o Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp), unidades da Fiocruz, com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro revelou que as drogas de abuso estão presentes em cerca de 40% dos casos de mortes por intoxicação. A análise foi feita a partir de 12 mil laudos do Instituto Médico Legal (IML) e o resultado é uma base de dados disponível no Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, o Sinitox. De acordo com a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, a parceria é uma iniciativa inédita no Brasil. “A divulgação desses dados amplia o acesso a informações que nos ajudam a compreender a realidade do estado”, afirma a pesquisadora.
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Agente de trânsito do Distrito Federal testa aparelho de bafômetro para medir o nível de álcool no sangue (Foto: Gervásio Baptista/ABr) |
A análise demonstrou que o álcool causa nove vezes mais mortes de homens que de mulheres, estando principalmente ligadas aos acidentes de trânsito. A desigualdade entre gêneros também se repete nas demais substâncias tóxicas (maconha, cocaína, anfetaminas, medicamentos e agrotóxicos). Enquanto 3.290 exames mostraram a presença de alguma substância tóxica em homens, apenas 822 detectaram a ação desses produtos em mulheres. As pessoas entre 30 e 39 anos são as maiores vítimas das drogas de abuso (15,5%).
A Região Metropolitana apresenta os maiores registros. Somente o Município do Rio de Janeiro responde por quase 70% das ocorrências no estado. Os dados apresentados pelo Sinitox correspondem ao período de 1998 a 2003. No entanto, para os pesquisadores envolvidos no projeto ainda é preciso avançar em alguns obstáculos para aumentar o mapeamento dos casos. Segundo Sérgio Rabello Alves, pesquisador do IML e do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), da Ensp, muitos casos de óbito por intoxicação não constam no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, pois é freqüente a liberação de laudos provisórios, que nem sempre são atualizados na base de dados do SIM, após o término da investigação.
De acordo com Jefferson Oliveira Silva, que também é pesquisador da Ensp e coordenador do Centro de Estudos do Departamento de Polícia Técnico Científica da Polícia Civil, a parceria entre as instituições representa a evolução dos setores de segurança e saúde no estado. “Essa iniciativa só foi possível porque hoje há um entendimento que os dados de segurança pública também são importantes para a saúde pública. É necessário ter uma integração maior entre esses dois campos”, comenta.
O IML é responsável pelo exame de pessoas envolvidas em casos de violência, como lesão corporal e acidente de trânsito; e de dependência química. Sendo as delegacias da Polícia Civil, responsáveis pelo encaminhamento dos indivíduos. Os dados sobre intoxicação registrados no IML podem ser acessados no site do Sinitox.