09/07/2021
Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
A nova edição do Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgada nesta sexta-feira (9/7), apresenta um cenário de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) bastante semelhante ao da edição anterior (2/7). E traz uma boa notícia: se na semana passada havia apenas um estado (o Mato Grosso) com sinal de crescimento de casos da doença, agora nenhuma unidade da Federação se encontra nessa posição. Apesar disso, o número de casos graves em indivíduos com menos de 60 anos, de acordo com o pesquisador Marcelo Gomes, é motivo de preocupação. Os dados são relativos à Semana Epidemiológica (SE) 26, de 27 de junho a 3 de julho.
Segundo Gomes, a faixas etárias de 60 a 69 anos, 70 a 79 e acima de 80 voltaram ao patamar de outubro de 2020, enquanto os demais segmentos seguem bem acima, sendo superiores aos picos do ano passado, segurando a incidência na população em geral nesse patamar. Em relação aos mais velhos, os dados apontam que a vacinação dessas pessoas vem fazendo o efeito esperado, de diminuir o número relativo de casos graves.
De acordo com o Boletim, nenhuma das 27 unidades federativas apresenta sinal de crescimento na tendência de longo prazo até a SE 26. E, entre elas, 17 apresentam sinal de queda na tendência de longo prazo. Os estados do Espírito Santo, Sergipe e Paraíba apresentam sinal moderado de crescimento na tendência de curto prazo, sendo que os dois primeiros apresentam sinal de estabilidade na tendência de longo prazo. Verifica-se ainda sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo no Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Rio de Janeiro e Rondônia.
Gomes, no entanto, ressalta que “embora os sinais de tendência sejam positivos, os valores semanais continuam elevados, como apresentado pelo indicador de transmissão comunitária, o que evidencia a necessidade de manutenção de medidas de mitigação da transmissão. Todos os estados apresentam macrorregiões em nível alto ou superior, sendo que 16 deles e o Distrito Federal mostram macrorregiões em nível extremamente elevado”.
Em função desse cenário, o pesquisador alerta que é fundamental manter a recomendação da cautela em relação à medidas de flexibilização das recomendações de distanciamento para redução da transmissão da Covid-19 enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que o número de novos casos atinja valores significativamente baixos. Ele também chama a atenção para “a necessidade de reavaliação das flexibilizações já implementadas nos estados com sinal de retomada do crescimento ou estabilização ainda em patamares elevados”.
A nova edição do Boletim mostra que apenas uma das 27 capitais apresenta sinal de crescimento na tendência de longo prazo até a SE 26: Porto Alegre. Em 16 capitais há sinal de queda na tendência de longo prazo. A capital gaúcha tem sinal moderado de crescimento na tendência de longo prazo e de estabilidade na de curto prazo. Em Florianópolis e João Pessoa observa-se sinal forte e moderado de crescimento na tendência de curto prazo, respectivamente, mas ambas com sinal de estabilidade na de longo prazo.
Sete capitais apresentam sinal de estabilização nas tendências de longo e curto prazo, indicando interrupção da tendência de queda ou manutenção de platô: Plano Piloto de Brasília e arredores, Cuiabá, Macapá, Manaus, Porto Velho, Rio de Janeiro e Vitória. Todas as capitais encontram-se em macrorregiões de saúde com nível alto ou superior. Das 27 capitais, 5 integram macrorregiões de saúde em nível alto (Belém, Boa Vista, Cuiabá, Palmas e Rio Branco), 10 em nível muito alto (Florianópolis, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Velho, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e Vitória) e 12 em nível extremamente alto (Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Goiânia, João Pessoa, Macapá, Maceió, Porto Alegre, São Paulo e Teresina).
Em 6 dos 27 estados há pelo menos uma macrorregião de saúde com sinal de crescimento nas tendências de longo ou curto prazo: Amazonas no Norte; Maranhão no Nordeste; Espírito Santo e Minas Gerais no Sudeste; Mato Grosso no Centro-Oeste; e Santa Catarina no Sul. Nos demais 19 estados e no Distrito Federal observa-se tendência de longo e curto prazos com sinal de queda ou estabilização em todas as respectivas macrorregiões.
O Boletim também aponta para um aumento no número de casos confirmados de vírus sincicial respiratório (VSR), registrando valores acima de 200 novos casos semanais entre as semanas 7 a 19 de 2021 (14/2 a 15/5), atingindo 404 casos confirmados referentes à SE 11. Esse aumento encontra-se presente em todas as regiões do pais, sendo que Sul, Sudeste, e Centro-Oeste são as que apresentam a maior incidência acumulada até o momento.
“Como sabemos que nem todas as unidades da Federação estão conseguindo manter a testagem do painel de vírus respiratórios para todos os casos negativos para Sars-CoV-2, é importante esse alerta para todo o país. O aumento de casos confirmados de VSR pode estar associado ao relaxamento em relação às medidas de distanciamento que também levou ao aumento explosivo nos casos de Covid-19. Para os casos de SRAG em crianças pequenas sem diagnóstico positivo para Covid-19, o VSR acaba sendo o suspeito natural nesse contexto”, destaca Gomes.